sábado, 21/setembro
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Hubber Clemente: I have a dream – sonho para diversidade e inclusão na hospitalidade

No dia 28 de agosto deste ano , um dos mais potentes e famosos discursos em prol da liberdade e inclusão social completou 60 anos. “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.” Esse é o trecho mais lembrado do discurso de Martin Luther King, proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, em 28 de agosto de 1963 , proferido ao vivo para mais de 300 mil pessoas e transmitido para milhões de espectadores no mundo, principalmente os norte-americanos. Este discurso foi realizado após duras e violentas repressões politicas e policiais aos direitos civis da população negra e minorias sociais nos Estados Unidos.

É importante lembrar que naquele ano, 1963, ainda imperava por lei a segregação racial no país. Negros não podiam frequentar alguns espaços públicos e privados junto com pessoas brancas, eram proibidos de frequentar escolas e hospitais junto com brancos e até mesmo eram enterrados em cemitérios separados e afastados. Consequentemente conectando ao nosso setor, não podiam se hospedar nos mesmos hotéis, comer nos mesmos restaurantes e nem ir aos mesmos espaços de eventos.

O racismo imperava na sociedade e os tribunais menores ignoravam as queixas e denúncias dessas pessoas, que eram constantemente oprimidas e discriminadas pelo sistema. A Lei dos Direitos Civis, que encerra a segregação racial nos Estados Unidos, é assinada em 1964, muito em virtude de toda pressão social, principalmente dos movimentos negros pelo fim da exclusão e também pelo assassinato do presidente John Kennedy em novembro de 1963, aliado declarado dos direitos civis e pelo fim da segregação racial.


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No Brasil, nunca tivemos uma segregação racial ou de outros preconceitos sociais decretados por lei, mas ainda hoje lutamos contra uma sociedade que se declara inclusiva, mas que na verdade continua ainda muito excludente com as minorias sociais: mulheres, negros, LGBTQIAPN+ , indígenas, PCDs. Temos diversas ações inclusivas, datas importantes, até leis recentes que trabalham em prol da inclusão e diversidade, mas que precisam de cobrança e vigilância para serem minimamente cumpridas. Um grande exemplo totalmente conectado ao nosso setor é o fato que originou a primeira lei de combate ao racismo no país, a Lei Afonso Arinos. Lembrando que de 1888 até 1951 não existia nenhuma lei contra o racismo no país.

Em 1950, os gestores políticos do Brasil  “vendiam” a imagem de país do futuro, que tinha resolvido a maioria dos seus problemas sociais. A miscigenação entre brancos, negros e indígenas era um sucesso e todos viviam em harmonia social. Na noite de 11 de julho de 1950, em sua estreia no Teatro Municipal de São Paulo, a dançarina e coreógrafa americana Katherine Dunham aproveitou o intervalo entre o primeiro e o segundo atos para fazer uma denúncia aos repórteres que cobriam o espetáculo. Revoltada, a artista relatou que, dias antes, o gerente do Esplanada, luxuoso hotel vizinho do teatro, se recusara a hospedá-la ao descobrir que era uma “mulher de cor”.

A repercussão não se restringiu à imprensa brasileira, mas repercutiu também em outros países. No dia 17 de julho de 1950, o deputado Arinos apresentou seu projeto de lei e em 3 de julho de 1951, o então presidente Getúlio Vargas promulgou a primeira lei brasileira de combate ao racismo, a Lei 1390, mais conhecida como Lei Afonso Arinos. Vale a observação que a primeira pessoa negra a utilizar lei no país foi a jornalista Gloria Maria e adivinhem onde ela sofreu o preconceito? Sim, ao tentar realizar o check in em um hotel de luxo no Rio de Janeiro em 1970. E até hoje pessoas negras e outras minorias sociais sofrem preconceito em hotéis e meios de hospedagem no Brasil, muito em virtude da omissão, negação e resistência dos órgãos públicos, entidades de classe e empresas do setor em priorizar, lidar e investir no tema.

Mas o sonho da inclusão e diversidade do Pastor King resiste , ainda que sejam poucas , já temos ações acontecendo na hospitalidade brasileira em prol da causa de inclusão de minorias sociais no setor. Espaços como este no Hotelier News são consequência deste sonho , que é de muitos que desejam ver uma hospitalidade , sociedade e um mundo justo , igual e incluso para todos.

Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal