Dois meses após assumir os cargos de diretor regional da Le Méridien para a América do Sul, e diretor geral do Le Meridien Copacabana, na Cidade Maravilhosa, em setembro de 2005, Philippe Seigle foi eleito o melhor diretor geral de hotéis do mundo. Anúncio foi feito durante a sexta edição do Worldwide Hospitality Awards, realizada em novembro último, em Paris. Organizada pelo Grupo MKG, em associação com a revista especializada da industria hoteleira HTR, a festa de premiação teve a participação de 80% das redes hoteleiras do mundo.

 
Filho de diplomatas e viajante inveterado, como um bom gerente geral, Seigle passou mais de 45 anos fora de seu país (França), em cargos de direção no Oriente Médio, na Europa, nas Ilhas Canárias, no Caribe, na África e Ásia.
 
Seu maior desafio foi justamente lá, no Sudoeste da Ásia – responsável por três propriedades, como diretor regional baseado no Le Méridien Phuket Beach Resort -, na época da tsunami em dezembro de 2004. Na Tailândia, Seigle acompanhou seus colaboradores na reconstrução e no processo de reabertura dos hotéis.

Em entrevista para o Hôtelier News, durante um café da manhã, realizado em São Paulo, na semana passada, Seigle, que está na Rede Le Meridien desde 1982, fala sobre as expectativas da Le Meridien para o Brasil, da compra da Starwood – a rede norte-americana adquiriu o grupo no final do ano passado por US$ 225 milhões -, do mercado cinco estrelas no país, e da necessidade do mercado carioca se unir e atrair mais turistas para a cidade. Boa leitura!

* Por Peter Kutuchian 

Hôtelier News: Como está o relacionamento e a integração entre a Le Meridien e sua mais nova proprietária, a Starwood?
Philippe Seigle: Ótimo. Foi o melhor que poderia acontecer para a Le Meridien, pertencer a um grupo como o Starwood. Estamos entrando numa família hoteleira de poder incrível. Eles já queriam há muito tempo adquirir a companhia, porque é uma marca que representa o estilo europeu, o toque francês. A integração está sendo feita de uma maneira perfeitamente profissional, com muita emoção. Fomos recebidos com muita atenção e um respeito fabuloso. Estamos todos felizes em pertencer a esse grupo.

HN: O que vai mudar em relação as ações de mercado daqui pra frente?
Seigle:
Tudo que pudermos fazer para incrementar as vendas, diminuir custos, nós vamos fazer. Somos agora mais uma marca no portfólio da Starwood. Vai ser um intercâmbio, estaremos juntos nas feiras, nos treinamentos e em outras ações.

HN: Quais os planos para o Le Meridien para o Brasil, vocês vão expandir?
Seigle: Sim, queremos crescer no Brasil. Já temos alguns contatos que estão sendo analisados pelo Departamento de Desenvolvimento em Miami.

HN: Vocês querem focar no segmento de lazer ou negócios?
Seigle: Nos dois segmentos. Se tivermos a oportunidade de administrar um hotel para o lazer, temos excelentes condições e expertise para isso, assim como para o segmento business. Atualmente, temos mais de 120 hotéis em 52 países, e a segmentação é bem equilibrada, 50% são hotéis de lazer e 50% são hotéis de negócios.

HN: Você já trabalhou no Brasil. Quando e aonde foi?
Seigle:
Em 1990 trabalhei como diretor adjunto no Le Meridien na Bahia. Depois de um ano fui promovido para gerente geral em dois hotéis no Caribe. Fui embora há 15 anos e só agora retornei ao Brasil.

HN: Como você vê a oferta hoteleira no Brasil atualmente e a expansão que o mercado brasileiro teve nos últimos cinco anos? Qual o futuro para os próximos dois anos?
Seigle: Todos os analistas econômicos falam que o Brasil tem um potencial incrível e uma economia estável que dá confiança para os investidores. Eu acredito que o Brasil vai ser um país com muita força daqui uns 10 anos. Sei que muitas pessoas acham que existem muitos hotéis aqui e que está se construindo demais, mas quando o boom econômico vier, que está chegando pouco a pouco, as coisas vão mudar.

HN: E o mercado no país?
Seigle: Falando em relação ao Le Meridien Copacabana, São Paulo é o nosso maior emissor. 
Representa 30% no mercado. E queremos investir mais no mercado paulistano, que é o maior para nós. Precisamos investir mais no mercado regional também, que está próximo e pode ser mais fiel. Tempos atrás, os hoteleiros sempre buscavam seus clientes a 10 mil km do país. E sempre estavam negligenciando o mercado regional. Isso já mudou muito. Aqui temos o mercado brasileiro, mas também temos o regional. Como a Argentina, Chile, até o México. Quando cheguei na Ásia em 2003, o mercado internacional representava 60% e o asiático 40%, Hoje isso já mudou, está em 50% para cada mercado.

HNOs hoteleiros reclamam que faltam vôos da Europa para o Brasil. O que você acha disso?
Seigle: O
s hoteleiros falam da falta de vôos e as companhias aéreas sempre falam que faltam hotéis. É uma coisa que temos que desenvolver aqui, mas estamos fazendo bem. A Embratur está apoiando. Comparado com outros países, o Brasil está fazendo muito para o turismo. Os hotéis também deveriam se unir e fazer sua parte também. É preciso vender o destino em primeiro lugar, depois o hotel.

 

HN: Os hotéis cinco estrelas, em São Paulo, estão atrevessando uma fase não muito boa. Você poderia falar sobre esse mercado?
Seigle: Não conheço bem o mercado de São Paulo. Acredito que é uma cidade que faz muito mais negócios com os quatro estrelas do que os cinco. São muitos homens de negócios e diferença tarifária está muito pequena nas duas categorias. Estamos entre o 4 e 5. Em muitos lugares do mundo a diferença realmente é muito pouca, exatamente o que está acontecendo aqui. Os 4 e 5 estrelas, e o luxo, pode ser que estes sejam os mais difíceis de vender. Em Paris não existe mais a classificação 5 estrelas, o máximo é quatro.

HN: Como você vê a saída para esses hotéis?
Seigle: Eles não podem baixar as tarifas para o nível dos hotéis de quatro estrelas, porque estará criado um confliito de interesses. Eles deveriam trabalhar com valores agregados e deixar uma diferença de 40 e 50 dólares. Mas, os cinco estrelas precisam justificar a razão de serem cinco estrelas.

HN: Em relação ao Le Meridien Copacabana, como estão os apartamentos?
Seigle: Iremos iniciar uma fase para começar a reformar algumas unidades habitacionais que ainda faltam. Estamos com 485 apartamentos e o cronograma deverá levar mais dois anos, já estamos trabalhando há um ano e devemos fazer 150 UHs. Algumas áreas já foram trabalhadas, como o lobby e outras área públicas.

HN: E a segurança em Copacabana, melhorou?
Seigle: Sim, muito.
O maior problema é que é a própria população que faz a reputação da violência. E isto é muito negativo. A publicidade é mais negativa no país do que lá fora. 

A ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) está fazendo um trabalho sério, colocando agora postos de vigilância em Copacabana. E o policiamento também aumentou. Deveríamos iniciar uma campanha mostrando que se pode andar tranqüilamente em Copacabana, com depoimentos de hóspedes que passaram dez dias no Le Meridien para acabar com esta imagem negativa.

É óbvio que não se pode andar com jóias, relógios caros, assim como não se pode fazer isso em qualquer grande cidade do mundo. É preciso realçar o lado bom do Rio de Janeiro e trabalhar para sanar o lado negativo.

Acredito que o ideal é colher depoimentos de turistas que retornam ao Rio de Janeiro e mostrar o lado mágico da cidade, que reflete a hospitalidade em todo o país. É isso que facina os turistas, além das belezas naturais de cada região, é claro.