(foto: tatui.sp.gov.br)
  
Hoje é o dia em que as caixas de e-mail e os perfis das redes sociais de todas as mulheres do mundo amanheceram cheias de felicitações.
 
Algumas moças ainda mais sortudas devem ter acordado com café da manhã na cama, flores e presentes – se algum homem tentar se justificar dizendo que não providenciou nada porque esqueceu, vai se demonstrar um grande alienado – afinal, a mídia tratou de fazer de tudo para lembrá-los com propagandas e banners. O primeiro esquecimento notável foi o do Google, que nem mudou sua fonte para mostrar que lembrou da data. Além disso, o tema Dia Internacional da Mulher demorou a figurar entre os assuntos mais citados do Twitter. Não tem problema. Naturalmente, pela manhã os internautas ainda falavam sobre a festa do Oscar. Mas, afinal, por que discutiríamos sobre o Dia da Mulher? O que mais esse gênero da sociedade quer?
 
Muita coisa mudou desde 1857, quando 129 trabalhadoras foram queimadas pela polícia de Nova York, que reprimia uma manifestação em prol da redução na jornada e da licença maternidade. Hoje, mesmo que alguns ainda torçam o nariz, há uma legislação para defender a posição feminina seja onde a mulher queira se colocar – desde uma pedreira até presidente.
 
Toda mulher gosta e espera sempre um dia recebê-las,
pois inspiram paz e serenidade, o que traduz
a verdadeira alma feminina
(foto: marilu- marilou.com.br)
 
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados hoje (8) sobre a situação da mulher no mercado de trabalho (Mulher e trabalho: avanços e continuidades) corporificam a melhora do cenário de forma geral, embora aponte também uma série de fatores culturais que ainda devem ser acertados.
 
Algumas das profissionais de maior destaque no trade comentam sobre sua própria história e suas impressões a respeito do todo. Entre elas estão Jeanine Pires, presidente da Embratur; Fanny Cutrale, diretora comercial da InterCity; Viviânne Martins, presidente da ABGev; Emília Salvador, presidente da Bahiatursa; Ana Maria Biselli, diretora executiva do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb) e Myrna Aquiléia Côrrea Homem de Carvalho, presidente da Abeoc Nacional.
 
*Por Aline Costa e Juliana Albino
 
O primeiro ponto abordado pelo comunicado do Ipea, é a questão da desigualdade na divisão do trabalho – a mulher normalmente acumula funções domésticas à sua profissão. Em 2001, a porcentagem de homens que declarou realizar trabalhos domésticos era de 42,6%, número que subiu pouco até 2008, chegando a 45,3. Para as mulheres, o índice caiu de 89,6 para 86,3%.
 
No trade, notamos pelo menos uma exceção a essa regra. "Meu marido é que faz dupla jornada", declara de forma bem humorada Jeanine Pires, presidente da Embratur. "Só consigo dar conta do meu trabalho porque tenho apoio total e real dele, que cuida da nossa casa em Maceió enquanto fico durante a semana em Brasília ou viajando", conta.
 
Jeanine Pires
(foto: divulgação/ Cesar Ogata) 
 
Jeanine destaca a importância do companheiro na divisão das tarefas e considera essa inversão uma transformação positiva. "Assim como os homens sempre puderam contar com as mulheres para desenvolver suas carreiras, hoje essa situação pode se inverter e o marido assumir a posição de apoio".
 
Mesmo quando a mulher consegue se inserir no mercado de trabalho, ela tende a ganhar menos que os homens. Essa realidade vem mudando e pode não ser encontrada em todos os segmentos, mas o Ipea mostra que em 2002 elas recebiam 62,6% da renda deles, número que subiu para 65,5% em 2009.
 
Parte do texto da pesquisa faz referência ao "teto de vidro", caracterizado pela segregação hierárquica que resulta na baixa representatividade das mulheres em cargos de comando mesmo com capacidade produtiva igual a de seus pares masculinos.
 
"No início da minha carreira, em 1985, cheguei a presenciar uma situação na qual uma colaboradora extremamente qualificada de uma rede desejava trabalhar em uma unidade do exterior, mas perdeu a vaga para um colega homem que nem tinha tantos predicados", lembra Fanny Cutrale, diretora comercial da InterCity. "A mulher tinha mais cargos de 'fachada', para a 'bonitinha' ficar a vista, e menos cargos estratégicos". 
 
Fanny Cutrale com a sua equipe de trabalho,
que mescla muito com a presença masculina
(foto: divulgação) 
 
De qualquer forma, Fanny observa um cenário mais positivo agora. "Atualmente percebo até mesmo entre meus clientes que hoje há muito mais gestoras mulheres. Foi uma mudança agressiva e rápida. Antes a única mulher de destaque no cenário mundial era a rainha Elizabeth. Hoje, temos várias", completa.
 
Viviânne Martins, presidente da ABGev compartilha da opinião de Fanny, e completa dizendo que "hoje os homens são mais gentis, e além de reconhecerem que o mercado está mais feminino, ainda comemoram essa mistura do Yin e Yang, que traz equilíbrio".
 
Vantagens
A capacidade de fazer diversas atividades ao mesmo tempo foi a qualidade feminina ressaltada por todas as nossas entrevistadas e apontada como o principal fator de ascenção da mulher no mercado de trabalho.
 
"Como dizem por aí, a mulher consegue assobiar e chupar cana", brinca Fanny. "Não tenho nenhum preconceito, mas quando vou selecionar novos colaboradores para minha equipe, são as mulheres que acabam ficando com as vagas".
 
Viviânne Martins, em dos seus discursos 
(foto: arquivo HN)
 
Jeanine acrescenta que "o mercado exige habilidades que nas mulheres são mais ajustadas, como criatividade e visão mais angular. Isso é importante para conseguir lidar com conflitos, aglutinações e crises". De qualquer forma, ela destaca que mesmo assim o esforço feminino para se destacar pode ser maior. "O preconceito é sempre muito sutil, o trato com os homens pode exigir maiores cuidados e perpiscácia", declara.
 
A presidente da Embratur ainda faz as seguintes comparações: se uma mulher chora, é considerada fraca. Já o homem, sensível. Se toma uma decisão, é controladora; enquanto o homem, decidido. E se um homem mais flexível pode ser elogiado por saber trabalhar em equipe, a mulher é considerada sem opinião.
 
Contudo, o dinamismo no trabalho deve se estender a vida pessoal. "Faço exercícios físicos todos os dias e não trabalho aos finais de semana. Preciso desse tempo para revigorar as energias e conseguir dar conta de tudo", conta Jeanine.
 
Histórias que motivam
Abaixo, você poderá acompanhar alguns depoimentos de mulheres que são destaques no segmento turístico, e que mostram o potencial do sexo feminino na sociedade atual. 
 
(foto: vilamulher.com.br)
 
Luta e perseverança: marcas dessa mulher 
A presidente da Bahiatursa, Emília Salvador, que foi a primeira mulher a ocupar um cargo de tamanha relevância na entidade, fala sobre o cenário da mulher atual e destaca as inúmeras lutas ao longo da sua carreira.
 
Emília, já teve passagens por movimentos feministas da Bahia como o Brasil Mulher, e desde a sua atuação no turismo tem se destacado em cargos de direção, como a primeira mulher a presidir a Associação Brasileira das Agências de Viagens da Bahia (Abav-BA), primeira presidente da Empresa de Turismo da Bahia (Emtursa) entre outros cargos de destaque. 
 
Em seu escritório na sede da Bahiatursa. Os diversos
documentos que fazem parte da rotina desta mulher
(foto: divulgação/João Ramos) 
 
Emília alerta que nos cargos diretivos a mulher ainda precisa conquistar seu espaço. "Quando ingressei no turismo, aproximadamente 20 anos atrás, participei de uma pesquisa na Abav-BA, que apontava que a mulher ganhava razoavelmente menos que os homens, e mesmo nos dias atuais tenho percebido que esse percentual não tem mudado". Ela aponta que nos últimos 100 anos de luta e persistência, a mulher ainda precisa ter direitos iguais em alguns quesitos primordiais.
 
"Alguns fatos históricos de tamanha relevância como a conquista do voto como um ser pensante; um dia especial para nós; advento da pílula contraceptiva; destaque à libertação das mulheres negras e homossexuais, são fatores que provocaram uma mudança relevante em todas as esferas da sociedade em prol do nosso sexo. O que aprendo todos os dias como lição é que: nós viemos, e não viemos a passeio, viemos de verdade, e acho que a mulher tem se mostrado tão competente e responsável quanto os homens", destaca Emília.
 
Yuushi no Jousei – Mulher de coragem

"Admiro e aplaudo as mulheres da nossa indústria porque são profissionais com forte sentimento de fazer acontecer, de contribuir para o crescimento e aperfeiçoamento do setor. É muito gostoso sentir o entusiasmo, prazer e brio com que falam do seu trabalho!", a frase é de Chieko Aoki, presidente do conselho da Blue Tree Hotels.
Uma presença marcante na hotelaria nacional. Assim é definida a  Sra. Aoki, um sinônimo de garra e perserverança em seu ideais. Segundo ela, a presença feminina nos negócios vem crescendo e é uma tendência global. "O setor do turismo, no Brasil, sempre esteve na vanguarda, com muitas mulheres atuando fortemente no setor, há décadas. Existem profissionais mulheres admiráveis com quem tenho aprendido e quem têm também me apoiado e ajudado nas dificuldades. Acredito que, qualquer que seja o cargo que ocupamos na empresa e, sejam homens ou mulheres, o espírito de responsabilidade, paixão em dar o nosso melhor e em atingir os resultados devem ser alguns dos sentimentos mais fortes que compartilhamos e que nos impulsionam. A maior relevância, que vale atentar sobre as mulheres é que, em pesquisa feita há cerca de dois anos, foi identificado que 92% dos pacotes turísticos, 88% dos planos de saúde, 65% de vinhos, por exemplo, eram comprados pelas mulheres. Agora, estes percentuais devem ter aumentado”.
 
Chieko Aoki
(foto: arquivo HN)
Ela destaca que as mulheres vem quebrando paradigmas nas relações interpessoais. "Penso que, no início da carreira, realmente existiu algum tipo de preconceito mas, ponderando hoje, acredito que a arrogância da juventude também ajudou o preconceito. Certo tipo de prevenção existia também nas mulheres com relação aos homens, porque tudo era 'clube do bolinha'. Como os homens brasileiros são muito cavalheiros nunca tive dificuldades, ao contrário, procuravam me ajudar colocando-me à vontade. Porém, tive dificuldades com executivos japoneses que não gostavam de ouvir opiniões de mulheres. Assim, quando queria opinar, contava a minha ideia para um colega homem que estivesse próximo e o influenciava a adotar a ideia que era aplaudida, quando apresentada por este colega. A vida ensina-nos a encontrar caminhos ou brechas para alcançar o que queremos”.
"As mulheres acreditam cada vez mais que o trabalho é parte essencial de suas vidas e que realização profissional é sentimento universal. Desta forma, estão sim mais pró-ativas na conquista desta satisfação, que as fazem brilhar nas empresas ou nos seus negócios. É uma satisfação indescritível ver como as mulheres são dedicadas, criativas, sensíveis e companheiras no trabalho, e que elas não buscam ocupar o lugar dos homens, mas sim colaborar e complementar. Com esta postura, as mulheres, apesar de estarem há menos tempo do que os homens no mercado de trabalho, já ocupam praticamente 50% dos níveis gerenciais das empresas, apesar das interrupções com a gravidez e mudanças acompanhando os maridos. Esta mudança poderá influenciar o mercado, tanto sob aspecto de produto como de estilo de vida. Além disso, as mulheres conhecem bem as exigências das mulheres e isso ajuda a criar, produzir e vender melhor e mais, criando assim um círculo virtuoso que impulsiona a mulher a crescer e assumir posições de liderança no mercado".
Uma pausa para um conselho: "se pudesse voltar no tempo, acredito que faria algumas coisas melhor, como ter ouvido mais as minhas intuições e ousado em fazer vários outros negócios que deixei de fazer por achar que não conseguiria ter sucesso fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Hoje, vejo que as mulheres, em geral, fazem várias coisas simultaneamente, e se saem bem, sendo esta característica parte de sua natureza. Pena que não ouvi a voz do coração, mas só o da razão. Que as mulheres usem e abusem da sua razão, sensibilidade e emoção! Fazem parte da natureza humana", finaliza.
 
Uma geração diferenciada no cenário turístico
Ana Maria Biselli, diretora executiva do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), destaca que em sua trajetória profissional tem percebido que as mulheres estão sendo tratadas de forma igualitária nos tempos atuais. "Venho de uma geração em que as mulheres sempre foram condicionadas a atuar de forma pró-ativa e independente. Acredito que hoje, estamos desempenhando diversos papéis e estimulando muito mais uma as outras a conquistar na sociedade um lugar de destaque, como já vem acontecendo com diversas mulheres no segmento do turismo", diz.  
 
Ana Maria Biselli
(foto: divulgação)
Ana, ainda acrescenta que estar à frente da direção de uma entidade de tamanha relevância no mercado é algo marcante, e que até o momento mesmo em relação ao sexo masculino só tem encontrado reciprocidade. "Desde que assumi a função no Fohb tenho sido bem tratada tanto por homens, quanto por mulheres. Acredito que essa diferença que foi estipulada desde os tempos remotos, nos dias de hoje tem sofrido mudanças expressivas e relevantes, uma vez a 'mulher do século 21', têm conquistado a confiança do sexo oposto, com a sua forma de atuação, seriedade no trabalho, persistência e responsabilidade, qualidades de todo ser humano independente do sexo".
  
Pedimos que Ana nos deixasse uma mensagem, e ela foi enfática em dizer, "devemos nos orgulhar de ser mulher, sem medo de crescer profissionalmente, pois todo crescimento conquistado foi através de muita luta. A troca de experiências seja com homens ou mulheres são sempre valiosas, o que precisamos é valorizar as pessoas a nossa volta independente do seu sexo ou cargo hierárquico", finaliza Ana. 
 
Na comissão de frente dos organizadores de eventos
Myrna Aquiléia Côrrea Homem de Carvalho, mais conhecida como Aquiléia, a presidente da Abeoc Nacional, nasceu na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul, e atualmente reside no Rio de Janeiro, onde já recebeu o título de Cidadã Carioca.
 
A representante dos organizadores de eventos do país, já teve passagens em cargos de destaque na própria entidade como ex-presidente da Abeoc-RJ, integrou como membro do conselho da Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo (ABBTUR) e atualmente ocupa a presidência nacional da Abeoc.
 
"É uma satisfação e uma grande responsabilidade estar à frente da Abeoc. Acredito que a participação associativa valoriza o nosso capital social acrescenta experiências, amplia nossos conhecimentos, nos faz participar do coletivo e valoriza o nosso viver. Sinceramente não tive nenhuma experiência de preconceito, pelo contrário sempre fui muito bem acolhida. O que ainda me causa surpresa é um setor produtivo, com destacada participação de mulheres na força de trabalho, ter a maioria de suas lideranças do gênero masculino. As reuniões nas quais eu era a única presença feminina me faziam pensar "onde estão as minhas companheiras", diz.
 
Aquiléia Côrrea Homem de Carvalho
(foto: divulgação)
Segundo a presidente, no cenário atual a mulher está gahando cada vez mais espaço. "A mulher está cada vez mais pró-ativa no mundo atual. Ela quer participar desta sociedade do conhecimento de maneira inteligente e criativa e assim chegar aos espaços abertos para sua atuação". Ela destaca que a essência é "Reservar um tempo para cuidar de si mesma é importante para a satisfação pessoal. Uma reunião ou um almoço de família, uma viagem com os filhos e netos são momentos que vão marcar a nossa história".
 
E mais um recado: "Mulheres. Aproveitem as oportunidades de aprendizado permanente, participem de organizações, convivam com as diferenças de opiniões, saibam viver as pequenas e as grandes oportunidades que a vida oferece e não esqueçam o meio ambiente e a sustentabilidade. Vamos todas ser agentes ativos na construção de um mundo melhor", finaliza Aquiléia. 
 
 
Entregamos esta rosa a todos que nos
homenagearam nesta semana tão especial
(foto: abbrhpb.com.br)
 
Agradecimentos
Com exceção do Peter Kutuchian, nosso publisher, a equipe do Hôtelier News é toda composta por mulheres que agradecem as felicitações enviadas por:
 
– Bergson Executive Flat 
– Bourbon Alphaville
– Dall'Onder
– Embratur
– Grupo Pestana
– Harbor
– Hotel Matiz
– João Pessoa Convention & Visitors Bureau
– L'Hotelier Consultoria
– Pousada Colonial
– Rio do Rastro Eco Resort
– Rede Bourbon
– Sol Meliá
– Santos & Região Convention Bureau
 
Serviço