Uma empresa se faz com pessoas. Assim abria suas aulas e seus treinamentos in company, nos anos 70, Percival Ghion, profissional de hotelaria canadense, com passagem em vários países do mundo e à época com mais de 35 anos no ramo, em caráter multidisciplinar. Já naquela época, quando no Brasil ainda não se falava em qualidade total, ele não concebia uma empresa cuja direção e gerência estivessem distantes de seus colaboradores e clientes. Nesses 30 anos que se passaram, em especial de 90 para cá, houve uma revolução de produtos, serviços e na hotelaria do Brasil. Empresários e dirigentes que têm uma visão mais moderna, atual e atuante, estarão nos próximos anos à frente da concorrência, pois, mesmo errando, já terão dado muitos passos em direção ao horizonte da Qualidade na Prestação de Serviços, da Ética Empresarial. Já se foi o tempo da chefia se encastelar numa sala, igual ao chefe do Dino da Silva Sauro e ficar o tempo todo reclamando de tudo e de todos, inventando papéis, burocracias e controles. Descapitalizando a empresa por gostar de aplicar em outras atividades que não a principal e que no momento está lhe trazendo lucros e satisfações. Se ele não for à luta, não visitar seu cliente no balcão, em sua empresa, em sua cidade, e não souber o que ele quer e pensa; não participar de feiras, seminários e workshops; não trocar idéias e se atualizar em reuniões de associações de grupos; entidades assistenciais de sua comunidade; não tiver um Plano de Ação Comercial, um budget com seus Objetivos operacionais e financeiros, um cash flow e flash contábil com acompanhamento diário que sejam do conhecimento de todos seus colaboradores, de nada valerão suas parafernálias, presença, forçar o pessoal trabalhar fora de hora (para acompanhá-lo na solidão, já que foge do convívio familiar e social). Sem vendas, sem recebimento, sem produção, controlar o quê? Já que temos boas instalações, bom produto e serviço, nome e tradição na praça, por que não melhorar e manter tudo isto investindo em capital humano? Sem paternalismo, com regras escritas. Pergunte a um funcionário que não teve uma refeição decente no dia, que não sabe como está e como vai a empresa, que está com contas atrasadas ou que vai enfrentar a fila do INSS, no que ele está pensando. Temos várias maneiras de aliviar tudo isto, sem grandes custos adicionais, inclusive deduzindo do imposto de renda. Está escrito em nossa bandeira ?Ordem e Progresso?. O texto primeiro era ?Ordem, Progresso e Fraternidade?. Henry Ford, além de tratar a todos com respeito e consideração, ainda os tratava como clientes, não fazendo aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem. Evitava discursos e partia sempre para a ação. E ainda lhes vendia carros Ford! Devemos fazer em nossa empresa uma boa seleção interna e externa de colaboradores. Na admissão entregar-lhe um Regulamento Interno (Normas de Convivência). Em seguida designamos um padrinho para acompanhá-lo nos primeiros dias, um funcionário antigo que vai ter orgulho de ensinar o serviço e as regras não escritas ao novo companheiro. Se o novo colaborador puder passar uma semana nos setores com os quais vai interagir, ótimo. A adaptação e o conhecimento de onde vem e para onde vão as informações serão assimilados mais rapidamente. Treinamento, palavra mágica. Companheiros, chefes, gerentes, diretores devem dar de graça o que de graça receberam. Não se precisa grande coisa para se ensinar o serviço, aprimorar e melhorar o que já está sendo bem feito. Disciplina. O exemplo tem que vir de cima. As necessidades da empresa estão acima das querências pessoais. A igreja, os militares, os hoteleiros (profissionais) estão há dois mil anos nas Escrituras Sagradas, porque levam sempre a disciplina e a hierarquia a sério. Pagar bem. Por que não? Já pensou em introduzir um salário com uma parte fixa baixa e outra variável pelas vendas e lucro bruto operacional? Quando a empresa vai bem, todos vão bem. E nesse sistema, nunca via a empresa ir mal, alguém reclamar que ganha pouco. Saúde é indispensável. Evite faltas e pouca produtividade com um plano de saúde ao seu funcionário. Se estiver fora de seu orçamento, faça um convênio com seu sindicato, associação de classe, clínica, cooperativa de descontos. E se quiser vê-lo sorrindo para o cliente, por que não o mesmo em relação ao plano odontológico? O Ministério do Trabalho tem estudos provando que colaboradores bem alimentados reduzem em 30% as quebras e abstinências ao trabalho. Fornecendo uma refeição decente por dia em seu refeitório, dando-lhe ticket ou fazendo acordo com o self-service mais próximo, além de preencher este vazio, ainda estará propiciando a muitas pessoas a única refeição balanceada do dia. Se seu funcionário precisar usar uniforme, forneça um que ele tenha orgulho e satisfação em usar, com o qual se sinta bem. E seu crachá deve ter seu nome ou a forma como gosta de ser chamado em destaque. O resto tudo pequeno, clean, pois o cliente já sabe que está na firma tal. Estabeleça um plano de carreira, cargos e salários. Faça de seu colaborador um sócio, para que você possa partir para o segundo e demais empreendimentos, sair de férias, participar de seminários e cursos, completar e aprimorar seus estudos. Reduza a rotatividade com medidas práticas. As 500 melhores empresas no Brasil têm taxas de turn-over de 20%. As 500 americanas, 12%. As mais eficientes 8%. O ideal gira em torno de 3% a 4%, pois demitir e admitir gera custos diretos e indiretos pesados, tanto financeiros como para a moral do mercado de admissão e do resto do pessoal que ficou. Vou treinar para outro colher. Se você fizer o que estamos conversando, seu colaborador não vai querer mudar de empresa. Por quê? Para quê? Vou sonegar porque o governo gasta mal. O problema é dele, não seu. Invista em sua empresa e deduza no imposto, legalmente, tendo os serviços e a consultoria de um ótimo pessoal contabilista e jurídico, especialista no que fazem. Já percebeu que jogando despesas na empresa está dando um tiro no pé, pois está pagando sobre o faturamento que precisa absorver tais ?despesas?? Fique mais rico, mais próspero. Aumente um capital que governo nenhum pode confiscar: a sua equipe de trabalho. Quanto tiver sua empresa não vai fazer o que está falando. Se trabalhar com disciplina, respeito à hierarquia e às pessoas, ética, gostar de gente, sempre deu certo, por que ter que reinventar tudo? Vamos aprimorar a cada instante. Gerenciar diariamente e não uma vez por mês, olhando os números do balanço do mês anterior depois do dia 15. Todo negócio, por menor que seja ou se inicie, deve ser visto e encarado como um grande empreendimento. Pense grande! Não há dúvida que o Brasil está saindo deste atoleiro que já dura décadas, bem devagarzinho, mais vai sair. E não é por causa deste ou daquele político. É porque nós queremos! Dizem que o ferro só vira aço passando várias vezes pelo fogo. Vamos querer jogar fora uma existência de trabalho e dedicação e ficar jogados a um canto como um pedaço de ferro velho, enferrujado? A empresa é o reflexo da soma das personalidades que nela atuam. A comunidade também. Osmar Santos diz que vivemos 75% do passado, 20% do futuro e só 5% do presente. Se o passado já passou e não dá mais para consertar. O futuro a Deus pertence ou o estamos fazendo neste momento presente, só nos resta viver esta eternidade presente, aqui e agora. Por que não começar agora, cada um de nós fazendo sua parte? Gilberto Simioni é sócio consultor da Oliveira, Simioni & Associados S/C Ltda. [email protected]