Um dos símbolos máximo do turismo tupiniquim,
pouco visitado por seus próprios patriotas
(foto: imagensporfavor.com)
Aqui jaz o Carnaval e, sem ele, paira a angústia de um setor que por muitas vezes precisa fomentar o circo pegando fogo para ter visibilidade além das fronteiras tupiniquins. Mas mesmo com tanto regozijo carnavalesco, ébrio de álcool, cego à desnudez das mulheres e de ouvido tapado pelo eco dos tamborins da avenida o estrangeiro saiu do sambódromo e foi embora – sem deixar toda a mala preta que o trade turístico tanto esperava.
 
E a anedota básica desta quase indústria é a mesma: diz-se que a atividade turística tem inúmeras potencialidades para alavancar a economia local – e de fato tem. A proposta de que o turista gere receitas para as populações receptoras e, por conseguinte, proliferem um crescimento econômico e uma melhora na qualidade de vida dos que ali residem é o mais próximo da ideia de perfeição almejada por qualquer segmento. Em tese, a festa carnavalesca até pode fazer isso. Mas nem tudo é tão óbvio e fácil assim.
 
Para que comunidades de determinados pontos receptores tenham uma postura anfitriã e, com isso, gere-se dinheiro novo, é preciso que esta população faça parte e compreenda, a fundo, o que é este conglomerado econômico. Eis um problema: há um estigma de festa e glamour que faz com que o turismo fique distante de uma atividade econômica – não figurando, inclusive, nos cadernos especializados dos jornais. O setor é, antes de mais nada, entretenimento – e, no que tange ao Carnaval, diga-se de passagem, entretenimento adulto.
 
Estudos mais recentes apontam que a indústria do turismo é responsável por coisa de 3,3% do PIB (Produto Interno Bruto) do País – porcentagem irrisória se comparada à do petróleo ou automobilística, por exemplo. Outro ponto trágico é que o turista estrangeiro deixou, em 2010, coisa de US$ 5.919 bilhões no Brasil – quase a metade do que foi gasto por brasileiros em outros países em período idêntico, US$ 10.503 bilhões. Mais um quinhão: brasileiros gastam mais em terras estrangeiras se comparado ao que é gasto por forasteiros em terras tupiniquins.
 
Para fazer uma leitura à luz da hotelaria, vale um exemplo específico – e drástico. Durante palestras promovidas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, em 2010, o professor Bayard do Coutto Boiteux citou o exemplo de um município, no qual se constatou que “o povo detestava os hoteleiros, pela percepção de que ganhavam muito dinheiro e nem sequer abriam as portas para que a população anfitriã pudesse entrar e verificar o que acontecia em seu interior”. Outra peleja: um dos mais importantes segmentos da cadeia turística é tido como câncer para o desenvolvimento da população. Sem contar que parcela significativa parte desta pouco conhece os atrativos turísticos de sua própria nação.
 
Com poucas demonstrações desse setor que ainda engatinha, fica a lição de que o turismo brasileiro precisa antes de mais nada ser entendido por grande parte daquilo que o forma: seu próprio povo. Nem tudo são espinhos e há sim quimeras já se desenhando em feitos positivos – e dignos de aplausos. No entanto, a maior reformulação ainda é cultural. E isto, notadamente, demandará promessas e reflexões mais sedutoras do que as que trazem pierrôs embevecidos ao Brasil em tempos de folia. A pergunta no ar é clara: o que o turismo brasileiro vai ser quando crescer?