Em legendas não devemos falar o óbvio, mas que
nascer do sol maravilhoso! Bem vindos à Cotijuba!
(fotos: Karina Miotto)
Ilha de Cotijuba é o nome de um distrito de Belém (Pará) que fica há cerca de uma hora de viagem de barco a partir do centro da cidade. O lugar reserva ao visitante gratas surpresas. Para começar, parece que estamos em uma dessas cidadezinhas deliciosas da Bahia, quando na verdade estamos mesmo é dentro de um pedaço da maior floresta tropical do mundo: a Amazônia.
A equipe do Hôtelier News pegou a embarcação ‘Braga II’ por quatro reais. A paisagem do trajeto é a Baía do Guajará. Durante parte do caminho, dá para ver a floresta de um lado e a zona portuária do outro.

Vista do barco, para a Baía do Guajará, ainda perto de Belém
Se você gosta de agito, basta chegar em Cotijuba em um final de semana, feriado prolongado ou nas férias de julho (quando todas as praias ao redor de Belém ficam lotadas). Em alta temporada, ao sair do barco, visitantes e moradores deparam-se com um presídio desativado e em ruínas. Dizem que os presos eram colocados lá porque, como se trata de uma ilha, de lá jamais fugiriam – é impressionante como ele está sendo ‘engolido’ pela vegetação local. Em florestas tropicais, devido ao calor e chuva constantes, a vegetação costuma se desenvolver mais rápido.
Ao lado do prédio em ruínas existem charretes sendo puxadas por velhos cavalos, (infelizmente desgastados e cheios de cicatrizes graças às chicotadas que recebem), mototáxis (isso mesmo, taxistas de moto) e também os chamados ‘bondinhos’: um trator barulhento puxa uma estrutura metálica que tem vários bancos e, balançando sobre o chão de terra, desvia de pessoas, cachorros e búfalos com cara de sede puxando um carrinho de madeira carregado de material de construção (triste, embora faça parte da cultura local).
Por Karina Miotto

 


Este é o famoso bondinho! Vindo…


E indo…para lá e para cá, o principal
meio de transporte de Cotijuba
Ainda na praça de frente para o presídio, barraquinhas que vendem água de coco a salgados dividem espaço com transeuntes e pequenos quiosques que exibem caixas de som e tocam, em sua maioria, um tipo de música conhecido aqui no norte como ‘tecnobrega’, popularíssimo entre os paraenses.
Mas Cotijuba também tem lá seu lado pacato. Na segunda vez que fui, era dia de semana – bem mais tranquilo. E, por isso, acabei pegando um mototáxi em companhia da minha mãe, que nunca havia subido em uma moto na vida.
O sorriso de dona Neuza em seu primeiro
passeio de moto! Com ela, um mototaxista 

 

 

Foi uma viagem não programada. Tinha certeza que teria onde me hospedar. Já havia conhecido a pousada Sol e Lua, estava confiante. O destino? A praia do Vai Quem Quer. Ela ganhou esse nome porque fica a 10 quilômetros do centro, e, como muitos anos atrás nenhum meio de transporte chegava até o local, só iria até lá quem quisesse mesmo: a pé, sob o sol. Talvez por isso a Vai Quem Quer seja a praia preferida de muita gente que vai à Ilha de Cotijuba em busca de sossego: afastada, continua sendo a mais tranquila e limpa do distrito.
Quando chegamos lá, surpresa: a pousada Sol e Lua estava fechadíssima. Que fazer? Bom, por sorte ou destino, do próximo mototáxi desceu uma moça chamada Adriana Maria Gomes de Lima. Ela é dona da pousada do lado, a Quarto Crescente, que já existe há oito anos. E lá nos hospedamos. Fica de frente para o rio, em um terreno cheio de árvores, com nove casinhas de madeira em cujas portas vemos números ao lado da lua, claro, quarto crescente.

A pousada que caiu do céu!

Detalhe comum a todas as portas de todas
as cabines da Pousada Quarto Crescente

As cabines ficam espalhadas por
um terreno cheio de árvores e flores

Ao fundo, vemos alguns chalés da Pousada Sol e Lua

 

 Pé de jaca! Mais uma árvore do jardim

Flores combinam com a grama, que
ornamentam com as cores da cabine…

Há apenas duas de alvenaria por dentro e por fora. As demais, são de alvenaria apenas na parte de dentro

Adriana, seu sorriso e nosso café da manhã
Adriana mora em frente à pousada que gerencia. Ela e a família administram o negócio. Apesar de morar em outro local, a sensação que temos é de estarmos em um bed & breakfast.
Ela é quem cuida do terreno, limpa os quartos e escolhe a decoração (cujos tapetes, lindos, foram todos feitos por sua avó). A diária custa R$ 35, e a pousada só oferece café da manhã (na casa da Adriana) – normalmente composto de ovo frito, pão, café com leite, fruta e suco natural, feito com frutas do próprio quintal (mamão, melão, carambola, acerola, coco e goiaba).

Pé de acerola. Nesse dia, este foi o suco de nosso
café da manhã, com um leve toque de carambola. Humm…

Adivinha de onde vêm os ovos fritos do café da manhã!

Este tapetinho foi um presente da avó
de Adriana, feito especialmente para ela

Café da manhã na varanda da casa dela.
Ao fundo, a entrada da Quarto Crescente
Nem todos os quartos têm banheiro dentro. Todos possuem cama de casal, mosqueteiro, ventilador, cadeira e mesinha com vela para afastar os insetos. Se você quiser, Adriana empresta uma rede.
Rede, sempre com mosqueteiro: melhor repelente
contra os insetos

 


A cama de casal também tem mosqueteiro

 


Mas quando chegamos no quarto,
ela estava presa no teto

Detalhe da cortina e da parede aberta
(com tela de fundo)
Adriana diz que existem cerca de 50 pousadas em Cotijuba – por enquanto não dá para confirmar este número devido à falta de dados oficiais. A pousada do Bigode, administrada por Maria D’Alva Souza Amorim, só abre aos finais de semana e feriados. “Mas posso abrir uma exceção”, logo avisa. De segunda à sexta, ela trabalha em uma ótica. De sábado e domingo, cuida da pousada. “Descanso nos intervalinhos”, diz.
Na Vai Quem Quer…

Fala a verdade: não lembra a Bahia?
Durante o dia, basta dar uns passos e chegar ao rio que, vez ou outra, tem ondas e barulho de mar. Daí para frente é só caminhar, conhecer os trechos mais tranquilos desta praia ou aterrissar em algum barzinho ou restaurante na beira do rio.
Estas fotos foram tiradas durante a semana. Em finais de semana…
    …feriados e férias escolares, logicamente, tem mais movimento
    Estas mesinhas ficam todas de frente para o mar. Ops, para o rio!
(é que ele é tão imenso que parece mar…)


Família local. Banho no rio, sempre!

  Tranquilidade, perfeito para quem mora em Belém.
É tão perto da cidade, só uma hora de barco

Para os padrões e distâncias amazônicos, é ‘do lado!’.
Bonito demais, sem obviedades

Esta é a outra entrada da Quarto Crescente. Fica de frente para o rio. Detalhe: a areia fofa é igualzinha às de praias de mar

 

No entanto, se você estiver na pousada Quarto Crescente e não quiser caminhar muito para encontrar bons pratos típicos, basta olhar, literalmente, para o lado. A Pousada Sol e Lua (normalmente aberta em temporadas e finais de semana) serve almoço e jantar ao preço médio de R$ 25 para duas pessoas e inclui peixe regional, arroz, feijão, farinha de mandioca e vinagrete. Francisca Alves da Silva não é dona do empreendimento, mas o gerencia. “Vim de Marabá para passar um ano em Cotijuba. Estou faz onze”, conta.

Durante a noite, os barzinhos da Vai Quem Quer transformam-se em deliciosos lugares para dançar. Uma caminhada, de ponta a ponta, trará aos ouvidos de tecnobrega a MPB e Bob Marley.


Ok, sem obviedades…embarque nesta visão e…
sinta por si mesmo!

Pronto: desde Belém dá para viajar uma hora de barco e chegar a um delicioso lugar chamado Ilha de Cotijuba, cuja praia do Vai Quem Quer só fica devendo para vilarejos semelhantes da Bahia aquele belo mar azul. (No entanto, quem vai à Cotijuba pode nadar nas águas doces e mornas da Baía do Marajó!). Nada mal. 

Serviço
Pousada Quarto Crescente
[email protected]
91 9127-2792