Otavio Novo é especialista em Gestão de Crises

A prática de contratação de seguros é conhecida e utilizada pela maioria das pessoas. Considerada uma das atividades econômicas mais antigas ainda em prática, a obtenção de apólices securitárias também faz parte das atividades de turismo e hospitalidade e, de modo geral, a maioria dos hotéis têm suas apólices vigentes.  

Entretanto, uma pergunta importante para todos os hoteleiros é: essas apólices contratadas estão, realmente, protegendo os hotéis e suas atividades? 

Com algumas exceções, normalmente, a realidade que encontramos nas operações hoteleiras são processos inadequados de cotação, definição de coberturas e contratação das apólices que, portanto, deixam de cumprir o objetivo de agregar a proteção devida aos negócios diante dos riscos variados a que estão expostos. 

Esse contexto de desinformação, muitas vezes acompanhado do objetivo de uma economia imediata nos custos do prêmio dos seguros, constrói um cenário muito negativo para as empresas e profissionais das atividades hoteleiras.

A falta de conhecimento do tema seguros por parte de muitos hoteleiros e, ao mesmo tempo, de conhecimento das necessidades da atividade hoteleira por parte de corretores de seguros e seguradoras é regra, e com isso, as coberturas tem, em geral, uma tendência a serem mal definidas e na maioria das vezes, subestimadas. 

A contratação de seguros com coberturas em desacordo aos riscos do negócio, cria diversas consequências indesejáveis: investimento num seguro com valor de indenização insuficiente, gastos indevidos diante de estimativas de riscos exageradas, riscos importantes sem cobertura em caso de sinistros, falsa sensação de proteção implicando na negligência às prevenções necessárias etc. 

Vale lembrar que são diversos os tipos de seguros utilizados numa operação hoteleira. Os mais comuns são os seguros de: Responsabilidade Civil para a proteção em caso de danos causados pelo hotel e suas atividades à terceiros; Danos à Propriedade, para cobrir perdas a patrimônio inclusive, caso haja interrupção da operação; Riscos de Engenharia (por exemplo em caso de reformas); para danos causados por erros de gestores; para pagamento de sanções judiciais; para crimes cibernéticos, entre outros. 

No entanto, além da definição do tipo de seguro a ser contratado, que deverá ser feita considerando as exigências legais, financeiras e o contexto de gestão de riscos da empresa, deverão ser analisadas a definição das coberturas diante dos riscos e vulnerabilidades, e, por último, os valores de cada cobertura para que, cumpram a função de gerar indenizações adequadas e o devido ressarcimento de perdas no decorrer da gestão dos negócios.  

Fato é que por limitação de tempo ou de interesse, é dada pouca atenção ao tema seguros nas atividades hoteleiras.  E apesar dos gastos e contratações realizadas, as lacunas e descuidos nesse processo costumam causar surpresas desagradáveis e prejuízos para as administrações, acionistas e executivos. 

A boa notícia é que, assim como em outras áreas, existem sinais de maior especialização também no tema seguros da hotelaria e turismo. Atualmente, começam a surgir profissionais da hotelaria e do setor securitário que visam o atendimento especializado aos hotéis, trazendo com isso mais equilíbrio entre a inteligência relacionada ao mundo do mercado securitário, e das atividades e necessidades específicas dos meios de hospedagem.

E isso é uma novidade. Afinal, o que normalmente existe é um abismo entre os conhecimentos do negócio que os hoteleiros possuem, e os conhecimentos das normas e soluções que as corretoras e seguradoras detém. E isso acontece, porque empresas de seguros, muitas vezes, tem os hotéis como contas menores nos seus portfólios, e, associada a pouca capacidade funcional de se aprofundar em temas específicos, acabam não tendo o foco que a hotelaria necessita. 

Diante disso, se torna ainda mais importante que os gestores dos hotéis considerem o tema seguros como parte integrante da gestão de riscos do negócio. E assim, no processo de priorização dos riscos e criação dos procedimentos de prevenção e de gestão de crises, as situações de risco que não puderem ser eliminadas, sejam transferidas por intermédio da contratação de condições de seguros adequadas. 

As boas e modernas práticas de gestão, estabelecem que cada gestor responsável pelos seguros do hotel revisite periodicamente o tema seguros, e providencie a análise das condições das apólices contratadas, verificando se estas possuem eficácia diante dos riscos a que suas operações estão expostas. 

Essa mudança de perspectiva é uma evolução no setor, mas que só será eficiente se realizada a seis mãos, contando com o olhar e a colaboração da gestão do hotel, da corretora de seguros e das seguradoras, interessados não apenas no relacionamento e na economia com os valores dos prêmios, mas também no compartilhamento de conhecimento para criação de soluções de gestão de riscos completas. Só assim, os bons e velhos seguros farão parte fundamental das novas tendências e exigências de proteção para esse mercado em plena e acelerada transformação.

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Otavio Novo é profissional de Gestão de Riscos e Crises, com 17 anos de atuação em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Consultor e idealizador do projeto Novo8, mencionado pela ONU no IY TOURISM 2017.  Advogado e membro da comissão de Direito aplicado à hotelaria e turismo da OAB/SP. Durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels para cerca de 300 propriedades e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina.

Em junho de 2018, Otavio Novo participa como um dos professores da segunda edição do Curso HRCM – Hotel Risks and Crisis Management (Gestão de Riscos e Crises na Hotelaria).

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