Coletiva inicial do Adit Invest 2011 foi marcada
pelo debate da falta de UH´s em algumas cidades
(foto: arquivo HN)
 
À exaustão já se debateu, inclusive por aqui, o formato base das feiras e eventos no turismo. A crítica é norteada pela criatividade – ou falta dela – de se fazer algo que ofereça ao participante um pouco de aprimoramento. Em decorrência da falta de outros óculos, o próprio material extraído pela imprensa sobre determinado encontro muitas vezes fica vazio, e a percepção que se tem é que nada de inovador ou reflexivo foi desenhado. Mas nem tudo são espinhos – e quando não os são, os louros colhidos devem ser citados. Por essa semana o Adit Invest 2011, feira dos mercados imobiliário e turístico realizada na capital cearense, trouxe um alto manancial dos interstícios que a hotelaria sofre no dia-a-dia.
 
Mais do que dizer que tudo são flores e que a Copa do Mundo é uma causa ganha no País, alguns debates vieram na contramão, cutucando a ferida da falta de profissionalismo, da ausência de visão a longo prazo por parte dos investidores e da carência de um material com metodologia clara e científica para se mensurar o valor correto de um empreendimento neste mercado – o que, em muitos quesitos, ainda é uma pergunta.
 
Citando baixo, dadas reflexões ficaram mais latentes, como a burocracia para se investir na construção de um hotel. O consenso entre painelistas era que a sociedade privada deve intervir para obter melhores taxas de juros e impostos na construção de um hotel, o que reverberaria um fomento na economia do setor e exigiria da União uma regra mais clara e transparente quanto aos trâmites que viabilizam a assinatura de um contrato deste nível.
 
Do outro lado, uma representante do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Social e Econômico) mostrava aos hoteleiros o que havia de possível no que tange a subsídios financeiros bancados pelo governo para construção, ampliação ou reforma de um hotel. Independente do âmbito paradoxal, o sulco que se extraiu foi a contestação saudável das inúmeras possibilidades para que a hotelaria se profissionalize por meio de ações legais e que envolvam os interessados do setor.
 
A necessidade não era um dogma sobre o que deve ser feito, mas sim a atividade que depende essencialmente a pergunta, não da resposta: a reflexão. A mudança de direção por excelência se faz e se constrói com boas perguntas. O questionamento desafia, provoca, instiga, ilumina a inteligência, alimenta o pensamento. E esse era o modelo no Adit.
 
Outra chaga que supurava percalços e foi visitada sem ressentimentos, já na coletiva inicial do evento, foi a carência de quartos em cidades como São Paulo, Rio de janeiro e Brasília – igualmente já falada por aqui. Até mesmo um secretário de Desenvolvimento do Ministério do Turismo assumiu a dificuldade de se encontrar vagas em hotéis no meio da semana. Numa maré contrária às muitas associações do mercado – que dizem que o parque hoteleiro no Brasil não sofre carência -, Colbert Martins da Silva Filho declarou o problema fazendo mea culpa – mas ao menos assumindo que ele existe.
 
Matérias não menos importantes – como a falta de visão a longo prazo por parte de investidores, que esperam rentabilidade imediata na hotelaria – transpareceram o caleidoscópico quadro vivenciado até mesmo por grandes redes. Para os debatedores, a leitura era que não há um amadurecimento que coloque como regra a necessidade de se aguardar, em alguns casos, até 10 anos para que a estrutura física de um hotel seja quitada. Isso deixava tangível também que tal despreparo profissional é o mesmo que é base para o cálculo do preço de venda de um hotel, uma avaliação feita sem embasamento e com uma metodologia subjetiva norteada pelo achismo.
 
A overdose implícita que a hotelaria enfrenta, e corre às veias do setor, arrisca pegar outros órgãos do corpo caso determinadas crendices não forem questionadas. A tentativa de mudar a máquina é a primeira coisa para que a hotelaria ganhe o timbre econômico que ela de fato possui, como foi possível ver nos 4 dias de Adit Invest. Resta saber se heróis ou vilões estarão em prol de uma ruptura modernizadora e adulta deste mercado.