Rio de Janeiro é um dos destinos do País que tem
tarifas hoteleiras mais elevadas
(imagem: pt.wikipedia.org)

As proezas mais ilustres perdem o brilho se não forem cunhadas em palavras. É como se letras, quando impressas, tornassem-se mais reais que as coisas. Deste aforisma, vale o grafado na última semana no Diário Oficial, quando da determinação de o Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) tocar a PPH (Pesquisa Internacional de Preços da Hotelaria), cunhada pelo próprio órgão para traçar um levantamento da média tarifária de hotéis em dez cidades brasileiras e compará-lo com dez cidades no exterior, nas vertentes do turismo de lazer e de negócios. Está escrito, mas ainda é cedo para dizer se ganhará corpo ou não tal projeto.

Neste contexto, parece longe de ser simples coincidência o fato de, após os muitos percalços da Rio+20 quanto à elevação das tarifas hoteleiras durante o evento, a empresa de promoção turística do País tome uma medida para, em tese, regulamentar o mercado no que tange ao mal-estar dos preços. O Embratur, como apurou o Hôtelier News, assume o problema ocorrido durante a Conferência, todavia sinaliza que isto apenas estourou na ocasião – e que o Brasil com cara de destino caro já havia se consolidado.

O Instituto Brasileiro de turismo não tem articulação para regulamentar o que se cobra em termos de diária média no Brasil, mas com esse estudo disponível as comparações serão inevitáveis e algo pode ser feito quanto às melhorias. O ar de culpa – leia-se a pressão e as especulações levantadas durante a conferência de sustentabilidade – parece ter recaído sobre alguém.

“Para que isso tenha efeitos positivos para o turismo [leia-se os mundiais esportivos], a longo prazo, precisamos assegurar a atratividade e manutenção do País como um destino competitivo também em termos financeiros no cenário mundial”, sublinhou Flávio Dino, presidente do instituto, com baliza no jargão Copa do Mundo e Olimpíadas e a pseudovisibilidade que isto trará ao Brasil.

Deixemos as especulações à parte. Não se sabe o se fará com tais dados por alto. O adiantado é que o material será apresentado semestralmente durante um fórum que deve reunir entidades do setor. Se o instituto terá braço para frear preços e colocar a hotelaria sob rédea curta, pouco se tem certeza.

O caminho, portanto, é tortuoso – mas positivamente pode trazer outras coisas à mesa. Tendo base em diárias de hotéis de outros destinos, poderá ser questionado, por exemplo, o fato de muitos países terem poder de barganha e tarifas menores devido a incentivos fiscais e leis trabalhistas mais brandas.

Caso este, sublinhe-se, que os resorts brasileiros sofrem quando comparados aos do Caribe – uma vez que o país tem normas de contratação e um custo muito mais flexíveis e que reverberam positivamente no preço praticado. A estimativa do setor é que as tarifas cobradas no Brasil neste segmento ultrapassem em 30% às de destinos caribenhos, e o resultado é um entrave e um clichê: o turista doméstico debanda para outros locais e os resorts nacionais perdem competitividade e amargam ocupações abaixo do que a sobrevivência os permite.

Não é de hoje que as próprias entidades hoteleiras reclamam disso. Ainda assim, pouco foi feito para embasar tais números em dados reais. Sem paralelos díspares, é de se mencionar que também na semana última, quando da reunião da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação) com o Ministério de Minas e Energia para tratar a redução da tarifa energética cobrada dos meios de hospedagem, Edson Lobão, representante da pasta, afirmou que este é o primeiro pleito hoteleiro que chega a ele. Sintoma de que falta corporativismo para desemperrar certos entraves.

Por alto, há um espectro de amadurecimento nos fatos de o setor privado bater à porta do Estado e de se instaurar a PPH. Resta conferir se não se tratam apenas de ações para ganhar os holofotes da indústria hoteleira – que ficarão apenas impressas no discurso.