Hotel Fazenda Parque dos Sonhos 
(fotos: divulgação/ Marketing Hotel Fazenda Parque dos Sonhos)

O emprego da palavra sustentabilidade – antes tímida entre assuntos sérios – é cada vez mais recorrente na atualidade. Não mais maquiada por um discurso verde, nem mesmo limitada ao público “bicho-grilo”, o termo pode ser capaz de unir ambientalistas e empresários na criação de procedimentos que buscam equilibrar o desenvolvimento com variáveis como meio-ambiente, energia e economia. Indício de uma responsabilidade social, adotar práticas sustentáveis está se tornando um diferencial, reconhecido por demonstrar uma preocupação com o futuro do planeta. 

O termo "sustentabilidade" foi popularizado ao ser empregado por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, em um relatório publicado em 1987, intitulado Our Common Future, no qual foi definida como: "o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades". Ou seja, pressupõe uma relação equilibrada entre o modo de vida do ser humano e o meio ambiente, considerando a ligação estabelecida entre os dois.

Embora ao se pensar em desenvolvimento sustentável o meio ambiente seja o principal aspecto a vir em mente, outros elementos se interseccionam a questão ambiental, como o sistema econômico vigente e as relações sociais. Ações que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas, incentivam a diminuição das desigualdades e ampliam o direito de acesso a serviços, sem a utilização prejudicial do espaço, também se acomodam entre as práticas sustentáveis.

*Por Giulia Ebohon

Sustentabilidade e hotelaria
A sustentabilidade é uma questão atual que vem sendo trabalhada em diferentes setores, seja com projetos concretos de mudanças, seja estimulando a conscientização sobre o tema. De fato, o assunto passou de uma discussão ideológica para patamares mercadológicos, uma vez que afeta diretamente a competitividade das empresas. No âmbito hoteleiro, essa abordagem busca equilibrar as mudanças e a conscientização com a possibilidade de um melhor posicionamento no mercado e retorno financeiro.

Diante disso, as certificações atuam como selos que reafirmam o posicionamento do hotel perante o fator socioambiental, indicando que a unidade introduziu padrões normativos de prática sustentáveis. Para o hoteleiro, a obtenção destes títulos é ainda mais atraente à medida que impactam em benefícios conjuntos: sociais e financeiros, para as organizações.

A sustentabilidade é um dos pilares que ergueu e consolidou a marca do Hotel Fazenda Parque dos Sonhos, situado no município de Socorro, em São Paulo. Com mais de sete certificações e prêmios, entre eles o Certificado da ABNT de Aventura e Acessibilidade, além do primeiro lugar no Prêmio Braztoa Sustentabilidade e o Prêmio Direitos Humanos 2014,  o empreendimento assume um compromisso de longo prazo com atividades socioambientais.

Para José Fernandes, diretor do hotel, os constantes desastres ambientais e mudanças climáticas extremas são um sinal de que é necessário mudar a mentalidade dos empresários acerca da questão. “Acho que todo mundo está percebendo que, independente de ser uma prática politicamente correta, a preocupação com a sustentabilidade se tornou um fator importante de sucesso em qualquer negócio”, enfatiza.


José Fernandes Franco, diretor do hotel 

Entre os programas desenvolvidos no empreendimento estão o centro de triagem e reciclagem de todo o lixo gerado no hotel; o programa Plante ou Adote uma Árvore, com mais de 4.000 árvores plantadas, a maioria pelos hospedes; a horta orgânica, que utiliza os resíduos gerados pelo meio de hospedagem; e o Projeto de Energia Limpa, com uso de energia solar, hidráulica e eólica e lâmpadas de led. Na área cultural, a unidade prioriza o uso da mão de obra do entorno, valorizando a cultura local.

 
Os alimentos plantados na horta orgânica do hotel são utilizados no restaurante  

No que se refere à acessibilidade, grande parte das unidades de hospedagem passaram por uma adaptação que incluiu sinalização tátil e placas em Braile em todas as áreas externas, adaptação do site, de telefones, equipamentos, para todos os tipos de deficiência e preparação de toda a equipe para atendimento deste público. Também foram elaboradas 14 atividades de aventura para deficientes, com seis tipos de cadeira de rodas para trilhas, oito tipos de bicicletas para cada deficiência, tirolesa voadora para tetraplégicos, cavalgada com selas adaptadas, rafiting, rapel, arvorismo, passeios de charrete, trator, off-road, todos adaptados para todos os tipos de deficiência.

Para o diretor, ao contrário do que muitos executivos pensam, as políticas desenvolvidas não comprometem o lucro do hotel. Na verdade, todo esse investimento é convertido em reconhecimento por parte dos hóspedes, que saem impressionados e indicam a unidade para parentes e amigos. A quantidade de retornos e novos clientes por indicação é de quase 60%.

“Existe uma visão errônea de grande parte dos empresários sobre a relação entre investimentos e retorno, quanto aos projetos sustentáveis. O Campo dos Sonhos é uma prova de que investir em sustentabilidade dá lucro. Nós fomos o empreendimento que mais investiu e estamos entre os mais lucrativos da região”, explica Fernandes.

Além das aparências
A adoção de práticas sustentáveis na hotelaria por muitas vezes foi associada ao conceito “ecológico”, entretanto, apesar deste aspecto resgatar na decoração elementos tirados da natureza, não exprimiam necessariamente nenhuma responsabilidade social. Para o diretor, o termo passou a ser percebido pelos clientes como uma maquiagem que encobria, inclusive, práticas que infringiam as normas básicas de acessibilidade. “Não dá mais para pintar o hotel de verde e dizer que ele é sustentável”, reforça.

“Em relação à acessibilidade, existe um preconceito, que aos poucos está se desfazendo. Muitos acham que o mercado de deficientes e pessoas com problemas de mobilidade é pequeno. Eu posso afirmar que, só no Brasil, são mais de 30 milhões de pessoas. Outro preconceito é achar que a presença de deficientes no hotel pode incomodar os outros hóspedes. Nós sentimos na prática que todos os outros hóspedes criam uma grande admiração pelo hotel, por perceber a preocupação que temos com essas pessoas”, completa.

 
Ações de acessibilidade foram realizadas em toda a unidade, inclusive na prática de esportes de aventura

Fomentar o desenvolvimento sustentável dentro de uma empresa é uma missão realizada por muitas mãos. Colaboradores, gerentes e hóspedes se comprometem em estimular e adotar para si comportamentos que refletem o engajamento da organização na causa. Embora as práticas sejam implementadas por cima, sem a participação dos funcionários e do próprio público que frequenta o empreendimento elas ficam à deriva, se restringindo a superfície do que se entende por sustentabilidade.

Para José Fernandes, o ponto de partida para ampliar as políticas para além do diálogo com os hóspedes, tornando-os protagonistas das ações, é criar atividades que realmente tragam benefícios ao meio-ambiente e à população local, que sejam perceptíveis a eles. No caso do Parque dos Sonhos, todos os projetos desenvolvidos são apresentados aos hospedes através de visitas monitoradas: “A educação é o fator mais importante para que as mudanças em relação à sustentabilidade aconteçam", aponta. "Sem perceber, ao se hospedar no hotel, o cliente tem uma aula de ecologia em cada minuto de sua estada. E, para as crianças, essa é uma experiência educativa inesquecível”, completa.

Além da teoria, o hotel fornece instrumentos para que os visitantes contribuam de forma concreta com a viabilização dos programas, alinhando isso com serviços personalizados que fortalecem sua marca. “O projeto de reflorestamento foi feito, em grande parte, pelos nossos visitantes. Eles, mediante a uma pequena taxa, plantam uma árvore, que tem em sua base uma placa com o nome da espécie plantada e o nome de quem plantou. Isso, além de ser uma receita adicional, cria um vínculo permanente entre o hóspede e o hotel. Todos que participam dos nossos programas recebem um Cartão Estrelas e a cada nova estrela tem mais descontos e privilégios como clientes”, explica Fernandes.

 
Os hóspedes podem visitar os animais e alimentá-los com ajuda dos monitores

Adesão às práticas
Ainda que haja uma defrontação entre o modelo de sociedade vigente e as questões socioambientais e, embora existam exemplos de que pensar em desenvolvimento sustentável não decreta um futuro de dívidas, as empresas, de modo geral, ainda abordam a questão com timidez, o que inibe a elaboração de ações eficazes direcionadas a questão.

Um estudo global divulgado pelo jornal Valor Econômico, elaborado pelo Boston Consulting Group em parceria com a Mit Sloan Management Review e o Pacto Global da Organização das Nações Unidas, demonstrou que grande parte dos conselheiros responsáveis por administrar empresas ainda não se engajaram no desenvolvimento de práticas sustentáveis.   

Conforme o levantamento, 86% dos entrevistados – gestores de empresas da Europa, Américas, Ásia, África e Oceania – acham que conselhos deveriam ter um papel expressivo nos esforços das empresas em sustentabilidade; 65% concordaram muito com essa afirmação.  Apesar deste resultado, quanto ao questionário sobre a extensão da participação dos conselhos de suas empresas em ações de sustentabilidade, apenas 22% consideram que esse engajamento seja significativo, outros 20% consideram moderado.

Em outro âmbito da pesquisa, embora nos últimos quatro anos tenha aumentado o número de empresas que dizem que a sustentabilidade está entre as prioridades da alta gestão – 46% em 2010 e 65%% em 2014 -, caiu em 9% a percepção de que os CEOs estão comprometidos com a causa.

Na visão de José Fernandes, quando se trata especificamente do setor turístico, o cenário não é diferente: “Apesar de todo o caos sentido no dia-a-dia, não só pelos empreendimentos turísticos, mas por toda a população, com a falta de água, desastres ambientais etc., a questão ambiental ainda não é uma prioridade das pessoas, das empresas e do governo. Vejam o recente retrocesso em relação ao Código Ambiental, pressionado pelo agronegócio, sem uma reação à altura do setor turístico” enfatiza. “O turismo de natureza será cada vez mais representativo no futuro do setor no mundo e temos que nos unir para garantir que ele seja preservado”, conclui.

Serviço
www.parquedossonhos.com.br