por Rui Carvalho*

Entender o que é um convention bureau ainda parece um sonho distante mesmo quando a conversa se dá em meio a gente que milita há anos no setor. O que deveria ser parte do dia a dia e lição de casa de qualquer um que decida dedicar-se à atividade turística, ainda suscita confusões, raciocínios tortuosos e mal entendidos. O que deveria ser simples, pois é simples, aparece travestido de problema e atrapalha o desempenho de nossas entidades.

Um dos problemas com que temos que lidar é a falta de compreensão dos objetivos dos convention. Ainda há dificuldades, e resistências, em admitir que a função principal de um CVB é a promoção do destino que defende. Devemos entender promoção no sentido mais amplo do termo, ou seja, a divulgação não só da infra-estrutura para eventos, mas também dos atrativos turísticos e de todas as características que possam configurar uma vantagem competitiva. Vistas as coisas por este ângulo, o tão apregoado trabalho de captação de eventos, repetido como um mantra por alguns convention, passa a ter a sua importância ajustada ao que realmente representa: uma ferramenta eficaz para a promoção do destino, mas exatamente uma ferramenta, e nunca o objetivo fim do convention! O apoio à captação de eventos, já que quem capta, geralmente, são as entidades de classe e as associações, deve ser encarado como uma ferramenta a mais no processo de promoção do destino. Não se esgotam aí as possibilidades, é preciso buscar outras formas de atuação para que se consiga atingir o objetivo final de posicionar a cidade ou região como destino. Isso significa dizer que a produção de materiais de divulgação adequados, a presença constante em feiras, a articulação político/corporativa e a implantação de uma estratégia de intenso marketing de relacionamento, devem fazer parte do ferramental utilizado por todos os convention que quiserem competir com alguma chance de sucesso.

Este ponto de vista já era defendido em 1896 por Milton Carmichael quando escreveu o artigo que deu origem ao que seria o futuro Detroit Convention & Tourist Bureau. Por ele percebe-se que quando se afirma que a função de um CVB é captar eventos, diminui-se muito a verdadeira importância e missão da entidade. O trabalho de um bom convention vai muito além da captação. Não podemos confundir os meios com os fins, sob pena de desperdiçarmos tempo e recursos na defesa da causa errada.

Para que um convention trabalhe com eficácia e apresente resultados, entretanto, é fundamental entender a importância do mecanismo lhe que garante os recursos financeiros. A fórmula, aplicada a partir de 1971 no Canadá, embora com outra metodologia, chama-se room tax ou taxa de turismo. É uma contribuição simbólica e espontânea que é solicitada ao hóspede dos hotéis associados, e que é cobrada por diária e por apartamento. O valor médio do room tax nas principais cidades brasileiras é de pouco mais de dois reais por dia/apto ocupado. Há cidades onde a cobrança, cujo pagamento é sempre opcional, não passa de 50 centavos, e, na maior parte do País, não chega aos R$ 2,00!

O que se faz urgente entender é que esses recursos são aplicados na promoção dos destinos brasileiros, ajudando a fomentar a economia regional, contribuindo para a geração de emprego e renda. Em sã consciência, quem pode ser contra isso? Como entender, por exemplo, que grandes empresas estatais e grandes operadoras de turismo se neguem a colaborar para o sucesso dessa cobrança, sem imaginar que isso só pode ser fruto do completo desconhecimento do trabalho desenvolvido pelos CVB?s na melhoria do ambiente de negócios de seus destinos? Como pode uma empresa estatal ou uma grande operadora ser contra uma contribuição simbólica de seus funcionários ou seus clientes, quando ela alavanca o desenvolvimento turístico e fomenta o fluxo de visitantes, tendo como conseqüência o aquecimento da economia, que fatalmente acabará em geração de emprego, melhoria da qualidade de vida e distribuição de renda?

É urgente que, assim como as autoridades do turismo já reconheceram, a começar pelo ministro Walfrido dos Mares Guia, fã e defensor do sistema de CVB?s, os parceiros do setor e o público em geral, entendam também que é na capilaridade dos convention que reside a força desse modelo de desenvolvimento regional que já conta mais de 100 anos de história. Só com essa nova postura, entendendo-se o room tax pelo seu viés social, é que conseguiremos consolidar os convention bureaux como instrumentos capazes de cumprir a missão que lhes cabe na defesa dos destinos brasileiros, com ganhos óbvios para toda a cadeia produtiva.

* Rui Carvalho é gerente executivo do Campinas e Região Convention & Visitors Bureau
e diretor de Comunicação da Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureaux.
[email protected]