annie morrissey- tres perguntasAnnie: vejo muias oportunidades e ainda vou aprender muita coisa

Annie Morrissey é uma figura icônica e querida por aqueles com quem trabalhou em sua trajetória na hotelaria. Diretora de Vendas e Marketing do Bourbon Hotéis & Resorts, a executiva afirma que aprendeu muitas lições com a pandemia e garante que enxerga muitas oportunidades no pós-crise.

Inglesa natural de Birmingham, a profissional mudou-se para o Brasil há 30 anos. Após uma temporada nos Estados Unidos, ela firmou raízes por aqui para atuar no escritório da Pegasus Solutions, localizado na capital paulista. Formada em Espanhol, foi escolhida pela familiaridade com a língua – o que facilitaria sua desenvoltura com os brasileiros.

Estabilizada em São Paulo, colocou em prática os planos de expansão da empresa por países latino-americanos, nos quais foi encarregada de abrir novas filiais. Ainda pela Pegasus, a diretora atuou por quatro anos em Washington até retornar ao Brasil, em 2001.

Naquele mesmo ano, Annie foi convidada para integrar o time da Atlantica Hotels como vice-presidente de Vendas e Marketing, onde permaneceu por 16 anos. Após um longo casamento, a profissional optou por se desligar da rede até ser chamada pela Bourbon no início de 2019

Três perguntas para: Annie Morrissey

Hotelier News: O setor hoteleiro já vem planejando a retomada de acordo com os sinais de flexibilização do governo. Como os hotéis Bourbon estão se preparando para a reabertura?

Annie Morrissey: A Bourbon está planejando sua retomada. A primeira fase o departamento comercial está sendo importante para segurar nossa receita e fluxo de caixa dos hotéis. Falamos muito com as unidades e a retomada já está sendo traçada, talvez de forma mais lenta do que esperávamos há dois meses. Nossa primeira premissa é falar muito com o cliente, precisamos saber qual o volume que pretende retornar para entendermos quais serão os custos e se vale a pena retomar as operações. Temos que ver se as unidades têm caixa para abrir e planejar a volta com responsabilidade. 

O segundo ponto mais importante são os protocolos de segurança e higiene que muitos empreendimentos já estão bem avançados. Na Bourbon, procuramos uma empresa terceirizada para nos auxiliar neste trabalho. As medidas de limpeza sempre foram altas, então revisamos todos os protocolos, olhando outros segmentos como hospitais, shopping, companhias aéreas, redes internacionais para ter uma ideia 360 antes de produzir o nosso manual. Fizemos um protocolo de boas práticas em nosso site para chegar aos nossos clientes, pois nada adianta fazermos todas as medidas e não comunicar aos hóspedes. Estamos fazendo painéis semanais com nossos clientes para explicar o que a rede está realizando para recebê-los com segurança.

As mudanças têm sido enormes e a hotelaria vive de processos, em teoria essas mudanças não são difíceis, mas requerem treinamentos. Estamos capacitando nossos gerentes gerais e funcionários, não só de maneira técnica, mas também psicológica. Se o cliente percebe que o colaborador não está tranquilo, isso não vai passar segurança. Na parte comercial, lançamos um manifesto para o mercado flexibilizando nossas políticas de cancelamento. 

HN: Você possui experiência no mercado nacional e internacional. Na sua opinião, quais os principais erros que a hotelaria brasileira cometeu durante a crise?

AM: Falando com colegas, todos estão atentos. Ninguém passou por isso e ninguém sabe o que vai acontecer. O erro de redes ou qualquer empresa é achar que vai voltar como era antes. Volto a dizer que os clientes não retornem em épocas de alta, precisamos ser criativos, buscar novos mercados e hóspedes. Precisamos rever gastos dentro do hotel e os que estamos incluindo com os novos protocolos e EPIs. Planejar e aproveitar o tempo para desenvolver estratégias de vendas, muitos segmentos estão com dificuldade e isso é uma mudança muito grande para o comercial, financeiro e operacional. Precisamos migrar 100% para marketing digital e abraçar isso. É único jeito de atingir novos clientes e comunicar os diferenciais de cada hotel.

HN: Como rede, qual será o legado da pandemia para o Bourbon? O que a pandemia trouxe de bom?

AM: Entendemos que o home office funciona e é eficiente, porém somos latinos e isso não significa que não vamos retornar aos escritórios, mas percebemos que existe um equilíbrio. O home office dá mais liberdade na rotina , o que é algo muito positivo. Entretanto, acredito ser muito importante a convivência no ambiente de trabalho. Aprendi que preciso ser mais simples no meu dia a dia, as coisas acontecem muito rápido de um dia para o outro. Dentro do Bourbon estamos trabalhando com nossas diretorias muito mais próximas do que antes, tomando decisões juntos.

Precisamos falar com investidores, clientes e funcionarios o tempo todo, independente do canal. Temos que lembrar que somos hoteleiros e viemos para receber bem e com alegria. Os protocolos e máscaras não podem esfriar o atendimento. Precisamos mostrar solidariedade, ter paciência e ser mais humano, tudo isso é hotelaria. Vejo muitas oportunidades no pós-pandemia e ainda vou aprender muita coisa.

(*) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News