Acácio Pinto, gerente geral dos hotéis da rede Ouro Minas
(fotos: Thais Medina)
 

Durante esta entrevista você vai conhecer os planos e realizações do Ouro Minas Palace Hotel, que tem como gerente geral o simpático e batalhador Acácio Pinto, no “mundo hoteleiro” desde os 12 anos de idade.

 

Sua trajetória no trade teve início no Rio de Janeiro quando o Senac local oferecia um centro de treinamento para colaboradores de empreendimentos hoteleiros e filhos destes. Adotado profissionalmente por um chef do Hotel Glória, pôde freqüentar as aulas: estudava durante a manhã e fazia estágio em restaurantes e hotéis à tarde. Começou lavando bandejas no Hotel Novo Mundo, trabalho que, de acordo com ele, era pesado e desgastante.

 

O mineiro nascido em Andradas, no 15º dia de atuação pensou em desistir, mas teve outra idéia: trabalhar muito bem, dar a volta por cima e passar a atuar em um setor menos desgastante. Tanto quis, que conseguiu. Na data seguinte foi chamado no departamento pessoal e recebeu a notícia de que seria transferido para o cyber café. Na época era inédito e contava com telex e máquina de datilografia como equipamentos.

 

Com o passar dos tempos virou mensageiro, garçom, maître, chef de cozinha, recepcionista… Passou por todos os setores de um hotel com exceção da governança. E no meio do caminhou cursou Hotelaria na faculdade Renascença, em São Paulo.

 

Em seus 40 anos de idade e 28 de experiência nunca trabalhou em outra área que não a de hospedagem. Passou pelas redes Othon, Meliá, Royal e Accor Hospitality. Hoje contenta-se em dizer que está formando hoteleiros. “Há pelo menos quatro gerentes gerais que foram meus assistentes: Fernanda Shapper, superintendente da rede Royal, Flavia Dorjó, do Mercure Vila da Serra, Isa Rennô, do Ibis Piracicaba, e Paula Boechat, do Royal Savassi”, conta.

 

Por Thais Medina

 
 
 

 

Hôtelier News: Quanto já foi investido na reforma que está sendo realizada no hotel desde 2007?

Acácio Pinto: Na realidade trata-se de uma revitalização e não apenas uma reforma. As mudanças tiveram início em janeiro de 2007, quando 210 UHs das categorias Luxo e Suíte executiva passaram por um processo de transformação. Delas aproveitamos muito pouco. As unidades habitacionais mencionadas passaram a contar com novos móveis, layout e equipamentos.

Por um motivo muito especial precisamos interromper as mudanças: nossa ocupação foi bastante alta em janeiro e fevereiro. Contudo, as obras serão retomadas na primeira semana de abril.

Até o momento já investimos R$ 5 milhões, de um total previsto de R$ 9 milhões.

 

HN: Você citou que os móveis e equipamentos como TVs, por exemplo, agora de LCD, foram trocados com a revitalização. O que foi feito com estes materiais?

Acácio: De tudo que tiramos dos apartamentos 40% foram doados para instituições de caridade por uma ordem da diretoria do Ouro Minas. O restante foi vendido a preços irrisórios para os colaboradores do hotel.

 

HN: O que a segunda etapa de investimento vai englobar?

Acácio: O foco desta fase serão as áreas sociais, incluindo lobby com móveis inteligentes (tomadas e pontos de internet banda larga acoplados), átrio, recepção e restaurante. Todas as mudanças previstas devem ser encerradas em março de 2009.

Temos grande preocupação em atualizar sempre o produto o deixando cada vez mais confortável. Com esse objetivo investimos R$ 1,8 milhão na troca de 478 janelas e vedação acústica de todo o hotel. Agora pode passar uma escola de samba em frente ao Ouro Minas que ninguém que estiver dentro dele escuta. Além disso, implantamos camas diferenciadas que certamente são as maiores do Brasil – chegam a ter 2,2 m por 2,7 m e os colchões atingem 78 cm de altura. Há ainda um menu de travesseiros com dez opções e solicitação gratuita acompanhada de uma xícara de chá.

 
  

 

HN: Os empreendimentos hoteleiros estão buscando cada vez mais novidades e diferenciais para conquistar e agradar os hóspedes. Além da remodelação que está sendo feita, vocês programam algum outro atrativo?

Acácio: Nos últimos anos a indústria de hotéis tem se tornado muito dinâmica e é preciso sempre pensar em atrativos adicionais. Com isso em vista, junto à revitalização estamos tematizando o hotel com o conceito Barroco vitoriano. O assunto foi escolhido pois tem tudo a ver com Minas Gerais. Com base nele serão implantados nove lustres no lobby com resina e revestimento interno de ouro, além de decorações em fuchico e homenagens às bordadeiras de Sabará e à Estrada Real. A cor dourada, que já está sendo bastante utilizada nas UHs, também marcará presença nos outros ambientes do hotel remetendo ao ouro. Outra novidade, que deve entrar em funcionamento em 15 de abril, é o guest service.

 

HN: Como vai funcionar esse novo benefício aos hóspedes?

Acácio: Somos o único cinco estrelas de Belo Horizonte e seremos o único também a oferecer esse serviço. Ele foi pensado tendo em vista que o visitante já chega ao hotel desgastado com a viagem e quando precisa entrar em contato com algum setor do empreendimento precisa procurar o ramal para o qual deve discar. Com o guest service, haverá uma central com sete colaboradores – três, de preferência deficientes físicos ou aposentados, serão contratados e os outros quatro, transferidos de departamento, incluindo a gerente Cinay Oliveira, atualmente chefe de telefonia.

Todas as solicitações serão monitoradas e haverá atendimento 24 horas por dia. Então, por exemplo, se uma determinada refeição deve ficar pronta em 30 minutos, assim que o pedido chegar à central será feita uma contagem regressiva para ver se este foi entregue no tempo certo. Caso a TV esteja com problema, assim que o técnico sair do apartamento avisa a central, que entra em contato com o hóspede para conferir se ficou satisfeito. Não queremos só encantar, mas superar.

 

HN: O que será necessário para implantar esse sistema?

Acácio: O investimento para a oferta do serviço não é muito alto, pois engloba apenas o software, a instalação e novos profissionais. Ele custa cerca de R$ 30 mil.
 

 

HN: Como foram a ocupação e diária média do empreendimento nos dois primeiros meses do ano?

Acácio: Em toda a história do Ouro Minas Palace Hotel, inaugurado em 15 de outubro de 1996, jamais tivemos meses de janeiro e fevereiro com números tão bons quanto os registrados este ano.

Nossa diária média, considerando o bimestre, atingiu R$ 184. Já a ocupação, foi de 52,8% em janeiro e 54,48% em fevereiro. Nunca havíamos ultrapassado 50% nesse período. Fechávamos em torno de 35%.

 
HN: A que se devem esses altos índices?
Acácio: O aumento é reflexo do trabalho dos governos de Minas Gerais e Belo Horizonte, que são um exemplo de que partidos podem trabalhar com o mesmo objetivo.

A Secretaria de Turismo e o convention & visitors bureau estão bastante alinhados e captando muitos negócios e eventos para a cidade e suas proximidades. Além disso, houve crescimento do mercado brasileiro e de comodities em Minas. Para se ter uma idéia deste potencial, em uma pesquisa encontrei o valor de R$ 1 bilhão a serem gastos em possíveis investimentos em obras na região de BH. Essa movimentação na economia interfere diretamente no setor.

 

Outro ponto que deve ser levado em conta é o início das operações da portuguesa Tap para a capital, em 11 de fevereiro, representando a primeira companhia aérea com vôos internacionais pousando e decolando do aeroporto local. Isso representa uma porta aberta para o mundo.

 
HN: O setor hoteleiro vem crescendo muito. Podemos dizer que ele está “saudável”?

Acácio: A hotelaria ainda está longe de atingir o patamar necessário a ponto de ser considerada “saudável” – para tanto é preciso chegar pelo menos a 68% de ocupação. Essa situação faz com que o setor perca muito, principalmente no quesito mão-de-obra, já que bons profissionais deixam o trade para trabalhar em empresas que os remunerem melhor. Sem bons lucros não há como aumentar os salários.

 

Por outro lado, considerando os últimos seis anos, houve melhora na indústria de hotéis, mas ainda há espaço para crescimento, pois entre sete noites há boas vendas apenas para quatro – segunda a sexta-feira.

 

HN: Quais são suas expectativas para este ano?

Acácio: O mercado brasileiro é bastante promissor, apesar de apresentar alguns momentos difíceis em 2008. Um exemplo são as Olimpíadas, já que todo o investimento de grandes empresas patrocinadoras são destinados ao evento e não outros tipos de ações, ou seja, há uma retração no mercado corporativo.

Haverá ainda, no segundo semestre, as eleições municipais. Com isso, seis meses antes da votação as verbas de órgãos públicos são bloqueadas e deixam de ser realizados treinamentos, esvaziando salas de eventos.

 

 

HN: O que é esperado em termos de diária média e taxa de ocupação?

Acácio: Nossa meta para este ano é atingir R$ 205 em diária média e crescimento de 12,5% em ocupação. Em 2007 chegamos a R$ 182 e registramos 62,4% de ocupação, a melhor desde a abertura do empreendimento.

 

HN: O Ouro Minas tem alguma ação em prol do meio ambiente?

Acácio: Em Belo Horizonte colocaremos em vigor uma ação dentro de cerca de 30 dias na qual vamos aproveitar a água do ar-condicionado na limpeza da calçada e do estacionamento. Para tanto serão investidos R$ 27 mil, valor que seria gasto em contas de água de apenas três meses.

Além disso, separamos material para reciclagem. Há um mês um processador passou a ser utilizado e a liberar o lixo já processado e não ensacado.

 

HN: Como é o trabalho de vocês em relação ao treinamento dos colaboradores?

Acácio: A rede conta com um plano de incentivo aos gerentes no qual um dos quesitos levados em conta para compor o 14º salário é o treinamento de sua equipe. São obrigatórias cinco horas mensais de capacitação por colaborador. Valorizamos muito essa questão, pois trata-se de um investimento. Nosso maior patrimônio são as pessoas e nossa nota fiscal não é levada no bolso, mas no sentimento.

 

Atualmente 268 pessoas, sendo 15 destas gerentes, trabalham no Ouro Minas Palace Hotel e ações de técnicos internos multiplicadores. Buscamos no mercado treinamentos diversos e focamos principalmente a padronização. Não adianta passar pela qualidade e não transformá-la em norma.

 

HN: Com toda a sua experiência, que dica você dá para as pessoas que querem atuar na hotelaria e estão começando a carreira agora?

Acácio: É importante se dedicar exclusivamente à hotelaria nos primeiros anos da profissão e conhecer o hotel como um todo. É difícil se especializar em apenas uma área.
 
Nenhum hotel vai negar se você for recepcionista e quiser conhecer os departamentos de cozinha e vendas, por exemplo. Em uma parte da minha vida trabalhava até 16h como maître e depois ia para a cozinha aprender a preparar pratos sem ganhar nada a mais por isso.

É preciso que, para ordenar e comandar equipes, o profissional tenha bons fundamentos e, para isso, a prática é a melhor escola.

 

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