Mandatário estadunidense, Barack Obama,
que esteve no Brasil neste final de semana

(foto: pt.wikipedia.org)

É sabido que a visita ao Brasil do ilustre presidente estadunidense, Barack Obama, realizada neste final de semana, trazia consigo a esperança de que alguns louros se voltassem à cadeia do turismo. Na Cidade de Deus, favela carioca que até tempos atrás era sinônimo de violência e narcotráfico, o mandatário norte-americano e sua família marcaram presença para assistir a uma apresentação de capoeira – o que, diz a imprensa, serviu de vitrine para que o mundo levasse em conta a comunidade como destino “exótico” do turismo tupiniquim.
 
Outro caminho que o passeio do dito homem mais poderoso do mundo facilitaria diz respeito à concessão de vistos, a cidadãos brasileiros, para viagens às terras do Tio Sam. A promessa era que os representantes dos países discutiriam meios de viabilizar esses processos entre as embaixadas das respectivas nações. No entanto, o tema ficou abaixo do tapete, e, notadamente, o ministro do Turismo, Pedro Novais, não figurou entre os que receberam Obama no sábado (20), em Brasília. Vale lembrar que, no ano passado, apenas 3% dos vistos solicitados por brasileiros, que intencionavam viajar para os EUA, foram negados.
 
É cedíssimo para dizer, mas parece que os dois exemplos continuam, como muitos outros, na contramão da indústria do turismo. O primeiro porque, sintomaticamente, coloca o Brasil na lista dos destinos turísticos que precisam estar atrelados à tragédia de sua sociedade para se consolidarem. Haja vista o estigma já enraizado de que os estrangeiros vêm ao País para entreterem-se com traseiros e caipirinhas.
 
O Brasil é, antes de mais nada, repleto de paradisíacos pontos naturais – que estão muito aquém de qualquer tentativa de utilizar as mazelas da sociedade para fazer algo de exótico. A fauna e a flora do País são suficientes para dar a qualquer turista, seja este estrangeiro ou não, um exemplo de excentricidade que vai além de qualquer estereótipo festivo tachado na passividade e no jeitinho brasileiro.

 
Recentemente, foi divulgado que o Brasil é o número um do mundo em riquezas naturais, mas figura apenas após a 50º colocação como destino turístico. É triste? Depende da ótica, pois a grande parte do turista brasileiro, que deixa seu País, está preocupado apenas no turismo de consumo, algo que nunca houve de fato no Brasil. A cultura continua necessitada de brinquedos que nunca chegavam por esses trópicos. Por isso, ir a Nova York ou a Miami continua sendo a quimera de muitos. Situação idêntica à dos milhares de brasileiros que desembarcam em Buenos Aires e saem à procura de lojas na rua Florida ou de carne portenha. Museus e outras atrações ficam para alguns poucos turistas – o homo sapiens ou o homem moderno continuam sendo um eterno infante buscando fantoches e diversões masturbatórias. Crescer é preciso!
 
O segundo item, que diz respeito à viabilizar a visita de brasileiros aos EUA, também tem suas entrelinhas pouco elucidadas. Novamente o País continua a fomentar a saída de seu povo para gastar o dinheiro ganho aqui em terras estrangeiras. Os muitos ‘brasis’ existentes do Oiapoque ao Chuí pouco são vendidos ao seu próprio povo. Vem do governo a tentativa de eliminar obstáculos para os brasileiros saiam de sua pátria e favoreçam a economia do turismo em outros territórios.
 
Sobre o visto, se o Brasil de fato pudesse decidir, provavelmente, liberaria os norte-americanos para virem quando quiserem. Seriam mais divisas chegando ao País. Pediria, também, que as dificuldades em se obter o visto do Tio Sam fossem até mais burocráticas, quem sabe assim teria-se uma balança mais equlibrada.
 
Necessário lembrar uma conta já feita dias atrás, na qual, em 2010, o estrangeiro deixou US$ 5.919 bilhões no Brasil – contra US$ 10.503 bilhões gastos por brasileiros em outros países.
 
A indústria turística aqui deve sim se valer de um povo caloroso, de carisma notório e que recebe a todos como se hospedasse a um amigo. Não há nenhum mal nisso. Bem como a questão do visto não é negativa, notadamente, se intencionar eliminar trâmites burocráticos – não esquecendo, em hipótese alguma, que o Brasil deve se promover como destino, e não se colocar em segundo plano para seu próprio povo.
 
Às vésperas de sediar os dois maiores torneios do esporte mundial, o trade ainda custa a entender que o turismo aqui precisa deixar de ser incipiente e sair da cadeia do entretenimento – passando a incorporar, definitivamente, a atividade econômica que o setor representa em todo o mundo.