Uma solicitação inusitada por um elefante, a providência de leite materno ou a organização e entrega correta de 200 peças de bagagem; tudo isso é só parte de um dia de trabalho para Nigel Bowen.

Como concierge do hotel Mandarin Oriental Hyde Park, no coração de Londres, Reino Unido, ele está acostumado a lidar com as solicitações mais absurdas diariamente. E, ao que tudo indica, quanto mais poder aquisitivo se tem, mais bizarras são as demandas geradas.

"Certa vez um hóspede me entregou um frasco de perfume vazio sem rótulo ou marcação nenhuma e me solicitou um novo, igual, em seu lugar. Ele apenas informou que havia comprado a fragrância no Oriente Médio, mas não lembrava mais onde, se em Jeddah, Doha ou Dubai, me deixando desesperado. Consultamos rapidamente um perfumista francês especialista em notas e fragrâncias para sentir o cheiro do frasco – e recriá-lo – porque não conseguimos determinar a sua origem. Demorou cerca de um mês, mas felizmente tratava-se de um casal de hóspedes frequentes e, quando retornaram, a esposa foi agraciada com o presente", conta Bowen, que não revela o valor do mimo e garante que não aceitou nenhuma gorjeta ou agrado em troca.

Bowen, que possui cerca de 17 anos de experiência na indústria hoteleira, é um dos protagonistas de um documentário produzido pelo canal britânico Channel 4, junto com mais de 400 colaboradores, também de sua equipe. Entre os clientes atendidos pelo concièrge, está o ator norte-americano Morgan Freeman.

A série de programas mostra no primeiro episódio, curiosidades como a preparação do empreendimento para receber uma princesa – incluindo a descarga de um caminhão de 200 peças de bagagem para a estada de um mês. Ao mesmo tempo em que mostra todos os detalhes luxuosos de sua estadia, o programa revela também um outro lado mais obscuro e desconhecido da maioria, como a demora da família real em quitar as despesas da referida princesa (a dívida se arrastou por nove meses).

Outro tema abordado pelo programa diz respeito a pedidos ligados a atividades sexuais nefastas. "Nossa preocupação é tornar os sonhos de nossos clientes em realidade. Se ele é privilegiado por ter nascido em meio a riqueza ou a obteve por meio de trabalho duro, merece sim ter as suas solicitações atendidas. No entanto, deixo claro que só posso ajudá-lo se o pedido não for ilegal, imoral ou anti-ético", afirma Bowen.

Em toda a sua trajetória, Bowen falhou apenas uma vez. Em 2010 um vulcão da Islândia entrou em erupção e a nuvem de cinzas resultante fechou o espaço aéreo de 20 destinos do entorno para o tráfego de jatos comerciais. Dez milhões de passageiros foram afetados; alguns deles, seus convidados.

"Não tive sequer um momento de folga por duas semanas, período em que auxiliei meus hóspedes no seu retorno para casa. Utilizamos todos os recursos que existiam para ir de A a B. Foram utilizados os transportes de barco, motoristas particulares, carros alugados e travessias pelo Canal da Mancha", relembra.

Para integrar a sua equipe e aprender a lidar com hóspedes de todos os cantos do mundo, o candidato deve completar até seis sessões de treinamento por semana, onde aprende a solucionar problemas, responder à queixas e abordar as sensibilidades culturais. "Não é um trabalho duro se você o ama", finaliza o profissional.

Serviço
independent.co.uk
mandarinoriental.com

* Crédito da foto: site/Mandarin Oriental Hyde Park