Phillipe François vem ao Brasil
para o fórum da Amforht

(fotos: divulgação)
 
O Centro Universitário Senac recebe, entre os dias 22 e 24 de setembro, o Fórum Mundial Amforht 2010, organizado pela Associação Mundial para a Formação em Turismo e Hotelaria (Amforht). O evento deverá reunir empresários, gestores, pesquisadores e estudantes dos segmentos de hotelaria e turismo, e conta com a presença de convidados de diferentes áreas. Dentre os palestrantes estão Albert Boswijk, da Universidade de Amsterdã, Mário Passos Ascenção, da Universidade Haaga-Helia da Finlândia, e Gilles Lipovetsky, escritor e docente da Université de Grenoble.
 
Phillipe François, presidente da Amforht, vem para o Brasil participar do evento, e concedeu à equipe do Hôtelier News uma entrevista, juntamente com Márcia Harumi Miyazaki, coordenadora de desenvolvimento de cursos de hotelaria do Senac São Paulo e organizadora do fórum. Dentre os tópicos abordados pelos dois estão as transformações pelas quais a hotelaria vem passando e, claro, como se dá o ensino de hospitalidade aqui no Brasil e no exterior.
 
François, além de estar à frente da associação, preside também outras três instituições: o Instituto Profissional da Universidade de Bordeaux, na França, o Instituto de Estratégias de Turismo e o Ecorismo, entidade que organiza fóruns de discussão sobre desenvolvimento sustentável do turismo. Em 1987, ele criou a Ecole de Savignac, uma escola de gerenciamento de hotelaria que, hoje, é reconhecida em toda a Europa.
 
Já Márcia tem o Senac como uma constante em sua formação e vida profissional. É graduada em Hotelaria pelo Centro Universitário Senac, pós-graduada em Recursos Humanos e Gestão Educacional, Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, atualmente pós-graduanda em História da Arte pela FAAP – SP. Há 15 anos ela trabalha no Senac, como trainee de hotelaria no Grande Hotel São Pedro. Juntos, os dois profissionais são responsáveis pelo evento.
 
Por Juliana Bellegard
 
 
Hôtelier News: Como surgiu a Amforht? Como a associação começou e o que ela é hoje?
Phillipe François: Nossa associação foi fundada sob a liderança da Organização Mundial de Turismo. Ela foi gradualmente se desenvolvendo na França, onde tem seu escritório central. Uma curiosidade é que eu sou apenas o terceiro francês a ocupar o cargo de Presidente. Nós promovemos cerca de 20 grandes fóruns em diferentes países, e, nestes 41 anos de existência, a Amforht se tornou, gradualmente, a principal parceira dos players e decision-makers internacionais do setor de turismo.
 
HN: Por que realizar este evento no Brasil? O que ele agrega para o ensino de hotelaria?
Márcia Harumi Miyazaki: Sabemos do grande potencial turístico de nosso País e também da necessidade de formação qualificada para o setor. O Senac São Paulo, alinhado aos objetivos da Amforht de promover o desenvolvimento da formação que envolve o turismo e a hotelaria frente à evolução e às necessidades do setor, candidatou-se a sediar o evento para proporcionar um espaço de reflexão e discussão sobre o turismo contemporâneo e as mudanças nas relações produto, turista e comportamento, com o enfoque no Turismo da Experiência.
 
HN: Como este evento irá ajudar a desenvolver o ensino de hospitalidade no Brasil?
PF: O fórum representa uma excelente oportunidade para todos os estudantes e profissionais de turismo, hotelaria e eventos para se reunir e debater determinados temas em um evento amigável, mas pontual quanto à busca de resoluções. Espero receber muitos deles, provenientes de escolas e hotéis de todos os portes.
MHM: Identificamos um tema pouco discutido tanto no Brasil, como no mundo, o Turismo de Experiência. O evento será palco para esta discussão e reflexão, com conferências, debates e estudos de casos. Palestrantes nacionais e internacionais compartilharão suas experiências, para proporcionar aos participantes condições de direcionar seus negócios, pesquisas e o ensino desta tendência, atualizando seus conhecimentos sobre o consumidor e o turismo.
 

Como formar os novos hoteleiros?
(imagem: your-soul.com)
 
HN: Quais são os principais desafios do ensino de hospitalidade e turismo hoje?
PF: Nós acreditamos que os principais desafios do ensino de hospitalidade e turismo estão ligados aos desafios da indústria global do turismo. Temos que dar suporte para o que está acontecendo no mercado. Isso pode ser caracterizado em três principais componentes: Habilidade de desenvolver este setor de maneira responsável, integrando ética, segurança e dimensões ambientais; habilidade deste setor de atrair fundos adicionais – em um futuro próximo, teremos um foco maior no investimento ao invés de focar no marketing; habilidade para lidar com questões sociais advindas do turismo, incluindo educação e treinamento inicial e permanente, questão com a qual a Amforht está claramente comprometida.
 
HN: Como você vê o mercado profissional para hoteleiros?
PF: Nós somos pessoas razoavelmente otimistas. A maioria de nossas análises mostram que o turismo ainda tem um grande futuro a sua frente, portanto iremos precisar de mais equipamentos hoteleiros. Eles devem ser, no entanto, um pouco diferentes dos atuais, com uma equipe ainda mais competente e motivada.
MHM: O mercado de hotelaria está em um de seus melhores momentos no Brasil, com perspectivas de crescimento ordenado, tendo em vista as oportunidades que os grandes eventos esportivos trarão e preocupado em gerir e prestar serviços com excelência.
 

“Somos razoavelmente otimistas”
 
HN: Dentro do ensino superior, como os alunos estão sendo preparados para este mercado?
MHM: Eles estão sendo preparados para entender o mercado hoteleiro, identificar oportunidades, desenvolver projetos e fazer a gestão do negócio. Para isso, a base operacional aprendida nos laboratórios, na prática profissional nos hotéis-escola Senac e nos estágios, são imprescindíveis para a compreensão do funcionamento de um empreendimento hoteleiro, complementando esta formação.
 
HN: E como estes estudantes devem se preparar para começar suas carreiras?
PF: Três ideias – eles não devem ter medo de tomar responsabilidade para si, e ter iniciativa, eles devem prestar atenção naquilo que o profissional responsável pelo seu treinamento ou seu superior e devem trabalhar duro. Você já reparou que aprendemos mais rapidamente quando trabalhamos mais?
 
HN: Como o mercado profissional recebe os estudantes?
PF: A excelente reputação dos centros de treinamento beneficiam tanto os estudantes quanto os hoteleiros. A relação entre estes dois setores é excelente na maioria dos países, e tem sido assim há muito tempo. Claro que nós devemos sempre assegurar o equilíbrio entre as expectativas dos estudantes e dos profissionais, mas não é esse o centro do papel de quem treina profissionais?
 
HN: O que os hoteleiros devem procurar em um estudante na hora de contratar?
PF: Eu acredito que um hoteleiro dela buscar pelo potencial e personalidade mais do que a técnica quando contrata um estudante ou recém-formado. Este é um dos desafios que enfrentamos.
 

Preparar o aluno para o mercado e incentivar o desenvolvimento pessoal são objetivos do ensino da hotelaria
(foto: tirsenses.net)
 
HN: Qual é o foco do ensino da hospitalidade hoje? Ela deve mudar de alguma maneira para formar os estudantes para o futuro?
PF: O desenvolvimento pessoal é, provavelmente, um de nossos grandes desafios. Nós temos que treinar nossos futuros atletas da profissão! Nós devemos buscar o equilíbrio entre as necessidades do futuro da profissão, as mudanças da sociedade em que nossos estudantes vivem e o método de desenvolvimento pessoal dos jovens colaboradores e estudantes.
 
HN: Como é o ensino de revenue management fora do país?
PF: O revenue management já é uma ferramenta de gerenciamento comum dentro da estrutura hoteleira. Tanto seu ensino quanto sua prática e aplicação no mercado são essenciais.
 
HN: E a experiência em turismo, o que agrega para a formação dos profissionais?
MHM: Discutir a questão da experiência em turismo proporciona um repensar sobre os atuais produtos ofertados e os desejos e expectativas do novo consumidor, instigando à criação de produtos diferenciados e inovadores alinhados a essa tendência, traz a compreensão das transformações nas relações de consumo ao longo da história.
 

Márcia está há 15 anos no Senac
 
HN: A hotelaria está mudando?
MHM: A hotelaria está cada vez mais profissional, gerindo com foco em resultados não apenas financeiros, mas também ambientais e sociais, adotando formas de gestão mais especializadas, buscando informação, trabalhando novos canais de distribuição para captação de seus clientes.
 
HN: Qual o futuro da hospitalidade? Como lidar com as novas tecnologias?
PF: O futuro será inovação, criatividade, qualidade e respeito pelas pessoas e pelo planeta. A nova hospitalidade será definida por sete palavras-chave: ética, responsável, humana, criativa, diversificada, segura e rentável. Nós iremos discutir esses temas durante nosso fórum no Senac. Sobre as novas tecnologias, é óbvio que elas irão estar cada vez mais presentes, mas usadas para os objetivos citados acima.