Paulo Senise, o superintendente do
Rio Convention & Visitors Bureau
(fotos: Rio CVB / Divulgação)

O turismo parece não ser mistério para o paranaense – de alma carioca – Paulo Senise. Desde fevereiro de 2004 no cargo de superintendente do Rio Convention & Visitors Bureau, ele esteve grande parte de sua carreira envolvido com a hotelaria, setor em que acumula passagens pelos grupos InterContinental Hotels, Brascan Hotelaria e Turismo e Accor Hotels.
 
Em 2001, o executivo assumiu a diretoria de Vendas e Marketing no Brasil da Starwood Hotels, liderando equipes de Relações Públicas e desenvolvendo projetos para toda a rede Sheraton no País, além da promoção dos hotéis da rede nos mercados interno e internacional.
 
Figura praticamente onipresente em eventos do trade carioca, Senise atualmente lidera uma equipe de 20 profissionais, entre técnicos das áreas de Turismo e administrativa que atuam no Rio Convention & Visitors Bureau, no trabalho de promoção e divulgação do Rio de Janeiro no Brasil e no exterior.

Neste bate-papo franco e descontraído, o executivo analisa o atual momento do turismo carioca, a preparação do setor para receber os grandes eventos esportivos previstos para os próximos anos – o que, segundo ele, está mais do que estruturado quanto à hotelaria -, faz elogios à criação do Ministério do Turismo e revela os principais projetos desenvolvidos pelo Rio CVB.

Boa leitura!

Por Vinicius Medeiros

 
Hôtelier News: Se a Copa do Mundo começasse amanhã, o Rio de Janeiro estaria pronto para receber o fluxo de turistas previsto para o evento?
Paulo Senise: A cidade já teve experiências anteriores, como a do Rio 92 e dos Jogos Pan-americanos, que foram um sucesso de realização. O Rio é uma metrópole cosmopolita e, como a maioria, tem alguns problemas de infraestrutura. Nada, no entanto, que impeça a realização de um evento de grande porte como a Copa do Mundo.

Já existe uma grande oferta hoteleira, há empresas com expertise e qualidade para atender às necessidades de organização e do fornecimento de equipamentos de todos os tipos, uma extensa agenda cultural, sem falar da principal característica da cidade que está sempre presente: simpatia e acolhimento de seu povo. Sem dúvida, o Rio está investindo em sua infraestrutura, e as grandes competições esportivas previstas para os próximos anos estão acelerando a atração de investimentos para cá, o que é extremamente positivo. Esses recursos trarão mais conforto e facilidade logística para os eventos e, claro, para todos os cariocas.


HN:
Ainda em relação aos grandes eventos previstos para o Rio, quais os principais pontos positivos da cidade e principais gargalos?
Senise: Já me desculpando pelo clichê, não é à toa que o Rio de Janeiro é chamado de “cidade maravilhosa”. Sua beleza natural é praticamente ímpar e seu povo, já constatado em pesquisas, é o mais acolhedor e solidário. Essas são características positivas que fazem diferença na escolha de um destino.
Sabemos que qualquer viajante, mesmo com o objetivo de participar de um evento, aproveita a oportunidade para conhecer melhor a cidade que visita, sua cultura e seu povo. Nesse quesito, diferentemente de outros lugares, aqui ele vai ter muito a conhecer e fazer – e não podemos esquecer dos municípios complementares do interior do estado. No Rio, dispomos dos principais temas de interesse turístico: cultura, negócios e eventos, sol e praia, rural, ecoturismo, aventura, pesca, saúde, náutico, social e estudos e intercâmbio.
Além disso, não podemos deixar de lado a questão da infraestrutura, que é um fator determinante para a escolha de um destino para a realização de eventos, ainda dos portes da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Nesse aspecto, o Rio também está preparado, pois conta com grande oferta hoteleira e, o que é melhor, em momento de expansão. No que se refere aos transportes, dispomos de uma enorme frota de táxis, empresas de aluguel de carros, vans e ônibus. Na área de lazer, há extensa e diversa oferta de bares e restaurantes, muitos de nível internacional, além de empresas de turismo de qualificadas especializadas em passeios e excursões.
 
Quanto aos pontos negativos, acredito que nossos gargalos são a acessibilidade aérea, sobre os quais pesam questões ligadas ao reduzido número de voos internacionais; sinalização e transporte públicos, que ainda estão longe do padrão dos principais destinos turísticos mundiais; e a capacitação da mão de obra, em que a condição monolinguística do brasileiro ainda atrapalha. A infraestrutura inadequada do Aeroporto Internacional do Galeão é outro problema.

Para uma cidade que vai receber importantes eventos esportivos internacionais, o terminal continua fora do padrão – visto nos principais destinos turísticos mundiais, fator que afeta bastante nossa competitividade.


HN:
Como o hoteleiro de origem, o que pode dizer sobre a infraestrutura hoteleira do Rio? Ela estaria pronta também para a Copa?
Senise: Além de ser ampla, a oferta hoteleira do Rio é de qualidade. Os hotéis da cidade estão sempre investindo em melhorias para o conforto de seus hóspedes e para sua adequação ao desenvolvimento tecnológico, o que demanda novos equipamentos em serviços. O setor ficou um tempo, de certa forma, paralisado, mas nos últimos anos a preocupação em se adequar às exigências do mercado internacional se intensificou.
 
Falo com toda a certeza que a hotelaria carioca está pronta para receber a Copa. É certo também que o setor está bastante antenado com as perspectivas futuras e investindo ainda mais para atrair seus hóspedes e, principalmente, mantê-los como clientes em futuras viagens à cidade.
 
Hoje, além da oferta atual, já estão licenciados [3.444], ou em construção e reforma [1.962], 5.406 mil UHs [unidades habitacionais] na cidade. Há ainda outros projetos que estão em situação de análise ou consulta, o que poderá totalizar mais de 12 mil novas UHs nos próximos anos, segundo dados da Prefeitura do Rio. Por isso, podemos afirmar que não faltarão leitos para bem receber nossos visitantes.

HN: Como você avalia as leis n° 5.230 (de Incentivos Fiscais e Obrigacões) e n° 108/10 (de Revisão das Regras Urbanísticas e que prevê, entre outras coisas, novas áreas para construção de hotéis), criadas para incentivar a ampliação de leitos no Rio visando Copa e Olimpíadas?
Senise: Para que a cidade se prepare adequadamente para esses grandes eventos esportivos, seria necessário a revisão dessas leis. O aumento na oferta de leitos é imprescindível para esses eventos. Além de ser exigência da Fifa [Federação Internacional de Futebol] e do COI [Comitê Olímpico Internacional], a própria cidade precisa das mudanças para se estruturar e estar organizada para melhor receber os visitantes.

 
Ademais, o aumento na oferta de hospedagem e de centros de lazer e cultura garante a afirmação do destino Rio como um centro turístico de excelência, com maior substancialidade, qualidade e organização, o que assegura maior fôlego para seu crescimento e sua asserção como força econômica.

HN: A relação entre os CVBs (conventions bureaux) e a hotelaria costuma ser estreita, numa troca que alimenta a ambos: enquanto os primeiros captam os eventos para as cidades, a segunda acomoda os visitantes. Neste sentido, sua experiência na hotelaria o ajuda no exercício de sua atual função?
Senise: Sem dúvida alguma, a estreita relação da hotelaria com o CVB local fornece um grande entendimento do papel dos CVBs na indústria do turismo. Não só no segmento de eventos, mas no turismo em geral. Os CVBs desenvolvem um trabalho institucional de promoção e divulgação da cidade como destino turístico imprescindível, abrindo espaços e facilitando o trabalho de vendas da iniciativa privada, seja da hotelaria ou mesmo de outros atores necessários a bem receber o turista, como agências de viagens, organizadores de eventos etc.
 
De fato, a iniciativa privada tem no CVB um porta-voz de suas necessidades junto ao poder público e, principalmente, o papel de catalizador das promoções da hotelaria – que, em sua especificidade, baseiam-se, principalmente, na promoção e divulgação do próprio destino.

Paulo Senise ao lado de Pelé e C.A. Torres,
durante a ação no Botequim Carioca

HN: Falando em eventos, faça um balanço do último ano quanto ao trabalho do Rio CVB. Foi melhor do que a expectativa?
Senise: O Rio Convention & Visitors Bureau mantém um trabalho constante de prospecção e pesquisa de novos eventos em potencial. Como consequência, e some-se ainda o momento especial que a cidade está vivendo com as perspectivas geradas pela Copa do Mundo e pelas Olimpíadas, constatamos aumento no número de candidaturas do Rio como sede desses eventos. Contudo, como seus resultados se darão a médio e longo prazos, não podemos, ainda, precisar esse impacto. Em 2011, o Rio já captou 16 eventos, com a participação de cerca de 26 mil pessoas e uma receita estimada na casa de U$ 30 milhões.

HN: Quais as próximas ações planejadas pelo Rio CVB? Há algum projeto em especial para 2012 que mereça destaque?
Senise: Aproveitando os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, faremos uma promoção dos Jogos de 2016 no Rio, em um trabalho bem similar ao realizado durante a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. A exemplo do que fizemos com o projeto Botequim Carioca montado em Joanesburgo durante a Copa do Mundo, faremos uma ação em 26 botecos da rede de restaurantes Las Iguanas, que já contam com decoração e cardápio inspirados no Brasil, espalhados pela capital inglesa.

 
Entre os dias 10 de junho e 10 de julho, será realizada uma série de ações, como happy hours com agentes e operadores ingleses, distribuição de brindes e kits com material dos mantenedores, além de atrações culturais brasileiras. Haverá também imagens projetadas do Rio de Janeiro, com filmes sobre o destino, futebol e cultura. A iniciativa terá ainda a participação de personalidades brasileiras para interagir com o público.
 

Estande no evento IMEX América, feira voltada para o segmento
de incentivos realizada em outubro em Las Vegas (EUA)

HN: A participação em feiras internacionais continua sendo uma das ações mais efetivas do Rio CVB – e também uma de suas marcas. Viajando pelo mundo nestes últimos anos, você já vislumbra uma mudança de percepção em relação ao “destino” Brasil? E ao “destino” Rio? Qual é esta imagem, efetivamente?
Senise: Nos últimos anos, vejo que a percepção em relação ao Rio mudou muito, principalmente no que se refere à questão da violência. Nacional e internacionalmente, o Rio de Janeiro era visto como uma cidade perigosa. Essa impressão era potencializada pelo fato de que o Rio de Janeiro é o principal destino brasileiro para os visitantes estrangeiros. Sendo assim, qualquer pequena ação violenta ocorrida na cidade tinha uma divulgação muito grande e tomava proporções, às vezes, muito além do fato ocorrido.

O início do programa das UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), que estão se instalando nas principais comunidades carentes cariocas por iniciativa da Secretaria de Segurança Pública, traz muito mais tranquilidade, ajudando a resolver, em parte, a questão da diminuição da violência e, principalmente, mudando a percepção dos estrangeiros. Acredito também que a conquista de grandes eventos mundiais, como a Jornada Mundial da Juventude e a Rio+20, ajudam a mudar a percepção do destino, conferindo maior credibilidade ao Rio e demonstrando que é um destino capaz de organizar eventos desse porte.

HN: Como você avalia a recente crise no Ministério do Turismo? De que forma você pensa que situações como essa abalam a credibilidade do setor?

Senise: Apesar da crise atual, foi o governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, com o atual dando continuidade, que criou o Ministério do Turismo. Tudo isso porque acredita na força do setor como indutor econômico, capaz de aumentar a geração de emprego e renda, um dos principais objetivos do governo. Por sua importância, espero que o governo consiga dar a necessária estabilidade ao Ministério e que os importantes programas de promoção do País sejam implementados com sucesso.

HN: Em sua opinião, indicações de lideranças do setor podem ser uma boa opção?

Senise: Acredito que sim. O setor tem suas especificidades, o que o diferencia da grande maioria dos setores da nossa economia. Ter no quadro de governo lideranças técnicas, provenientes da iniciativa privada do turismo, é tão importante quanto ter lideranças que entendam bem o funcionamento dos órgãos públicos. Digo isso por entender que um equilíbrio de quadros, cada um em seu lugar, o político e o técnico juntos, pode viabilizar a elaboração de projetos e planejamento de ações, que tenham como objetivos o fortalecimento da imagem do País no exterior e a sua própria afirmação como força econômica.

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