The Ride Experience NYC, exemplo a ser copiado pelo Brasil
(fotos: Peter Kutuchian / arquivo HN)
É cediço dizer que o brasileiro tem, por questões quase ontológicas, a cópia como prática sancionada. São diversas as situações em que tal sistema é autoevidente. E isso não é exclusivamente tupiniquim. Na década de 60 do século passado, por exemplo, a fama da indústria japonesa era de ser imitadora de modelos ocidentais, principalmente dos relógios suíços. Alguns anos depois, foi a vez da China, que iniciou processo semelhante e foi beneficiada pelas indústrias europeia e norte-americana na implantação de suas fábricas em detrimento da mão de obra quase que escravagista.
 
O Brasil consegue ser amador na cópia. Governantes viajam para o exterior e não se dedicam a trazer soluções aeroportuárias ou mecanismos do tráfego rodoviário, que estão muito bem implantados em países próximos do hemisfério norte da América. E, para o turismo, não deveria ser diferente – e até não é, em parte. Há sim exemplos dignos por aqui empregados. Mas, além deles, outros modelos não faltam e players no Brasil que tenham contato com tecnologias e inovações desta indústria em outros países existem a granel. O grande problema é que os governos nunca deram a devida importância para o Turismo.
 
Diferentemente dos argentinos, que descobriram recentemente esta poderosa e grandiosa indústria. A peleja argentina é que eles não tem a devida sorte. Via de regra, a cada dois anos algo de catastrófico acontece em suas terras, a exemplo das ações do vulcão chileno (que ironia) deste inverno, que transformou o branco da neve num cinza deprimente para a economia da região de Bariloche.
 
Primeira cena do The Ride retrata o réveillon na Times Square
 
No entanto, é o freio de mão puxado que ainda permanece provocadoramente como lei maior. Atrativo básico que pode elucidar tal conduta é o The Ride Experience, ônibus que oferece um city tour de forma interativa aos visitantes. O veículo é totalmente equipado com telas de vídeo, sistema de iluminação e som – e pode ser encontrado em megacidades turísticas: como Nova York e Paris. O modelo é primoroso e dirigido principalmente ao público do país ou a turistas internacionais familiarizados com a cultura norte-americana – leia-se, inclusive, suas piadas. Resumindo, a forma encontrada para atrair o público é simples, simpática e divertida – imitando o segredo da vida, afinal simplicidade e prazer geralmente estão juntos.
 
Qual turista, em tempos de uma contemporaneidade à qual ser multimídia é regra primeira, se submete a passeios pelo Pátio do Colégio para ouvir um guia narrando os pormenores da incursão jesuíta em terras brasileiras? O modelo é, no mínimo, démodé e pede revisão.
 
O The Ride redesenhou o passeio clássico por duas das cidades mais visitadas do planeta numa experiência insólita que, nem por isso, deixa de passar por todos os clichês turísticos. Os lugares não se alteram, mas a forma como isto se desenrola aos olhar do visitante é que abre novas maneiras de se fazer turismo.
 
Aquém das peripécias tecnológicas, artistas completam a atração com pequenos shows aos espectadores, reproduzindo cenas cinematográficas ou cantando e dançando numa demonstração fidedigna do que são as ruas das cidades.
 

Todos os passageiros do ônibus sentam voltados para o lado
da grande janela e acompanham o movimento real e
fictício de Nova York
 
É um entretenimento que configura todas as necessidades da atividade turística, promovendo interesse aos envolvidos e atendendo às obrigações comerciais que estão imbuídas na indústria do setor – ao empregar motoristas, DJs, dançarinos, artistas de rua, atendentes, organizadores, garçons e afins.
 
Buenos Aires, na Argentina, tem modelo parecido, que promove passeio pelos bairros de La Boca e Belgrano, à qual 500 mil pessoas já utilizaram desde sua criação – ou copiação, com o perdão do neologismo – em meados de 2009.
 
E por que não em São Paulo, ou no Rio de Janeiro? As ruas paulistanas têm por si só uma poesia artística que poderia ser transposta aos olhares do visitante sob nova ótica. Vale dizer o mesmo da capital carioca, à qual as paisagens são símbolo máximo do País e, por isso, devem sim ser vistas pelos estrangeiros.
 
Há projeto da SPTuris (São Paulo Turismo S/A), anunciado em abril último, para que a cidade mais populosa do País ganhe um city tour num coletivo de dois andares. “Estamos brigando por isso há três anos. São Paulo é a única capital importante que não tem esse serviço”, disse à Folha de São Paulo Caio Carvalho, presidente da entidade, citando os ônibus turísticos de Nova York e Buenos Aires. Todavia, por ora, a medida ainda engatinha e não há nada concreto.
 
No cenário deste pequeno balanço sumário, uma conclusão se faz latente: é preciso desconfiar de que a atividade turística no Brasil viva a ebulição à que lhe é atribuída, haja vista que projetos simples e consolidados em outros países ainda estão aquém da anomalia antiprofissional que pouco cria ferramentas em prol do setor. O turismo, no Brasil, segue aviltado.