O mercado GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) tem crescido a cada ano no país. O segmento é formado por 18 milhões de pessoas, sendo 57% deles detentores de diplomas de nível superior. Deste público, 36% pertencem à classe A e 47% a classe B, ou seja, possuem um poder de compra de R$ 111 bilhões por ano.
 
E para falar sobre diversidade a equipe do Hôtelier News apresenta algumas ações e parcerias de sucesso deste mercado que tem movimentado a economia, turismo e a hotelaria do país.

Pela redação

Recife é uma das cidades nordestinas que mais atrai turistas gays no Brasil e está investindo cada vez mais neste público. Para tanto, criou uma série de medidas de aproximação e divulgação.

O Recife Convention & Visitors Bureau inovou com a campanha de promoção Friendly LGBT- Pernambuco Simpatiza com Você, que visa a capacitação dos profissionais de diversos setores do turismo para melhor receber o turista do segmento. “Este público chega a apresentar gastos 30% superiores aos héteros”, afirma José Otávio Meira Lins, presidente do Convention e da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PE).

Os principais atrativos do destino são as praias como Boa Viagem, Calhetas e Porto de Galinhas e principalmente a vida cultural, ponto forte da cidade. A programação noturna é badalada e algumas casas se destacam como point gay, como a Galeria Joana D’Arc – com diversos estilos de restaurantes -, a boate Metrópole, Casa de Bamba, Ponto G e Mac. Já são mais de 21 estabelecimentos identificados com as cores do arco-íris. Para reunir todas as opções, o Recife CVB lançou o Guia da Diversidade com sugestões de entretenimento, além de meios de hospedagem, locadoras, receptivos e atrativos turísticos.

 
Praia de Boa Viagem, cartão postal do Recife
(foto: asmilcamisas.wordpress.com)
 

“Preparamos esse material de forma que fosse possível orientar esses visitantes na hora de montar uma programação em terras pernambucanas. Além disso, também tivemos o intuito de indicar locais onde o turista não correrá o risco de passar por qualquer tipo de constrangimento, fazendo com que ele se identifique com a cidade e queira voltar outras vezes”, cita o presidente do Convention Bureau.

Hotéis como o Cult e o Jangadeiro e as pousadas do Amparo e dos Quatro Cantos são empreendimentos que já contam com o símbolo gay friendly usado pelo Convention da cidade. “Após adquirir o selo, a entidade promove capacitação gratuita para funcionários dos equipamentos”, diz Tatiana Menezes, diretora executiva do Recife CVB.

A entidade ainda firmou diversas parcerias com organizações GLBT, como a Associação Brasileira de Turismo GLS e a americana International Gay & Lesbian Travel Association (IGLTA).

O destino ainda está inserido na rota de turismo GLBT através de voos da Tam. Com a ideia de focar nos estrangeiros gays – o Brasil é o quinto país procurado pelos norte-americanos -, a cidade ainda está se promovendo através de ações no exterior. A mais recente delas contou com a parceira da Bahia. Os dois destinos participaram do Discover Brasil – Bahia and Pernambuco LGBT Workshop, em São Francisco e Miami, dois dos principais polos gays do mundo.

“Reunimos operadores e agentes de viagens e personalidades do trade turístico de São Francisco e Miami – dois dos maiores polos emissores de turistas LGBT do mundo – com objetivo de reforçar a imagem de Pernambuco e Bahia como destinos receptivos ao público gay”, diz Luciana Fernandes, gestora de mercado internacional da Empetur. “Com esta ação, além de aumentar o fluxo turístico em ambas as cidades, esperamos também consolidar os voos da American Airlines”, complementa.

Destino que diversifica
Por meio do programa Bem Receber, o São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB) já capacitou 772 profissionais para o atendimento ao público GLS. Apenas em 2009, foram oito turmas com 299 colaboradores treinados.
 
“O trabalho consiste em esclarecer os profissionais por meio de uma troca de ideias sobre a excelência no atendimento a este público”, define Toni Sando, diretor superintendente do SPCVB. “Desta forma, estes colaboradores conseguem evitar situações constangedoras. Um exemplo é o momento do check-in, no qual o colaborador capacitado evita um erro típico: perguntar ao casal gay se preferem uma acomodação com camas para solteiro”, exemplifica.

Sando ainda conta que as ações devem continuar no próximo ano. “Pretendemos manter o programa em 2010, garantindo que ele aconteça ao menos uma vez por mês. Acredito que devemos manter o número de colaboradores capacitados deste ano”, afirma.

 
A multidão que se reúne todos os
anos na Avenida Paulista
(foto: google.com.br)
Por fim, o executivo ressalta a importância de ações deste caráter. “É importante saber receber bem, não importa quem. Devemos entender as pessoas, suas características e, com isso, atender às suas expectativas, independente de sua opção sexual”, conclui.

Rio de Janeiro na preferência dos GLS

O clima acolhedor e festeiro do Rio de Janeiro faz com que o turista GLS tenha como preferência o destino na hora de viajar. A comprovação foi feita durante a 10ª Conferência Internacional de Turismo LGBT, no último dia 2 de novembro, com a escolha da Cidade Maravilhosa como o melhor destino Gay do Mundo, segundo pesquisa realizada durante dois meses pelo site TripOutGayTravel, em parceria com o canal americano Logo, da MTV. Mais de cem mil pessoas votaram e fizeram com que o Rio se destacasse das concorrentes Barcelona, Buenos Aires, Londres, Montreal e Sidney.   
 
Para Antonio Pedro Figueira de Mello, secretário especial de Turismo e presidente da Riotur, a vitória reforça a vocação do Rio para o turismo. “Receber a todos de braços abertos sem distinção melhorando cada vez mais a qualidade do serviço prestado é o nosso objetivo”, destaca. 
 
A Riotur vem investindo no atendimento ao público LGBT desde o início do ano. Neste site (clique aqui), por exemplo, existe uma seção especial voltada para este segmento, com dicas de bares, restaurantes, hotéis e todos os locais considerados “gay friendly” da cidade. Também foi desenvolvido, pela primeira vez, um folheto em inglês divulgando o roteiro LGBT do Rio.
 

Parada LGBT na cidade maravilhosa
(foto: cineideal.tempsite.ws)
 
Um estudo recente realizado pela UniverCidade e Planet Work, com o apoio da Fundação Cesgranrio, verificou que 25% dos três milhões de turistas internacionais que visitam o Rio de Janeiro anualmente pertencem ao segmento GLS, um dos mais importantes para a cidade.
      
O perfil do visitante é permanecer em média cinco dias no destino gastando US$ 140 por dia ou o dobro de um turista convencional. Cerca de 80% deles ficam hospedados em hotéis. Os bairros de Ipanema, reconhecido point GLS da cidade, a Lapa, a Floresta da Tijuca, o Corcovado, o Pão de Açúcar, a discoteca Le Boy, destaque na noite GLS, e o Jardim Botânico foram apontados como os pontos turísticos preferidos.
 
A agência de viagem Rio G, localizada em Ipanema, está no mercado desde 2005 atendendo ao público GLS, que representa 50% das vendas. Segundo Eduardo Lima, diretor do empreendimento, o segmento possui vantagens e desvantagens. “É um público fácil de trabalhar, fiel e que busca os melhores serviços. A desvantagem é que, por preconceito, perdemos alguns clientes heterossexuais que não querem frequentar a agência”, conta.
 
Os bairros Arpoador, Ipanema e Leblon
(foto: riodejaneiro-turismo.com.br) 
Ainda de acordo com Eduardo, o gay que pode viajar tem entre 30 a 50 anos e é bem sucedido na carreira. “Muitos deles já foram casados e têm filhos, principalmente as mulheres. Os homens preferem frequentar lugares com praia e boates. Já as mulheres, preferem uma maior interação com a natureza”, revela, destacando que a frequência de viagem é de duas a três vezes por ano com gastos, em média, 40% maior que o turista hétero.
 
Hotelaria e as novas tendências

Com o crescimento do mercado GLS no país, alguns hotéis já se especializam e oferecem serviços diferenciados. Para alguns hoteleiros a tendência é inovar e trazer ao conhecimento de todos, que as diversidades existem e podem ser trabalhadas sem o preconceito.
  
Segundo Sérgio Luiz Pereira, proprietário do 155 Hotel, localizado na capital paulista, “a melhor forma de tratar o hóspede gay é não tratá-lo com diferença. Assim como todas as pessoas que vão a um hotel, eles querem atenção e respeito.” 
 
  
 
Ele explica ainda que o empreendimento é adaptado, inclusive, para receber pessoas com diversos tipos de necessidades especiais e os colaboradores são treinados para lidar com  todos os hóspedes sem preconceitos.
 
“O preconceito sempre existiu e sempre vai existir na sociedade, mas aqui realizamos um trabalho para que ninguém tenha um sorriso velado ao se deparar com um casal gay ou um deficiente físico”, diz o gerente que reforça a importância de não fazer diferença no tratamento dos hóspedes, seja pelo seu comportamento sexual ou limitações físicas.
 
Símbolo do movimento gay 
(imagem: respeitogay.blogspot.com.br)
 
O low cost foi aberto há três meses, e diária única é de R$ 120, “a  ocupação tem ultrapassado os 60%. No final deste mês o hotel deve começar a vender sua área de eventos, que tem capacidade para até 100 pessoas. Ainda não estamos fazendo alarde porque temos que acertar alguns detalhes. Evento é uma coisa muito séria, só vamos divulgar mesmo depois que estiver tudo pronto”, declara ele.
 
Atlantica Hotels
Segundo Wellington Estruquel, diretor de Negócios Estratégicos da Atlantica Hotels, a rede reconhece a importância e potencial do mercado GLS. “Trata-se de um nicho super forte e em uma linha de crescimento acentuada”, afirma ele. “Para garantir o atendimento adequado a este público, promovemos treinamentos com colaboradores que têm contato direto com os hóspedes, como camareiras e recepcionistas”, conta.

Ao ser questionado sobre a maior dificuldade em oferecer a excelência em serviços aos hóspedes do segmento, Estruquel aponta dois fatores. “A falta de treinamento e talvez o preconceito sejam os pontos principais”, diz. “O colaborador tem que saber lidar com estes hóspedes, garantindo uma boa estada sem situações delicadas”, recomenda.

O executivo ainda lista os empreendimentos da rede que mais recebem os hóspedes do segmento. “Em vista da Parada Gay, os empreendimentos localizados na região da Avenida Paulista registram uma presença mais forte deste público. São eles o Quality Jardins, Quality Suites Imperial Hall, Comfort Suites Oscar Freire e Comfort Nova Paulista”, lista. “Há também o Radisson Faria Lima, que atrai o público gay pelo seu ar de modernidade”, completa.
 

Pousada Natur Campeche

Para Talmir Duarte da Silva, proprietário da Pousada Natur Campeche, localizada em Florianopolis, o público GLS busca excentricidade. “Quando você atende a um público segmentado a inovação é um dos fatores primordiais para o sucesso. O público GLS gosta de passeios exóticos pelo destino, piscina, sauna, festas noturnas, e ser tratado com sensibilidade. A exemplo, um casal gay chega ao recepcionista e diz que quer uma cama de casal, eles não vão querer um olhar de reprovação. O jeito amigável como este cliente é tratado faz toda a diferença”, diz.
 
Fachada da Pousada Natur Campeche
(foto: naturcampeche.com.br)
 
“Na alta temporada, entre dezembro a março, registramos até 85% de ocupação, e desse total até 20% do percentual é voltado ao  GLS. Uma outra curiosidade é que este público é geralmente da classe A e B, com alto poder aquisitivo e não se importam em investir alto para ter novas experiências.”
 
Ele também destaca a abrangência dos debates em prol do segmento. “A exemplo da cidade de Florianópolis organizamos este ano um Simpósio, que reuniu 150 defensores do segmento para pleitear a vinda da Convenção Mundial do IGLTA (International Gay & Lesbian Travel Association), e em 2012 a nossa cidade será a sede do evento. Este público está quebrando paradigmas e evidenciando que todos podem trabalhar com a diversidade”, finaliza.
 
Festival de Gramado abre as portas para o público GLS 
 
 
O Festival do Turismo de Gramado, que acontece entre 19 a 22 de novembro, no Serra Park, em Gramado, agora conta com a integração do Salão GLS, que será realizado em parceria com IGLTA (Associação Mundial de Turismo Gay e Lésbico).
 
O Festival que tem a participação 2.600 marcas e que deve reunir 13 mil profissionais, entre eles operadores, executivos, empresários, quebra paradigmas e abre suas portas ao público GLS.
 
Para Clovis Casemiro, embaixador da IGLTA para o Brasil e gerente comercial da Tam, esta é uma grande oportunidade para o segmento. “Vamos trabalhar o turismo GLS como nicho, com suas necessidades e diferenciais, como ocorre com qualquer outro segmento, dentro de uma feira voltada apenas à profissionais”, diz. “No Festival esperamos encontrar mais empresas interessadas em apostar no mercado, e com isso aumentaremos a participação do Brasil como destino gay friendly”, completa. 
 
Já as organizadoras do evento Silvia Zorzanello e Marta Rossi, destacam que é a oportunidade de chamar atenção dos profissionais do setor, “teremos um aumento de espaço com o destino destaque trazendo a sensação universal que é o futebol, além do Salão GLS que em números representa uma grande fatia do mercado além da amplitude dos temas do congresso”, concluem as empresárias.  
 
Serviço