Intervenção militar – assinatura TemerTemer autoriza a intervenção: qual seu impacto?

Palco de uma intervenção militar em vigor e de cenas caóticas, dignas de filmes de ação, o Rio de Janeiro tem lugar cativo nos noticiários policiais. A Cidade Maravilhosa parece, contudo, não ser tão perigosa quanto se imagina. Um exemplo disso é o ranking divulgado, na última semana, pela ONG mexicana Seguridad, Justicia y Paz das 50 cidades mais violentas do mundo, que lista 17 municípios brasileiros. Para surpresa e, principalmente, desconhecimento de muitas pessoas, o Rio não está entre eles. 

Então, por que essa celeuma toda em torno da cidade? Como o noticiário impacta os negócios do trade turístico? A intervenção é solução? A reportagem do Hotelier News falou com alguns representantes cariocas do setor para entender a realidade atual e como a repercussão da violência – e da intervenção militar – ressoa no segmento.

Intervenção vê com bons olhos​

Na avaliação de Michael Nagy, diretor do Rio CVB (Convention & Visitours Bureau), o fato do Rio de Janeiro ser protagonista na vida cultural e turística do país acaba atraindo muita atenção da mídia para tudo que acontece – para o bem e para o mal. “A cidade tem problemas ligados à violência, mas nada distante do que ocorre em outros lugares. Então, precisamos entender por que tudo que acontece aqui é multiplicado", pondera.

O executivo vai além e cita casos de intervenções similares ao redor do mundo. “Ter as Forças Armadas zelando pela segurança da população não é privilégio do cidadão da capital fluminense”, destaca. Quanto à captação de feiras e congressos para a cidade, Nagy garante que, até o momento, nada mudou. "Estamos acostumados a cuidar da imagem do Rio e seguimos trabalhando", diz.    

O diretor fala em nome de uma associação com 179 empresas que, juntas, faturam perto de R$ 2 bilhões anuais. "Como associação, somos a favor da intervenção militar porque queremos nossa cidade cada vez mais segura", afirma.

Compartilhando da missão de divulgar a cidade pelo Brasil e pelo mundo, Paulo Senise, presidente da TurisRio, enxerga a medida governamental como esperança para o setor. "Talvez possa ser a solução para a criminalidade da cidade. E aí conseguiremos trabalhar o destino de maneira ainda melhor", considera. Atualmente, Senise usa o argumento da objetividade para "vender" o Rio de Janeiro. "Buscamos evidenciar o que há de bom para ser visto e vivido aqui", sintetiza. 

O presidente da TurisRio ainda destaca o momento estrutural que o destino vive. Ele lembra que, graças a uma enxurrada de investimentos nos últimos anos, a cidade dispõe de boa infraestrutura turística, com rede hoteleira renovada, espaços de eventos modernos e mobilidade urbana mais eficiente.

Intervenção - Alfredo Lopes e Michael NagyLopes e Nagy compartilham de visão parecida sobre a medida

Perspectiva hoteleira

Um dos novos investimentos na cidade veio pelas mãos da ICH Administração de Hotéis, dona da marca Intercity, que tem dois hotéis no Rio.​ O primeiro foi aberto em 2016, enquanto o segundo – uma conversão de bandeira – entrou no portfólio no último mês. Com focos distintos, os dois empreendimentos usam as armas que têm para não perder e atrair hóspedes.

Sérgio Bueno, diretor de Desenvolvimento do grupo, admite que há preocupação relativas à ocupação, bem como a futuros investimentos. "É uma cidade importante no panorama nacional e precisamos encarar o fato de que o desenvolvimento econômico está comprometido", comenta. Para o executivo, enquanto os problemas de violência não foram resolvidos ou amenizados, os investimentos tendem a continuar escassos. "Percebemos que o Brasil começa a mostrar sinais de recuperação na economia e, no Rio, isso não está sendo refletido", avalia Bueno. "O Rio precisa se reinventar", acrescenta.

Mesmo com todo esse pano de fundo, a hotelaria ainda não sentiu os efeitos da intervenção. Segundo Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro), os índices de ocupação dos meios de hospedagem da cidade estão compatíveis com o verificado no ano passado. "Não houve um impacto avassalador até o momento, mas sabemos que quedas podem acontecer", confessa.

Lopes acredita que os resultados podem não ter mudado porque ninguém sabia o que esperar da rotina de uma cidade intervencionada. Agora, com pouco mais de um mês na nova realidade, notou-se que nenhuma mudança grandiosa aconteceu. "A tendência é que tenhamos manutenção nos números", pondera.

Calendário anual de eventos

Suplantar a pecha de cidade violenta e levar mais acontecimentos ao Rio ficou mais fácil este ano. No começo do mês, o governo estadual um calendário anual de eventos para favorecer tanto a capital, como o interior. É lá, por exemplo, que estão 17% das atrações que integram a agenda.

No ato do lançamento, o governo fluminense assegurou que a ideia é contribuir para a revitalização econômica do estado. Por isso, está previsto um investimento de R$ 150 milhões nos eventos selecionados. A verba aplicada chega por meio de patrocínios de empresas estatais e das leis federais de incentivo.

Para Paulo Senise, é fundamental entender que o turismo e os eventos podem ser um manancial de evolução econômica. "Uma agenda consistente, tanto para capital, como para o interior, pode ter impacto econômico muito grande", opina. O aumento no fluxo de conferências, segundo o presidente da TuriRio, também ajuda a fortalecer a imagem da cidade e rechaçar o estigma de município à deriva.

(*) Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil

(*) Crédito da foto: Alexandre Macieira