domingo, 22/setembro
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Otavio Novo: O turismo e a democracia

Escrevo esse artigo num quarto de hotel durante uma viagem de três semanas longe de casa, entre trabalho e lazer e, diante de tantas outras coisas para pensar, surgem reflexões sobre a relação entre o turismo e a democracia.    

Isso mesmo, afinal, como sempre, viajar é a oportunidade de observar e viver fora da normalidade, de ir além das nossas rotinas limitadoras e nesse exercício podemos mudar ou reforçar nossos conceitos.  

E certamente, um desses conceitos, especialmente nesse momento nacional importante, é o da relação e entre as atividades turísticas e as práticas democráticas de uma sociedade como a nossa.  


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Mas será que o turismo tem mesmo a ver com a democracia? Em que sentido? 

Quando viajamos nos expomos ao diferente. Somos, na maioria das vezes, forasteiros, estranhos contando com a consciência coletiva local de permitir nossa presença . 

Viajar é usufruir da aceitação das pessoas que residem e vivem nos locais por onde passamos e exploramos, no bom e, por vezes, também no mau sentido.  

E mesmo que não pareça, mas nas duas frases anteriores passamos por características do turismo que se confundem com as bases da democracia, e a principal delas é a garantia do respeito ao que não seja comum, conhecido e igual. 

Na democracia,  a individualidade é protegida pelo coletivo, que define os limites e proteções para que todos possam usufruir da liberdade sem comprometer as condições mínimas para que essa possibilidade se mantenha. 

No Turismo e na hospitalidade, o mesmo acontece, e os visitantes irão contar com a permissão dos anfitriões para viverem grandes experiências até o limite do que se considera saudável, respeitoso e condizente com as regras e costumes locais. 

Em ambientes democráticos, todos nós somos a maioria e a minoria ao mesmo tempo, queremos nossa liberdade e prezamos pelo bem comum. Somos os anfitriões e visitantes dos “destinos” das nossas vidas. 

Por isso, fica impossível dissociar a ideia de viajar e receber pessoas dos conceitos que baseiam a democracia. Independentemente das nossas impressões e frustrações pessoais prevalece o respeito a nossa essência comum. Afinal não é porque nos frustramos com o local das nossas férias que deixaremos de agir de forma civilizada e respeitosa, não é?

Portanto, diante dos acontecimentos estarrecedores de destruição e desrespeito ao coletivo ocorridos  em Brasília no último dia 08/01, fica aqui uma forte recomendação àqueles que ali atuaram, e também aos que veem alguma razão/explicação/justificativa para as violências praticadas: Viajem e recebam viajantes! 

Façam turismo no sentido amplo da palavra, abram o coração e a mente para o diferente, relembrem a importância da hospitalidade ao ser recebido num lugar distinto, recriem laços com aqueles que não são iguais. 

O turismo traz ensinamentos que deveriam estar nos programas educacionais de todos porque assim, certamente, teríamos uma sociedade realmente educada para entender, aceitar e aproveitar as diferenças e não se revoltar e atacá-las agressivamente. 

Infelizmente, a grande diferença entre turismo e democracia é que o primeiro não é inclusivo como a segunda, já que a democracia é base das sociedades (maduras) em que todos fazem parte. 

Assim, cabe ao setor do turismo, e todos que nele atuam e dele usufruem,  usar seu DNA acolhedor para rechaçar a ignorância que além de causar prejuízos humanos, econômicos e históricos, nos transforma cada vez mais num povo  e num destino mais distantes dos sonhos e roteiros de viagem dos turistas do Brasil e do Mundo. 

Enfim, o turismo e a democracia são similares porque surgem da mesma fonte , ou seja, o ser humano e suas ricas diferenças. 

Depende de cada um de nós defendermos e fortalecermos ambos.

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Otavio Novo é profissional de Gestão de Riscos e Crises, atuando desde o ano 2000 em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Consultor e idealizador do projeto Novo8, mencionado pela ONU no IY TOURISM 2017.  Advogado, coautor do livro “Gestão da qualidade e de crises em negócios do turisno” , durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels para cerca de 300 propriedades e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina.

Contato: [email protected]​ | www.novo8.com.br

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal