O que hoteleiros pensam do turismo em Manaus?
10 de dezembro de 2007
Imagem de satélite da área de Manaus
(foto: gobrasil.net)
Para saber o que a hotelaria manauara pensa deste assunto, conversamos com Ronaldo Grapiglia, gerente geral do Novotel Manaus, Karla Lopes, gerente do Comfort Hotel e Adriana Papa, diretora executiva do Amazonas Convention.
Por Karina Miotto
Grapiglia: Atualmente atrai muito pouco. A maior demanda é de viagens a negócios ou eventos. Quando a lazer, o turista passa apenas um dia ou menos em Manaus, pois vai para a selva. Temos tido alguns bons esforços do Convention Bureau para atrair o turismo de eventos.
Ronaldo Grapiglia
(foto: Karina Miotto)
Karla: O turismo em Manaus ainda é muito “business” devido às grandes empresas que aqui estão. O turismo a lazer está muito mais voltado aos estrangeiros.
HN: O que pode ser feito pela cidade para torná-la mais atrativa?Grapiglia: O produto “Turismo Amazonas” não é somente o Rio Negro e a floresta. Temos à nossa disposição ingredientes para desenvolver a melhor culinária do mundo com produtos exóticos e desejados: temperos, peixes, sabores e aromas únicos. Em vários locais do Brasil temos spas de vinho, chocolate. Por que não temos nada parecido aqui na Amazônia? Isso sem falar no melhor aproveitamento de nossas plantas para tratamentos estéticos e de beleza.
Isto associado ao maior rio de água doce não poluída do mundo e ao nome mágico Amazônia tem muito potencial. Talvez fosse interessante criar incentivos semelhantes aos do Pólo Industrial para captação e implantação destes centros, spas e clínicas.
Karla Lopes
(foto: arquivo pessoal)
Karla: Para tornar Manaus mais atrativa é preciso divulgá-la nos grandes centros do país como um destino com atrações exóticas e inesquecíveis, melhorar a infra-estrutura da cidade para a recepção dos turistas e, principalmente, conscientizar as pessoas que lidam com prestação de serviços para a importância do turista brasileiro na economia da cidade.
Adriana: Temos festival de ópera, de cinema, de jazz – será que não poderíamos pensar em mais atividades neste sentido para atrair mais turistas?
HN: Quais atividades turísticas você tem no hotel que gerencia?Grapiglia: Temos uma das maiores agências de viagens da cidade dentro do Novotel, que opera um dos principais passeios de quem vem à Amazônia: “O encontro das águas”. Nossa equipe também sugere city tours, passeios a Presidente Figueredo, locação de barcos para grupos fechados, transfer para o teatro. Porém, de tudo isso, o Encontro das águas é o mais solicitado, com uma média de 30 a 40 turistas todos os finais de semana.
HN: Seus hóspedes executivos normalmente passam o fim de semana na cidade?
Grapiglia: Quando pode, ele fica no final de semana. Quem vem a Manaus tem uma enorme curiosidade em “viver” esta experiência, mesmo que não vá para a selva. O hóspede aprecia conhecer os peixes, caminhar na área do centro, visitar o teatro, fazer pequenas compras. Porém, é comum a sugestão de mais passeios aos domingos. Neste dia da semana, poucas atrações funcionam e falta uma área gastronômica para explorar melhor a culinária local – muitas pessoas questionam se em Manaus não “cabe” uma área parecida com as docas de Belém ou o Mercado Municipal de São Paulo.
Karla: Normalmente é bem difícil convencê-los a passar o fim de semana em Manaus.
HN: O que, em Manaus, pode servir como um belo atrativo para atrair pessoas vindas a turismo?
Grapiglia: Em minha opinião, um dos maiores atrativos a serem explorados em Manaus é a diversidade gastronômica e a cultura local. Falta criar um circuito onde isto possa ser explorado de forma organizada e integrada entre a cidade e os turistas. Temos atrações culturais e históricas muito fortes e ingredientes para fazer umas das melhores culinárias do mundo.
Além disto, temos o Rio Negro, só que falta segmentar melhor a oferta de passeios. Temos a mesma oferta de passeios há 20, 30 anos. Não se criou nada de novo. Ainda no Rio Negro, temos um enorme potencial para esportes e atividades aquáticas e esportes radicais, além de cruzeiros de luxo pela Amazônia.
Por fim, não podemos nos esquecer de criar o marketing e uma consciência ambiental. É nossa obrigação sermos uma cidade de modelo ambiental que preserva não só o rio e a floresta, mas todo o seu entorno, onde vivemos e recebemos o turista. Bons passos para isto estão sendo dados nos últimos anos: o projeto Prosamin, a criação de novos parques e a restauração dos existentes serão grandes alavancas.
Karla: Se puder citar três opções de passeios para tornar Manaus uma cidade mais atrativa não somente ao público de negócios, mas também aos que pensam em conhecer na cidade por motivos de lazer, sugeriria o seguinte: conheçam as praias do interior, as cachoeiras de Presidente Figueiredo (que fica a mais ou menos uma hora e meia de Manaus) e passeiem de barco pelos rios.
HN: O que prejudica o avanço do turismo na cidade de Manaus? Karla: Sem dúvida alguma, como fatores preponderantes, cito a falta de infra-estrutura na cidade e a prestação de serviço despreparada para receber devidamente os turistas.
Grapiglia: Criamos poucas novidades ao longo destes 20,30 anos. Continuamos com os mesmos passeios no rio, a visita ao teatro, a hospedagem em hotéis de selva. Uma das poucas novidades fora do tradicional é o navio de luxo da Iberostar. Sem novidades não se cria desejo.
O ideal é mantermos estes, que já atendem a uma demanda interessada, e também criarmos opções para que o turista permaneça na cidade, ou no Estado, por no mínimo sete, dez dias, justificando o investimento alto na passagem. Para isto, precisamos: a) encurtar distâncias para chegar a outros destinos, como São Gabriel da Cachoeira e Reserva Mamirauá; b) fazer com que o turista permaneça de 2 a 3 dias em Manaus explorando a nossa cultura, culinária, gastronomia, compras e não apenas fazendo o city tour.
Por fim, ainda há, infelizmente, uma parcela do público que não conhece a evolução que Manaus passou nos últimos dez, 12 anos e pensa que a cidade se resume à Zona Franca de compras e a locais mal cuidados.
Adriana Papa
(foto: divulgação)
HN: A falta de atrativos prejudica a oferta de vôos à cidade, o que torna os preços das passagens aéreas caras e a muitos, inacessíveis.
Grapiglia: Sim e acredito ser uma questão de oferta e demanda. Quando nós vendermos melhor o nosso destino e criarmos o desejo do turista comprar o destino Amazônia, teremos maior oferta, a exemplo do que aconteceu na Costa Rica, no Peru e na Guatemala, que tinham as mesmas queixas que nós. Não adianta termos o produto floresta e o Rio Negro. É preciso torná-los desejados e disponíveis nas prateleiras de compras. Quando isto ocorrer, com certeza haverá maior oferta de vôos.
Serviço
www.accorhotels.com.br
www.atlanticahotels.com.br
www.amazonasconvention.com.br