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Regent Hong Kong: o hotel que redefiniu o luxo para toda uma cidade

O hoteleiro francês Michel Chertouh chegou a Hong Kong durante um momento incomum: era 2021, e a cidade estava no auge dos lockdowns da pandemia. Até o motorista de táxi que o pegou em seu hotel de quarentena estava curioso. “Bem-vindo a Hong Kong. O que o traz à cidade?” perguntou. “Estou trabalhando em um projeto para trazer o Regent de volta ao destino”, respondeu.

“Regent? Isso é super luxuoso!” disse o taxista animado, compartilhando histórias sobre o famoso hotel da cidade e seu lugar na história de Hong Kong. Chertouh agora é o diretor-geral do ressuscitado Regent Hong Kong, que recentemente reabriu suas portas aos hóspedes. E ele tem ouvido muitas histórias como essas, todas lembrando quão altas são as expectativas para a nova versão do clássico empreendimento.

“Incrível”, disse o executivo, com mais de três décadas de experiência na indústria, à CNN Travel. “A coleção de declarações e histórias como essas me mostrou que todos aqui têm uma conexão com o Regent. Operei muitos hotéis diferentes em muitos lugares. Muitos têm edifícios bonitos, mas poucos têm alma. Essa é a grande diferença entre o Regent Hong Kong e muitos outros hotéis”, acrescentou.


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O Regent não é o hotel de luxo mais histórico de Hong Kong – o Peninsula Hong Kong do outro lado da rua está na cidade desde 1928; o Mandarin Oriental abriu as portas em 1963, mas ocupa um lugar único nos corações dos moradores. Aberto pela primeira vez em 1981, o Regent Hong Kong era de propriedade da New World Development Company e gerenciado pela Regent International Hotels. O empreendimento fazia parte de um pioneiro complexo de varejo/entretenimento/residencial/hoteleiro chamado New World Centre, o destino de recreação preferido do destino na época.

Embora não fosse o primeiro Hotel Regent, esta propriedade específica foi projetada para se tornar o novo hotel principal do grupo. Com o objetivo de torná-lo o melhor empreendimento do mundo, Robert Burns, co-fundador da unidade, elaborou uma lista de ideias inovadoras.

Banheiros com cinco peças chamavam atenção

Cada banheiro do quarto do hotel era equipado com duas pias, uma banheira, um banheiro separado e um vaso sanitário. Tornou-se a nova referência para hotéis de luxo modernos em todo o mundo, que até então consistiam principalmente em banheiros com três peças (um vaso sanitário, uma pia e uma banheira/chuveiro).

A nova estrutura do Regent Hong Kong foi criada por Chi Wing Lo, arquiteto e designer multidisciplinar nascido na cidade, conhecido por sua linha de móveis de alta qualidade feitos na Itália. Embora o Regent tenha sido o primeiro projeto de hotel de Lo, ele tem sua própria conexão com a marca.

Ele deixou Hong Kong em 1981, ano em que o Regent abriu, para estudar arquitetura na Universidade de Toronto e na Universidade Harvard, e mora em Atenas há mais de três décadas.

No entanto, o arquiteto lembra de pegar uma balsa diária pelo Porto Victoria de Hong Kong para trabalhar na década de 1970 e testemunhar a construção do hotel. “Ouvi dizer que haveria um hotel fantástico surgindo”, disse. “Nunca pensei que voltaria mais de 40 anos depois para redesenhar o Regent. É uma espécie de destino que eu não conseguia acreditar”, avaliou.

O novo Regent Hong Kong mostra a filosofia de luxo de Lo

Ao invés de seguir o esquema de cores ousado de ouro, vermelho e azul real que representava o antigo Regent, embora essas tonalidades ainda estejam presentes de maneira sutil, o novo design exala calma, apresentando paletas mais discretas e materiais naturais.

Graças a projetos como esse, sem mencionar as vistas sobre o Porto Victoria e o maior salão de baile da cidade, o Regent Hong Kong logo se tornou o assunto.

“Naquela época, o Regent era o único que tinha um salão de baile enorme”, relembrou Chertouh. “Todos os eventos de celebridades, galas de empresas, casamentos e aniversários aconteciam aqui. Então, quando tinham filhos, faziam as celebrações familiares no hotel. Daí vem a ligação de Hong Kong com esta propriedade – porque todos na comunidade têm tantas memórias aqui.”

Ao longo dos anos, o hotel de Hong Kong recebeu muitos prêmios de “melhor do mundo”. Mas em 2001, a proprietária local New World Development vendeu o imóvel para a Bass Hotels and Resorts. Sob nova administração, tornou-se o InterContinental Hong Kong.

Regent - Banheira
Lo até projetou as banheiras que foram instaladas nos novos quartos

 

Enquanto isso, a Regent Hotels & Resorts passou por altos e baixos, mudando de propriedade algumas vezes. Ainda não foi em 2018, quando o InterContinental Hotels Group adquiriu a participação majoritária na Regent Hotels & Resorts, que os planos de reunir a cidade com uma de suas marcas de hotéis favoritas começaram a se concretizar.

O InterContinental Hong Kong interrompeu as operações em 2020 para dar lugar a uma reforma completa, culminando no retorno do Regent Hong Kong, que abriu este mês.

Os hóspedes que visitam o hotel, primeiro passam por sua clássica fonte de Feng Shui antes de entrar por um conjunto de portas duplas de madeira com rebites decorativos, projetadas para se assemelhar a um portal de um antigo palácio chinês. “Tivemos essa ideia (de design inspirado em castelos) para que os hóspedes encontrem sua própria tranquilidade. Acho que encontrar tranquilidade é a melhor maneira de curar o estresse”, explicou Lo.

À medida que as portas espessas fecham o mundo exterior, os visitantes se encontram em um saguão com pouca iluminação e lustres reimaginados para parecerem paredes de tijolos. Eles são feitos de vidro liu li, uma técnica especial de fabricação de vidro chinês que cria blocos de vidro por moldagem e fundição. Além do saguão atmosférico, há o lounge do Lobby com teto alto e cheio de luz, além dos restaurantes Harbourside.

As janelas do chão ao teto neste canto – que fizeram dos restaurantes alguns dos melhores lugares para admirar as famosas vistas do porto da cidade por décadas – ainda estão lá, assim como alguns dos funcionários. Joyce Lai ingressou no Regent de Hong Kong em 1993 como garçonete júnior no Harbourside.

“O Regent sempre foi considerado um hotel muito sofisticado, prestigioso e glamoroso, e um local de encontro favorito para hóspedes locais e internacionais de alto perfil”, contou ela à CNN Travel. “Celebridades locais e estrelas de cinema frequentavam o Harbourside como sua ‘cafeteria’ de preferência. Eu até tive a oportunidade de servir o presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai), no café da manhã quando ele ficou no Regent de Hong Kong.”

Ao longo das décadas, Joyce trabalhou em diferentes funções e departamentos ao redor do hotel e agora é gerente do centro de atendimento do Regent Hong Kong, supervisionando a equipe que cuida de todas as perguntas dos hóspedes.

Todo ano, ela levava seus filhos pequenos para participar da festa de Natal dos funcionários no hotel. Seu filho já modelou em uma sessão de fotos festiva para a aula de fazer gingerbread do empreendimento.

“Ainda tenho as fotos. Depois de tantos anos, isso se tornou minha casa. Meus filhos consideram o hotel a segunda casa deles, tendo passado tanto tempo aqui”, revelou Joyce.

Outros recursos populares do Regent Hong Kong original permanecem, como a grandiosa escadaria de mármore – um local obrigatório para fotos em grupo para os frequentadores de festas da propriedade – enquanto Lo criou várias peças inspiradas nas coleções e designs do antigo hotel, incluindo uma impressionante tela dobrável na parede do saguão.

O novo Regent Hong Kong tem 497 quartos, incluindo 129 suítes. Sua suíte presidencial, com um terraço privado e uma piscina infinita com vista para o porto, é uma das maiores da cidade. Há seis opções de A&B (Alimentos & Bebidas), incluindo o Harbourside.

O restaurante cantonês Yan Toh Heen, com duas estrelas Michelin, voltou ao seu nome original: Lai Ching Heen. As extravagantes configurações de mesa de jade e os delicados dim sum felizmente permaneceram inalterados.

Nobu, do famoso restaurateur e autor Nobu Matsuhisa, e o Steak House são outros destinos gastronômicos badalados do Regent para os gourmets da cidade. Enquanto isso, um bar e lounge de charutos chamado Qura está programado para abrir no Regent nas próximas semanas.

Redefinindo o luxo

Na véspera da reabertura, Chertouh e Lo estão ocupados percorrendo os quartos e ajustando pequenos detalhes ao redor do hotel. Assim como os hoteliers do Regent que vieram antes deles, a dupla espera que este seja o início de sua jornada para mais uma vez redefinir o que significa hospitalidade de luxo em Hong Kong. Um ingrediente chave do conceito de “novo luxo” é a necessidade de prestar atenção aos mínimos detalhes – desde o design até o serviço – de maneira discreta.

Por exemplo, a maioria das cadeiras do Regent Hong Kong foi projetada para ser alguns centímetros mais baixa do que o habitual para dar uma sensação de leveza aos quartos. Elas também são giratórias, permitindo que os hóspedes se acomodem e girem para ver a paisagem sem precisar movê-las.

As típicas tigelas de frutas estão lá, mas contêm apenas uvas. Os doces de boas-vindas podem ser terminados em duas mordidas, para que os hóspedes não tenham que cortar nada eles mesmos. Uma nova banheira, projetada por Lo, envolve os banhistas de uma maneira pouco convencional. As camas são feitas de uma maneira mais relaxada para que os hóspedes “não tenham que lutar” com lençóis e cobertores rigidamente dobrados para se sentirem confortáveis.

“Assim como o design de Chi Wing, no mundo de hoje, menos é muito melhor que mais. A simplicidade é um luxo que todos querem – já que estamos sendo estimulados sem parar”, destacou Chertouh.

“O luxo é ter a oportunidade de se reajustar e não ser distraído por alguém tentando empurrar serviços. Estamos muito orgulhosos de nossa herança, mas não somos reféns dela. Estamos avançando para a hospitalidade de hoje e amanhã”, finalizou Chertouh.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Regent Hong Kong