Toni Sando

Todos os anos, em maio, quando é divulgado o ranking da ICCA, International Congress and Convention Association, muitos “especialistas” de plantão colocam o Brasil e suas cidades em uma vitrine, praticando um julgamento desleal, como se o resultado representasse todos os eventos realizados no País em absoluto. E não é bem assim.  

O primeiro passo para a real compreensão é entender o que é a ICCA e quais os critérios para seu ranking.

A ICCA é uma associação internacional responsável por um banco de dados de eventos do mundo todo. Uma comunidade global que gera e mantém vantagens comerciais e competitivas para todos os seus membros, aproximadamente 1.000 em 100 países. Entre eles estão Conventions & Visitors Bureaus, entidades de classe, órgãos públicos, organizadores de eventos, centro de convenções, espaços para eventos, hotéis etc. Atualmente, o Brasil conta com 9 associados.

O ranking é o resultado da análise desta base de dados, cuja inclusão e atualização são feitas pelos próprios membros, baseadas em um rígido critério. Para o evento atender ao perfil ICCA, é preciso, sem exceção, ser associativo, rotativo, estar pelo menos em sua 3ª realização com edições em países diferentes, periodicidade definida e presença mínima de 50 participantes. No geral, ficam de fora desta conta: shows, espetáculos, festivais, feiras de negócio, encontros corporativos, eventos sociais e esportivos – e qualquer tipo de encontro nacional/regional.

A posição no ranking reflete, sim, na imagem competitiva. A posição impacta na credibilidade, confiança e potencial da cidade/estado/país em receber eventos internacionais.

A explicação acima, em hipótese alguma, visa descredibilizar o ranking. Pelo contrário. Entendendo sua relevância, o São Paulo Convention & Visitors Bureau, por exemplo, é membro ICCA há décadas e possui uma área de Informação que, entre suas atribuições, foca na pesquisa e cadastros dos eventos na plataforma.

O Brasil no ranking da ICCA 2019

No ano passado, com o ranking ICCA divulgado recentemente, foram registrados 209 eventos para o Brasil, resultando em seu 2º lugar na América Latina, 4º lugar nas Américas (atrás dos EUA, Canadá e Argentina) e 20º no mundo. A tendência de queda no Brasil, que já conquistou a 7ª colocação mundial em anos anteriores, é registrada desde 2016 e pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles:

Atuação da EMBRATUR: A Embratur, Instituto Brasileiro de Turismo, é o principal órgão nacional para o registro dos eventos. Nos últimos anos, o seu processo de transformação da autarquia em agência pode ter levado à baixa priorização das atividades relacionadas à ICCA. Soma-se à falta de recursos humanos para pesquisa durante o período crítico de ‘report’ de eventos, que acontece entre dezembro e janeiro.

Alta competitividade em destinos latino-americanos: A Argentina vem apresentando novas estratégias para promoção do destino, posicionamento de marca e transformação digital, ações que podem ajudar a explicar o crescimento do país no ranking. O México também aparece como novo concorrente no mercado latino de eventos associativos, tendo como grande diferencial a proximidade do mercado estado-unidense. 

São Paulo, cidade número 1 no Brasil

A capital paulista ganha destaque, à sua essência e vocação, pelo turismo de negócios e eventos – e se consagra com a principal cidade brasileira no ranking, ano após ano, e figura entre os TOP 5 da América Latina e em 4º lugar na América do Sul.

Em 2019, São Paulo obteve o 47º lugar no ranking mundial. Nas Américas, Buenos Aires é a 1ª colocada com 127 eventos, Montreal em 2º lugar com 92 eventos, Lima em 3º lugar com 78 eventos, Vancouver em 4º lugar com 73 eventos, Santiago em 5º lugar com 66 eventos, Cidade do México em 6º lugar com 64 eventos, Nova Iorque em 7º lugar com 57 eventos e São Paulo em 8° lugar com 56 eventos.

Foram registrados 18,3 mil participantes pelo recebimento dos eventos registrados na data-base ICCA para São Paulo, representando 25% do total de participantes do Brasil.

Ações e tendências para um destino mais competitivo

O trabalho para captação de um novo evento de perfil ICCA para o destino é complexo. A escolha geralmente é feita com 3 a 4 anos de antecedência e alguns fatores podem influenciar na escolha do local, entre eles o cenário econômico, estabilidade do país, contextos sociais, valores, segurança, saúde, acesso e infraestrutura.

Seja no Brasil, América ou mundo, os destinos estão cada vez mais competitivos e qualificados. Neste ponto, ganha importância o investimento em promoção internacional e participação de feiras especializadas, além de um trabalho de relações públicas para repercussão de notícias positivas e possível gerenciamento de crise.

Ou seja, para evoluir na posição do ranking da ICCA, é necessário, em sua essência, investir em pesquisa, para localizar em todo o território nacional os eventos do perfil solicitado já confirmados/realizados; e na captação de mais eventos internacionais.

Para tanto, é primordial o envolvimento de órgãos governamentais para a melhoria de infraestrutura, segurança e mobilidade urbana dos destinos; e para a criação e promoção de uma marca forte do Brasil e suas principais cidades. A iniciativa privada, por sua vez, trabalha para oferecer as melhores condições e experiências.

Como estratégia de pesquisa e captação, pode-se direcionar esforços no incentivo a promotores de congressos brasileiros, já definidos para realização nos próximos anos em São Paulo, a candidatarem edições latino-americanos, pan-americanos, países de língua portuguesa, entre outros, para acontecerem simultaneamente; compartilhamento de informações dos espaços; comprometimento dos hotéis no compartilhamento de eventos de perfil ICCA para o Convention & Visitors Bureau que é associado ICCA; e aproximação com as principais instituições e centro de pesquisas.

Para tornar destino mais competitivo para a captação de novos eventos, união também é a palavra de ordem. Com a cadeia produtiva trabalhando de forma uníssona, criando condições atraentes e justas, e o poder público atuando no apoio à captação e infraestrutura que lhe é cabido, a vantagem é para o destino como todo – e em condições normais,  seria natural a evolução do Brasil no Ranking da ICCA.  

Entretanto, o Covid-19, redução de malha aérea e retomada econômica, um novo cenário e novas tendências podem redesenhar os eventos padrão ICCA para os próximos anos.   

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Toni Sando é presidente da UNEDESTINOS, União Nacional de CVBs e Entidades de Destinos, e presidente executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau

(*) Crédito das fotos de Toni Sando: Divulgação/André Stefano