Quando o atraso protocolar começou a perder o charme, o governo resolveu anunciar, na última semana, 14 medidas com a insígnia de, pretensamente, aumentar o fluxo de turistas estrangeiros por essas paragens. À revelia de alguns pontos, o programa serve de missão civilizatória para o que já vinha sendo citado e postergado de longa data – mesmo com projetos definidos para que tais mudanças, fossem, deveras, feitas. Faltava, por fim, mudar a conjugação do verbo – o que, especula-se, pode vir a ocorrer.
 
Redução do custo da energia elétrica; corte de impostos sobre combustíveis de aviação; classificação de alguns produtos como bens de consumo para que hotéis e parques temáticos paguem menos impostos nesses itens; orçamento para publicidade; reabertura de filiais do Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) em destinos estratégicos; criação de uma câmara de discussão para que os interesses das iniciativas privada e pública sejam eloquentes e uníssonos; venda de pacotes para estrangeiros visitarem três destinos do País, no intuito de divulgar destinos de forma conjunta; entre outros pontos, estão à altura do plano.
 
É preciso assumir e entoar loas à medida – uma vez que o País, mesmo repleto de alternativas que atraem os olhos de qualquer estrangeiro, há tempos segue prostrado na tentativa de desencadear seu poderio turístico. Auspicioso, o projeto tem sim seus louros e mostra uma postura que, diga-se de passagem, deveria ser via de regra para todas as instituições que configuram tal mercado.
 
No mesmo ínterim, porém, é de se admitir que à surpresa veio o tom obsoleto, haja vista que são medidas, ainda que positivas, pueris – que deviam ter sido tomadas há tempos, talvez nos idos da criação do MTur (Ministério do Turismo), quando o setor ganhou pasta exclusiva para, em tese, figurar entre as economias importantes do País. O achaque do ostracismo é lei primeira.
 
Exemplo claro da dilação e dos braços cruzados, vociferado há muito tempo, é a questão da formação da mão de obra para o setor. O pacote do governo rege que o conhecido sistema S (Senac, Sest, Sesi, Sesc e Senai) tome a frente da missão de capacitar os profissionais do turismo – por meio do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), sem que haja custo para os estudantes.
 
Necessário dizer que a construção da mão de obra especializada, desde sempre, faz marola na praia que vem sendo, quase que exclusivamente, ocupada pela iniciativa privada. As universidades disponíveis e capazes de formar bons executivos para a indústria turística, quando não penalizam o estudante por terem o cifrão como norte, estão concentradas em poucas praças – como é o caso de São Paulo, que concentra muitas delas – e, notadamente, não atendem a todo o País. O sistema S, mesmo que com formações técnicas, tem estrutura do Oiapoque ao Chuí para tanto. É uma continha de mais e menos, que deixa a impressão de que o freio de mão puxado é sinônimo de acinte.
 
Outro ponto, e este com óculos benéficos, é que o governo resolveu sentar à mesa e alinhar junto ao empresariado um controle dos preços praticados pelas empresas que formam o conglomerado do turismo. Caso não haja uma articulação neste sentido, em especial durante os mundiais esportivos, é possível que o empresariado tupiniquim eleve os preços e contribua para que o País ganhe fama de destino caríssimo – o que está muito próximo da realidade. Isto construiria, como ocorreu nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, uma imagem que facilmente inibiria o retorno desses estrangeiros em outras ocasiões.
 
Com o real fortalecido, vale chutar o cachorro morto, é preciso dizer que o Brasil está caro para os próprios brasileiros e, paradoxalmente, não oferece infraestrutura para tanto – em especial quanto à famigerada mobilidade urbana. Isto, sob os olhares forasteiros que por aqui estarão, tende a denegrir a visão que se tem do país de maior território da América do Sul.
 
Mais do que viabilizar a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas nos próximos anos, esclareça-se, o projeto do governo federal segue na tentativa de minguar o déficit em viagens internacionais. A estimativa do Banco Central é que, no último ano, o turista do País deixou US$ 14,3 bilhões a mais em outras nações – em comparação ao que estrangeiros gastaram por aqui. O buraco, neste caso, é negro e tende a robustecer na dimensão se tal contenda não emplacar.
 
O plano de ação é grandiloquente e importante para que se mantenha o mínimo de desenvolvimento do setor. Ainda assim, ele, se vir a nascer, será parido com ar senil. Mais do que nunca, será necessário que se aja com o ardor de uma cólera galopante.