Daniel Guijarro, presidente da Resorts Brasil e João Bueno, diretor Executivo da entidade
(foto: arquivo HN/Filip Calixto)

Presente nos bastidores do segmento turístico e hoteleiro, bem como de outras áreas profissionais, o conhecimento jurídico pode servir como uma ferramenta importante para deslanchar qualquer tipo de investimento no mercado. À beira da gestão e complementar a ela, as práticas jurídicas podem não só prever um possível naufrágio como fornecer medidas de prevenção que evitem a necessidade de um resgate.

Com 30 anos exercendo a advocacia, dos quais 16 foram dedicados ao segmento turístico, João Bueno, atual diretor Executivo da Resorts Brasil, enxerga a necessidade de haver, junto a qualquer empresa que atue no mercado, a figura de um técnico sobre questões judiciais. Isso porque, em sua perspectiva, este conhecimento complementar só tem a contribuir para o desenvolvimento de um negócio.

“Muitas vezes, um profissional que não tenha esse conhecimento técnico sobre o turismo pode ter mais dificuldade para formular um parecer ou analisar um contrato, inclusive criando alguns obstáculos que muitas vezes poderiam ser sanados se existisse o conhecimento mais profundo da área”, aponta.

Embora seu domínio sobre o setor jurídico tenha consolidado sua carreira, a porta de entrada no turismo aconteceu junto a entidades e associações. Ali o profissional pode materializar toda a sua formação como advogado. “As associações, foram fundamentais para identificar a importância das questões jurídicas no dia a dia da atividade em todos os players do segmento; diria que minha atuação em associações/entidades foi muito impulsionada pela carreira jurídica”, explica.

Questões burocráticas e protocolares como assembleias e suas atas, redação e formulação de documentos, passando por questões mais complexas ligadas a construção de contratos comerciais são algumas das atividades que compõe a gama de atuações que podem ser realizadas por profissionais que possuem experiência no setor jurídico.

Por Giulia Ebohon


Diversas questões burocráticas podem ser resolvidas com facilidade por meio de um profissional que tenha experiência no segmento judicial
(foto: arquivo HN/Juliana Bellegard)

Hôtelier News: Que leitura você faz de sua própria atuação no segmento de turismo?

João Bueno: Minha atuação no turismo, notadamente no corporativo, não foi algo tão planejado. No final dos anos 90, a conclusão de uma pós-graduação em Administração de Negócios, e em paralelo a ruptura com sócios no escritório de advocacia onde atuava, me fizeram pensar em buscar novos horizontes, fora da advocacia, e por uma feliz coincidência, acabei sendo contratado para ser o gerente da Filial São Paulo da Itapemirim Turismo, na época pertencente ao Grupo Itapemirim.

Na sequência, como a Itapemirim era filiada ao Favecc (Forum Agências de Viagens Especializadas em Conta Comercial) –  que anos depois deu origem a Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas) – acabei sendo convidado para o gerente executivo daquela associação, por conta da minha formação jurídica. Diria que a experiência no Favecc foi a mola propulsora para meu desenvolvimento e conhecimento de todos os protagonistas da indústria do turismo brasileiro. Na sequência, atuei numa grande TMC, e depois tive meu ingresso na hotelaria, onde fui gerente de Vendas do Corporativo para América do Sul da Meliá.

Após o Meliá, tive uma outra grande oportunidade, atuando na Abgev (Associação Brasileira de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas) – atual Alagev (Associação Latino-Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas) – trabalhando com os Comitês da Associação, o que me permitiu fazer a leitura de vários outros setores como companhias aéreas, meios de pagamento, empresas organizadoras de eventos, e a maneira como todos se entrelaçam e se relacionam no trade.

O reencontro da vida jurídica com minha nova área de atuação aconteceu em meados de 2009/2010, quando por convite da Academia de Viagens Corporativas da Vivianne Martins e Patricia Thomaz, desenvolvi um curso com foco jurídico, tratando de contratos para viagens e eventos corporativos, que faria parte da grade do curso de gestão sobre viagens e eventos corporativos, e os alunos seriam oriundos das agências de viagem, hotéis, companhias aéreas, dentre outros.

A partir dali, e com a promulgação da Lei Geral do Turismo em 2010, já tinha a consciência da necessidade de maior formalização das relações comerciais em algumas áreas, comecei a desenvolver a consultoria jurídica focada nas questões preventivas e ligadas a questões consumeristas (código de defesa do consumidor).

E a partir de agora, abraçando outra causa associativa, agora junto à Resorts Brasil. 

 
Os meios de hospedagem estão inserindo cada vez mais serviços digitais 
 
(foto: iStock.com/BrianAJackson)

HN: Durante sua trajetória profissional em entidades de turismo, o diploma de advogado ajudou ou criou obstáculos para exercer sua função e opinar no desenvolvimento das organizações? 

João Bueno: Diria que minha atuação em Associações/Entidades foi muito impulsionada pela carreira jurídica, até porque quando cheguei no trade, eu não tinha experiência na área do turismo, mas conseguia atuar ativamente junto as associações e entidades nas questões burocráticas e formais que se apresentavam no dia a dia destas. Atendo desde as questões mais burocráticas e protocolares como assembleias e suas atas, redação e formulação de documentos, passando por questões mais complexas ligadas a construção de contratos comerciais para as diversas relações comerciais entre os vários fornecedores que orbitam no trade. E também, pareceres sobre questões decorrentes das relações consumeristas e direitos do consumidor.

HN: De que forma a união entre conhecimentos jurídicos e as atividades relacionadas ao turismo se complementam? Que tipo de benefícios esta complementariedade acarreta? 

João Bueno: Acredito que o conhecimento que tenho do lado não jurídico da atividade, operacional e comercial permite uma leitura muito mais prática das questões jurídicas. Principalmente a compreensão do “como funciona” dentro de um hotel, ou como funciona uma agência de viagens, é o principal beneficio para uma análise de um contrato, ou análise e parecer sobre um tema envolvendo reclamações de um consumidor insatisfeito com algum serviço que lhe foi prestado. Muitas vezes, um profissional que não tenha esse conhecimento técnico sobre o turismo, pode ter mais dificuldade para formular um parecer ou analisar um contrato, inclusive criando alguns obstáculos que muitas vezes poderiam ser sanados se existisse o conhecimento mais profundo da área.

As relações no turismo são extremamente dinâmicas, algumas ainda informais, e em alguns casos fogem dos padrões de uma contratação normal praticado em outras indústrias. O profissional do direito tem que, além de conhecer a Lei, saber como funciona os meandros da atividade.

HN: Atualmente meios de hospedagem estão se atualizando com a inserção da tecnologia tanto nas vendas como nos serviços oferecidos pelos hotéis. Que tipo erros são comuns nesta abertura digital? 

João Bueno:  Um ponto muito debatido nos dias de hoje diz respeito à famosa avaliação que os hóspedes fazem dos estabelecimentos nos sites destinados a esse fim. As redes sociais já fazem parte do nosso dia a dia, e exigem por este motivo um preparo e cuidado pelos hotéis, que devem agir rapidamente, monitorando sua reputação nos sites que disponibilizam essa análise, e responder sempre e rapidamente aos eventuais comentários lançados em alguns destes canais. E, no caso de algum hóspede fazer algum comentário que desagrade o hotel, dependendo da natureza deste comentário, se for dentro dos limites da razoabilidade, o hotel deverá agir rapidamente para tirar esta impressão do hóspede, e nunca ignorar este comentário sem dar o merecido tratamento, ou partir para o confronto com este.

Outro ponto que merecem o mesmo cuidado são as reservas feitas online, principalmente as realizadas pelos vários canais hoje existentes no mercado da distribuição. Existem muitas demandas nos tribunais oriundas destas situações; o hóspede chega ao hotel e não encontra sua reserva por algum problema sistêmico/tecnológico.


(foto: arquivo pessoal)

HN: Em sua opinião, qual é a importância de haver profissionais com ampla experiência e domínio sobre práticas jurídicas no setor de resorts e meio de hospedagem em geral? 

João Bueno: Sempre comento que algumas matérias ministradas nos cursos de Direito deveriam ser gerais, para todos os outros cursos. Creio que atualmente, com a Lei Geral do Turismo, mais o Código de Defesa do Consumidor, e a complexidade de algumas situações no dia a dia dos empreendimentos, seria muito positivo como forma de minimizar os riscos, a existência de profissionais em algumas funções com este conhecimento.

HN: Como diretor executivo da Resorts Brasil, de que forma  você enxerga o desempenho deste setor no Brasil? 

João Bueno: O setor vem de um período de bons resultados, com expectativas para este ano de 2015, preocupados com o momento econômico. Mas, por outro lado, pelo trabalho da própria associação ao longo dos últimos anos, o setor está bem estruturado, gerando estatísticas para o mercado, e para os próprios resorts balizarem suas ações e estratégias de Vendas e Marketing.

HN: Como você acredita que seus conhecimentos jurídicos podem beneficiar a entidade?

João Bueno: Desde as questões mais burocráticas da entidade, como questões ligadas ao Estatuto Social, os assuntos decorrentes da realização das Assembleias Gerais, a confecção das atas, passando pelos temas mais complexos, notadamente os ligados a projetos de Lei que envolvam temas que possam de alguma maneira causar algum impacto na atividade dos resorts, exigindo ai uma atuação junto aos gabinetes quer sejam Estaduais, Federais ou Municipais, buscando esclarecer os políticos envolvidos sobre toda a realidade do mercado dos Resorts, munindo-os de informações detalhadas sobre os temas.

HN: Que tipo de estratégias você pensa em desenvolver junto com a Resorts Brasil para conter a sazonalidade comum entre os resorts, que acabam apresentando quedas nos resultados em temporadas de inverno?

João Bueno: A Resorts Brasil já tem um calendário de workshops e feiras, que é definido anualmente e aprovado entre todos os empreendimentos associados, que busca trabalhar com todos os períodos do ano, atuando em mercados emissores de interesse, nacionais e alguns internacionais. Um ponto que será mais trabalhado pela associação é o segmento MICE, sendo que já temos contratado dois eventos exclusivos da Resorts para esta área. Uma boa parte dos empreendimentos possuem instalações e equipamentos para a realização de eventos de várias naturezas, e o MICE é uma estratégia para tal.

Serviço
www.resortsbrasil.com.br