Em novo levantamento, um estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que a criminalidade no Rio de Janeiro provocou queda de R$ 657 milhões nas receitas do turismo fluminense entre janeiro e agosto de 2017. O montante equivale a 29% do total da perda do faturamento do setor (R$ 2,291 bilhões). 

Embora fatores relacionados à conjuntura econômica ajudem a explicar a queda de atividade no turismo fluminense, o estudo aponta a contribuição negativa do aumento da criminalidade no Rio de Janeiro para a recuperação do setor, que responde por mais de 9,9% dos postos de trabalho formais do Estado e por aproximadamente 7% da economia fluminense.

Queda nas receitas
A perda de receita relatada (R$ 657 milhões), que equivale ao faturamento de 8,9 dias do turismo local, impactou de forma mais significativa o segmento de bares e restaurantes (R$ 332,1 milhões, o correspondente a 50,3% do total), seguido pelas atividades de transportes, agências de viagens e locadoras de veículos (R$ 215,5 milhões, ou 32,6%), hotéis, pousadas e similares (R$ 97,7 milhões, ou 14,8%) e por atividades culturais e de lazer (R$ 14,7 milhões, ou 2,2%).

Segundo estimativa da CNC, para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita bruta das empresas que compõem a atividade turística do Estado recua, em média, 1,8%. O estudo identifica que a sensibilidade ao aumento da violência no Estado é maior nos segmentos mais dependentes do turismo, tais como hospedagem (-1,9%) e transporte (-2,0%). Já nos segmentos de alimentação e serviços culturais e de lazer, mais ligados à prestação de serviços a residentes, o aumento de 10% na criminalidade no Estado reduz suas receitas em 1,7% e 1,5%, respectivamente.

Menos empregos
De janeiro a setembro de 2017, o saldo entre admissões e desligamentos nas atividades que compõem o setor resultou na perda acumulada de -10.237 postos de trabalho com carteira assinada – um aumento de 50% em relação aos 6.823 postos fechados no mesmo período de 2016 –, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Para Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC, apesar de a realização dos Jogos Olímpicos ter dado um respiro para o setor turístico em julho e agosto de 2016, outros fatores econômicos justificaram o seu desempenho negativo após o grande evento mundial. “A evolução desfavorável do mercado de trabalho brasileiro até o início de 2017 limitou a capacidade de consumo por parte dos turistas nacionais. As restrições impostas ao orçamento das famílias por conta da crise também levaram os consumidores a abrir mão de gastos com lazer. E, mesmo com a reação lenta do emprego e a queda da inflação nos últimos meses, ainda não vemos efeitos da retomada na demanda por serviços turísticos”, disse.

Posicionamento
Alexandre Sampaio, hoteleiro e presidente do Cetur (Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade) da CNC, apesar dos dados levantados pela Confederação, algumas iniciativas podem ajudar na recuperação do segmento. "De modo geral, e principalmente no Rio de Janeiro, os governos devem fortalecer iniciativas de apoio à segurança pública, com a mobilização de todos os recursos disponíveis – forças auxiliares, inteligência estratégica, troca de informações entre as autoridades de diversos níveis, campanhas de mobilização social. E o turismo, para ser uma alternativa para a retomada da economia, precisa avançar em diversas frentes, como na transformação da Embratur em agência para ampliar a divulgação dos destinos brasileiros, e em mudanças que facilitem investimentos, como a criação de zonas de exportação turística e a ampliação do número de países com visto eletrônico. A liberação dos cassinos, por exemplo, será um ganho para o Estado do Rio e para o País. São iniciativas que não dependem de investimentos do poder público e podem gerar empregos, o que, sem dúvida, refletirá nos índices de criminalidade".

* Foto da Capa: Pixabay/Poswiecie