Roberto Rotter fala sobre os projetos do Fohb,
o mercado hoteleiro e a aproximação com
outras entidades do turismo
(fotos: Juliana Bellegard)
 
Roberto Rotter está no centro das discussões, decisões, polêmicas e demais assuntos que dizem respeito não só ao mercado hoteleiro como ao turismo de maneira geral. O executivo acumula, hoje, três cargos em diferentes setores do trade: o de diretor-presidente da rede Pestana Hotels & Resorts para a América do Sul, o de vice-presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo) e, mais recentemente, assumiu a presidência do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). 
 
Na presidência do Fohb desde novembro do ano passado, ele enfatiza os três eixos de trabalho – Relacionamento, Conhecimento e Desenvolvimento – como norte para esta nova gestão. Criado
em 2002 por iniciativa de 12 redes para que houvesse uma entidade que aglutinasse grupos e empresas hoteleiras, o Fohb hoje conta com 27 redes nacionais e internacionais com atuação
no Brasil, somando mais de 500 hotéis e 80 mil apartamentos em mais de 100 cidades em todas as regiões do País. “Temos como objetivo fomentar a discussão, buscar um entendimento comum entre os membros. A ideia não é determinar, mas sim orientar, discutir, debater”, esclarece Rotter.
 
Numa entrevista exclusiva ao Hôtelier News, o profissional falou sobre relações institucionais, capacitação, mercado e outros temas.
 
Por Juliana Bellegard
 
A capacitação é uma das áreas que ganha cada vez mais destaque na pauta dos executivos de grandes redes. Com os megaeventos esportivos – Copa do Mundo e Jogos Olímpicos – e com o contínuo crescimento do turismo de eventos nas grandes cidades brasileiras, é necessário prestar atenção nos colaboradores que irão atender a toda essa demanda. Rotter é categórico sobre o assunto: “falta qualificação, a capacitação é necessária, não só pensando na Copa, mas em toda a hotelaria”.
 
  
“Hotelaria é uma vocação – antes de uma formação”
 
Tanto os profissionais que ainda irão ingressar no mercado de trabalho quanto aqueles que já atuam no segmento são contemplados nas diferentes ações do Fohb. As parcerias com inúmeras instituições de ensino – como a Anhembi Morumbi e o Centro Universitário do Senac – permitem que os alunos entrem em contato com a hotelaria conversando diretamente com colaboradores das redes, como acontece na Feira de Oportunidades, realizada nos últimos dois anos em conjunto com o Senac. Além disso, a entidade mantém o site Talentos Fohb, que
divulga vagas e oferece dicas para os estudantes.
 
“Queremos explicar para os estudantes como é o mercado. Hotelaria é uma vocação – antes de uma formação. É abdicar de coisas na sua vida para fazer algo que você goste. Também é
preciso ser dinâmico, pois a velocidade de crescimento no mercado é muito grande, você tem que responder na mesma proporção”, explica o presidente. Outra iniciativa voltada à qualificação da mão-de-obra hoteleira é o Supletivo Virtual, projeto de ensino à distância que incentiva a conclusão dos ensinos Fundamental e Médio por profissionais das redes associadas e também seus familiares.
 
“Independentemente da Copa, 
a economia vai crescer”
 
Mercado hoteleiro
Como hoteleiro e à frente de entidades ligadas ao setor, Rotter tem uma visão bastante madura de como está o mercado brasileiro atual. Para ele, o País ainda tem carência de empreendimentos em algumas regiões, enquanto outras estão visivelmente saturadas. “É preciso muito cuidado. Em Salvador, por exemplo, a quantidade de hotéis é maior do que a demanda. Já a cidade de São Paulo está em um limite alto, mas ainda há falta de UHs em certas localidades”, aponta.
 
“Independentemente da Copa, a economia vai crescer. Locais como São Paulo merecem uma reavaliação sobre seus hotéis. É uma cidade que está indo muito mais na linha do econômico, voltado para o segmento de negócios. Em algumas regiões da cidade, há necessidade de empreendimentos midscales”, afirma Rotter. “Os segmentos de turismo de incentivo e de eventos têm crescido. Isso demanda quartos”, completa. Ele alerta, no entanto, que o investimento na construção de novos equipamentos hoteleiros é algo a longo prazo e, dependendo da localização, bastante dispendioso. A capital paulista é um bom exemplo disso: a especulação imobiliária faz com que os preços de terrenos estejam cada vez mais altos, chegando a faltar, inclusive, oportunidades de compra.
 
Mesmo com estas arestas a serem aparadas, e passada a crise de 2009, os associados do Fohb sentiram uma melhora em seus números, diz Rotter. Em 2010, a ocupação média do Brasil foi de 60%, em um total de 530 mil quartos. “Nenhuma das regiões brasileiras teve resultado abaixo desta marca”, relembra. No Rio, a ocupação hoteleira ficou em 75%, e em São Paulo, 66%. Rotter cita também o crescimento das diárias médias nos hotéis de categoria econômica, midscale e upscale, no último ano – 9,6%, 10% e 8,5%, respectivamente. Os valores registrados foram de US$ 70 para o segmento econômico, US$ 100 para midscale e US$ 160 para upscale.
 
 
Melhorias e adequação tributária
“O mercado hoteleiro sempre pode melhorar. Todo negócio se faz em cima de mudanças”, aponta o presidente, quando questionado sobre o que pode ser modificado na hotelaria, citando a transição do ‘romantismo’ dos anos 70 para um setor muito mais voltado para resultados, como é hoje. De acordo com ele, o que falta, realmente, é adequação às melhores práticas existentes no mercado. O tarifário praticado pelos hotéis aqui no Brasil é um exemplo disso. Enquanto os empreendimentos no exterior modificam o valor conforme a demanda, dia da semana e outros fatores. “Hoje, o público brasileiro ainda não suporta as diferenças de tarifas. Nos Estados Unidos, isso é comum, eles buscam as melhores condições de vendas. Os valores mudam diariamente”, explica.
 
Outra questão importante levantada por Rotter, e que deverá ser trabalhada pelo Fohb nos próximos anos, é a adequação tributária da hotelaria. O objetivo é criar um índice de custo hoteleiro, utilizando indicadores de inflação e estatísticas do setor para “saber qual nosso custo vs. nossa carga tributária”, menciona, ressaltando que particularidades como esta devem ser abordadas com cautela. O problema de mão-de-obra é semelhante: muitas vezes a hotelaria se utiliza de colaboradores temporários. “Precisamos sistematizar uma forma legal de atender a essa nossa necessidade”, coloca. A proposta é a criação de um grupo de trabalho dentro do Fohb para tratar destes assuntos.
 
“O mercado hoteleiro sempre pode melhorar.
Todo negócio se faz em cima de mudanças”
 
 
Relacionamento institucional
ABGev (Associação Brasileira de Gestores de Viagens Corporativas), Abracohr (Associação Brasileira de Compradores para Hotéis), Abracorp (Associação Brasileira de Agênicas de Viagens Corporativas), Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) – as entidades de turismo, viagens e hotelaria são muitas.
 
Como se dá o diálogo entre o Fohb e elas? “Precisamos estar sempre em sintonia com os players, e isso inclui as entidades. É necessário envolvê-las, trabalhar em conjunto em busca das melhores práticas de relacionamento e adequação ao mercado”, aponta Rotter. Essa aproximação e diálogo tem como objetivo maior, conforme o próprio presidente cita, “intensificar a integração, visando fortalecer o setor, compartilhando informações e trabalhando a qualidade de atendimento – para se crescer de maneira sustentável”.
 
Esta aproximação não se dá somente no âmbito da hotelaria, mas também com a Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). Segundo Rotter, apesar do crescente número de cruzeiros aportando nas cidades brasileiras representar uma baixa na ocupação dos resorts, não há motivo para que a relação das duas entidades não continue bastante amigável. “Para que os cruzeiros não prejudiquem os resorts, mantemos um diálogo bastate aberto com a Abremar”, garante, mais uma vez lançando um olhar para as práticas internacionais. “Temos que ver como essa questão é trabalhada lá fora e adequar para o cernário brasileiro”, indica.
 
“Para os hotéis independentes, não há dúvidas
de que é bom haver uma classificação”
 
Ministério do Turismo
Rotter ressalta que uma boa relação se repete em relação ao MTur (Ministério do Turismo). “Espero que o ministro Pedro Novais dê sequência ao bom trabalho que vinha sendo feito por Luiz Barretto”, opina. Uma das iniciativas em que as entidades atuaram juntas foi o processo de criação da nova classificação brasileira dos meios de hospedagem. O presidente aponta que o Fohb participou do processo, junto com o MTur, dando sua contribuição. Ele revela que a entidade é favorável à classificação desde que ela não seja obrigatória.
 
Inicialmente, o financiamento oferecido pelo BNDES para os projetos inscritos no Pró-Copa seria vinculado à classificação, mas Rotter explica que as redes hoteleiras foram contra e o BNDES (Bando Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) voltou atrás na decisão. “Hoje em dia, quem rege é o mercado. As redes criam submarcas, que já são uma referência de sua classificação. Isso acontece tanto com as redes brasileiras quanto com as internacionais. No entanto, para os hotéis independentes, não há dúvidas de que é bom haver uma classificação”, finaliza.
 
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