Otavio Novo - artigo Dia Mundial do Turismo

 

Os efeitos do vazamento de óleo no Nordeste brasileiro já atingiram 9 estados e cerca de 200 localidades, muitas delas com grande importância turística, além de mais de 10 unidades de conservação com grande importância na proteção de espécies da fauna e flora da região. São aproximadamente 2 mil quilômetros de extensão litorânea que, nos últimos 2 meses, vem registrando contaminações de petróleo cru nas águas e praias, de onde já foram retiradas cerca de 500 toneladas de resíduos.

Existem algumas hipóteses para a causa do problema e suas consequências, e o vazamento de um navio tanque é uma delas. Nesse caso, tendo em vista a capacidade média de navios desse tipo, há a possibilidade do volume verificado até o momento ser de apenas de 10% do óleo lançado ao mar, existindo ainda muito impacto a ser considerado. Sem contar ainda com a possibilidade do material coletado causar outros danos, como contaminação de lençóis freáticos, caso sua gestão não seja feita de forma correta.

É importante lembrar que vazamentos de óleo não são raros, especialmente em localidades de extração do material e nas rotas das embarcações que fazem o transporte do produto. O Brasil, além de importante produtor é parte dessas rotas, ficando assim mais exposto ao risco com probabilidade considerável de ocorrências desse tipo, cujo impacto sempre será muito importante. 
Nesses casos, normalmente percebemos, de maneira imediata, as perdas ao meio ambiente e suas espécies, atingindo locais próximos e ecossistemas mais sensíveis. E esses impactos, invariavelmente, costumam perdurar por anos, gerando assim danos e prejuízos a longo prazo. Outro impacto comum é o relativo as comunidades e negócios da região afetada, entre eles, o turismo, mais precisamente na próxima alta temporada que se aproxima. 

De toda forma,  o cenário decorrente de fatos como esse dependem do nível dos procedimentos preventivos e reativos de toda a cadeia de negócios e entidades envolvidas, desde o governo, até as empresas e comunidades.

As dimensões das perdas e prejuízos desse vazamento ainda não são claras, e tanto no aspecto do meio ambiente quanto dos negócios e do turismo dessas localidades, ainda não é possível definir exatamente o que teremos que enfrentar a médio e longo prazo. Entretanto, já podemos dizer que as medidas preventivas e reativas precisam ser melhoradas para que, possamos continuar atuando nessas atividades econômicas, e nos expondo aos riscos decorrentes, de maneira adequada. 

E esse é apenas um exemplo de um problema mais amplo e que afeta diversas áreas de atividade com relação aos seus riscos inerentes e suas medidas de mitigação e tratamento. Nitidamente, no Brasil existe uma cultura de desvalorização das práticas preventivas e de procedimentos e treinamentos para se antecipar e reagir corretamente diante dos principais problemas que podem afetar a vida, os negócios e reputações.  

E para que possamos realizar nossos negócios, atender nossos clientes convivendo com os diversos riscos que existem em qualquer atividade, é primordial que cada um compreenda claramente qual é sua responsabilidade. 

O governo, nas suas diferentes esferas deve fazer jus ao seu papel de zelar pelo bem comum e, por intermédio das suas prerrogativas, deve criar, implantar e garantir práticas que antecipem e sirvam para minimizar os impactos decorrentes de situações sensíveis.

As empresas e cidadãos, por sua vez, além de seguir as legislações e normas existentes, podem e devem fazer ainda mais, ou seja, demonstrar e cobrar do poder público o que é realmente relevante para que as relações sociais e comerciais transcorram de maneira segura e satisfatória para todos. 

As autoridades públicas devem buscar permanentemente a adequação dos instrumentos existentes de proteção da sociedade, com políticas e procedimentos técnicos como, nesse caso, o PNC/2013 Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo, que apesar do posicionamento de diversos especialistas a favor do seu acionamento, não foi colocado em prática como o previsto. 

E esse tipo de falta de iniciativa ilustra e deve ensinar aos demais entes da sociedade, como cidadãos e especialmente profissionais, como os do setor de turismo, que   além de pensar nos riscos e preciso criar procedimentos e realizá-los corretamente. 

Destinos, hotéis, atrativos, agências de turismo, travel managers e viajantes, devem agir no mesmo sentido e criar seus procedimentos de gestão de riscos dentro de cada grau de responsabilidade e exposição. 

Além disso, cada nível dessa cadeia de relacionamentos comerciais e institucionais deve se organizar e cumprir o seu papel de cobrança no sentido alcançar níveis cada vez mais adequados de prestação e utilização/consumo dos serviços existentes.

Ou seja, os viajantes e seus representantes, como travel managers, devem buscar e exigir serviços adequados, agências de viagens devem garantir que os produtos que comercializam sejam minimamente adequados, os hotéis devem homologar fornecedores que tenham responsabilidade nas suas práticas, e todos devem cobrar do Estado a melhor gestão dos interesses públicos. 

Essa maturidade ao tratar com consciência dos riscos e ameaças inerentes aos serviços de toda a cadeia produtiva em qualquer destino, é o único caminho para que os problemas existentes, ou aqueles que surjam, sejam evitados ou geridos de maneira correta,  e deixem de trazer prejuízos importantes e de se transformar em mais manchas na imagem do setor de turismo nacional. 

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Otavio Novo é profissional de Gestão de Riscos e Crises, atuando desde o ano 2000 em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Consultor e idealizador do projeto Novo8, mencionado pela ONU no IY TOURISM 2017.  Advogado, coautor do livro "Gestão da qualidade e de crises em negócios do turisno" , durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels para cerca de 300 propriedades e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina.

 

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