Roseli CapudiRoseli Capudi

Ultimamente muito tem se falado em sustentabilidade, porém, ainda existe a carência de entendimento para as práticas sustentáveis na gestão das organizações. Tenho estudado há anos e disseminado muito este tema, procurando desmistificar o olhar geralmente voltado só  para o meio ambiente.  Mas ainda sinto que a maioria das pessoas remete a sustentabilidade somente para o “verde”.

Neste artigo, procuro buscar reflexões ampliando o olhar para o comportamento das pessoas em suas decisões e seus impactos não somente no meio ambiente, mas nas dimensões econômica e social da empresa. No mundo da hotelaria, falar de sustentabilidade na gestão, é algo de extrema importância, visto que os hotéis movimentam a economia de forma bastante abrangente, ampliando ganhos para a toda a cadeia produtiva. A abordagem abrangente dos impactos gerados nesta cadeia, fundamenta a busca da gestão sustentável.

Para tratar a sustentabilidade de forma estratégica, precisamos inserir ações e boas práticas no  modelo de gestão, incluindo a gestão sustentável no DNA do empreendimento hoteleiro na busca do equilíbrio da gestão pautado no tripé da sustentabilidade, nas dimensões social, ambiental e econômica.

Vale observar, que as políticas estratégicas devem passar pelo processo de amadurecimento para a construção de planos pautados em ferramentas adequadas ao porte do negócio na busca do equilíbrio nas três dimensões. A adoção de ferramentas adequadas vai permitir a inclusão de indicadores específicos que permitam o monitoramento da gestão.

O posicionamento estratégico sustentável passa primeiramente pelo envolvimento das lideranças, e estes então começam a disseminar por toda a organização. Portanto, com o desenvolvimento de líderes mais conscientes e ativistas, o processo evolui naturalmente do discurso para a prática.

Adotar boas práticas no relacionamento com os públicos de interesse vai muito além dos muros da organização. Vejamos como exemplo o relacionamento com fornecedores focando um quarto de hotel. Percebe-se de imediato que o ambiente agrega uma série de itens que poderão impactar  positiva ou negativamente o meio ambiente, o financeiro do hotel e até o bem-estar das  pessoas que ali vierem a se hospedar. Para fechar um pouco o exemplo, vamos focalizar os amenities. Quantos frascos são ofertados ao cliente? Quantos fracos serão dispensados no meio ambiente? Quantos frascos serão usados de fato e quantos serão descartados talvez pela metade? Fica fácil imaginar o tamanho e o custo do desperdício quando se disponibiliza mais que o realmente necessário…Quanto descarte impactante e poluente poderia ser evitado se adotássemos talvez outras alternativas como frascos e produtos biodegradáveis, por exemplo? Ou talvez se adotássemos os dispenser para serem reabastecidos quando necessário. E assim nos outros itens do quarto, como a cama por exemplo, que pode ser produzida com ou sem trabalho escravo ou infantil a partir da cultura e operação daquela empresa. Outro ponto importante é dar preferência para indústrias locais que contribuem com o desenvolvimento local e de entorno, observando a cultura e tradições… Enfim, há muitas oportunidades sustentáveis envolvidas na escolha de produtos e serviços quando analisamos a cadeia produtiva.

Na constituição da equipe interna quando adotamos práticas sustentáveis, necessariamente precisamos ter um programa voltado ao público interno que agregue valor ao serviço e traga resultados positivos para a empresa e para as pessoas. Uma  boa prática é o programa de capacitação. Capacitar é preparar a equipe para desenvolver suas tarefas com eficiência.  Buscar o engajamento da equipe para um programa de gestão sustentável, passa pelo desenvolvimento das pessoas para mudança de atitudes. Isto vai desde o uso adequado do tempo, eficiência na produção das tarefas, até a mudança de atitudes do que se aprende no hotel e se leva para seus familiares e pessoas de seu convívio. Quando sensibilizamos nossas equipes de forma estratégica, os resultados aparecem nos detalhes, na forma de como usar os insumos, equipamentos, minimizar desperdícios e se comprometer com a busca de melhores resultados.

Quando mapeamos um empreendimento, começamos a observar cada área do hotel e analisamos desde o processo de escolha de um produto, a fonte fornecedora, a forma de produção, até o seu resíduo e forma de descarte. Portanto, a busca por alternativas mais conscientes e inovadoras, de menor impacto, com menor custo e com maior valor agregado ao cliente, passa pela adoção de diretrizes estratégicas.

O comportamento das pessoas envolvidas no processo de gestão sustentável passa necessariamente pelo desenvolvimento da consciência  responsável.  São as pessoas da organização que buscam alternativas mais conscientes, com menor impacto ambiental, com menor custo de produção e com melhor qualidade de serviço, consequentemente, melhor resultado econômico para todos.

A gestão sustentável não é um trabalho isolado, requer e envolve o engajamento de todas as pessoas com seus líderes conectados na construção de um mundo melhor.

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Roseli Capudi, tem 30 anos de experiência na liderança de equipes de diversos segmentos, com larga experiência em gestão sustentável e também é empresária no ramo da hospitalidade.
Consultora líder na Ponto de Apoio Consultoria em Negócios Sustentáveis. Formada em Administração de Empresas com MBA em Marketing pela FGV. Capacitação em Coaching Executivo. Formação em Responsabilidade Social Empresarial e Gestão de Projetos Sociais pela COPPE/UFRJ. Empresária, Consultoria e Palestrante. [email protected] (47) 99133-8504

(*) Crédito da foto: divulgação/arquivo pessoal