Na hotelaria, a previsibilidade é o segredo para uma boa estratégia. Já falamos aqui sobre criação de orçamentos e como eles ajudam nesse processo, que é permeado por diversas etapas. Uma delas, considerada crucial neste momento, é a elaboração de forecasts para tentar projetar, da forma mais assertiva possível, o que vem pela frente.
Para entender como eles funcionam, conversamos com alguns especialistas do setor. Em entrevista ao Hotelier News, Cláudio Azevedo, CEO da App Sistemas, diz que todo negócio precisa ter metas, na hotelaria ainda mais, visto que trata-se de um produto “perecível”. “Se eu não vendi o quarto, amanhã não vendo. É uma demanda que precisa ser bem trabalhada, e para que se atinja esses objetivos, é preciso desenhar essa previsão da forma mais assertiva possível, com possibilidades e caminhos para atingir a performance esperada. E é aí que os forecasts entram”, destaca.
“Obviamente, o planejamento vai depender da atividade de cada hotel. Forecasts de empreendimentos corporativos muitas vezes não se adequam aos de lazer e vice-versa, e isso é um dos grandes desafios na construção desses relatórios. Além disso, a sazonalidade também impacta muito os hotéis, principalmente os de lazer, e isso precisa constar nos planejamentos, para que sejam estudadas maneiras de preencher as lacunas inevitavelmente deixadas por esse fator”, complementa o executivo.
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Previsibilidade e precisão
Também em conversa com a reportagem do Hotelier News, Christiano Penna, fundador e CEO da Bebook, diz que, no dinâmico mundo da hotelaria, no qual a demanda oscila constantemente, os forecasts aparecem como um “farol para guiar decisões estratégicas e operacionais”.
“Por meio da análise precisa de dados históricos e tendências do mercado, hoteleiros podem navegar com mais segurança e assertividade, otimizando seus recursos e maximizando a lucratividade”, pontua.
“A sazonalidade, característica da indústria hoteleira, impõe um ritmo cíclico à demanda, com picos e baixas que exigem planejamento estratégico. Os forecasts, ao identificar e quantificar esses padrões, permitem que os hoteleiros se preparem adequadamente para cada fase, ajustando preços, dimensionando equipes e otimizando a alocação de recursos”, acrescenta o executivo.
Penna reforça que eventos locais e feriados representam “ondas adicionais no mar da demanda hoteleira”, exigindo previsões precisas para capturar essas oportunidades. Assim, com esses relatórios, é possível se antecipar a procura e definir estratégias eficazes de precificação e marketing, maximizando o potencial de receita durante esses períodos.
Para Eduardo Martin, associate partner da Noctua Advisory, os forecasts aparecem como a única ferramenta capaz de mostrar para uma organização se ela está na direção planejada e se existem riscos ou oportunidades. “A partir disso, é possível definir estratégias e ações corretivas. Um forecast completo deve permear todas as áreas de uma organização, dando clareza de envolvimento de cada colaborador na geração de resultado. O principal fator é cada um da organização entender seu papel diante do business plan e das variações do relatório em relação a ele”, explica.
Por outro lado, continua, o maior desafio é a falta de rigor e consistência nos processos relacionados ao forecast. O executivo reforça que a hotelaria e o turismo vivem uma constante busca pelo desenvolvimento estratégico, que frequentemente é posto de lado em detrimento da operação. “O business plan e o forecast devem ter um espaço e time responsáveis por priorizar sua execução e assegurar a visibilidade dos resultados, desenvolvendo esse processo de forma contínua, para que seja mais preciso e capaz de gerar insights de negócio”, comenta.
Como dados e tecnologia contribuem nesse processo?
O executivo da Noctua Advisory acrescenta que a integração de fontes de dados deve ser vista como um trabalho contínuo. “Sempre haverá novos domínios de informações, modelos, tipo de dados que podem ser utilizados para a tomada de decisão. As empresas devem, portanto, investir e se estruturar para serem capazes de melhorar seus dados continuamente. Essa atividade extrapola a contratação de datalake ou outras tecnologias, devendo alcançar o entendimento da importância das informações para a organização, a capacidade de priorizar de forma clara e compartilhada quais serão os desenvolvimentos de dados futuros, entre outros pontos”, endossa.
Nesse sentido, aponta ele, as tecnologias atuais para captura, tratamento e modelagens de dados têm grande potencial para gerar insights melhores e mais assertivos. “Melhor do que um algoritmo muito preciso é um conjunto de lógicas estruturadas de projeção, que permitam avaliar mais de um cenário e compreender o efeito de diversas variáveis no resultado”, afirma.
De forma simplista, ao invés de entender somente as variações de demanda em um mês comparando com o ano anterior, deve-se buscar compreender as variações da demanda em relação a um mês no ano anterior, a um conjunto médio de meses que mais se assemelhe, às expectativas dada uma temperatura, um conjunto de feriados ou eventos”, completa, acrescentando que essa multiplicidade de análise de variáveis e o entendimento da relevância de cada uma delas só é possível com o uso de métodos, tecnologia e processos analíticos.
Reforçando a ideia de Martin, Penna diz que a qualidade dos dados funciona como uma base fundamental para previsões precisas e confiáveis. “No entanto, na hotelaria, temos problemas como imprecisão e incompletude de informações históricas e atuais, que podem comprometer a confiabilidade do forecast”, pontua
“Para superar esse desafio, é fundamental implementar processos rigorosos de coleta, validação e tratamento de dados, garantindo a qualidade e a integridade das informações utilizadas”, analisa Penna.
“As tecnologias atuais oferecem ferramentas inovadoras que auxiliam os hoteleiros na superação dos desafios relacionados ao forecast. Algoritmos de inteligência artificial e machine learning podem analisar grandes volumes de dados de forma rápida e eficiente”, completa o executivo.
Complementando o raciocínio, Azevedo destaca que os dados são um dos grandes gargalos da hotelaria. Dessa forma, é preciso que haja soluções integradas. “A solução de PMS precisa estar conectada com as de RMS, distribuição, motor de reservas, channel manager, entre outras, e isso vai facilitar muito na elaboração dos forecasts. Esse trabalho precisa ser online, para não se tornar uma dor de cabeça para o hotel. Ferramentas de business intelligence ajudam muito nesse sentido”, explica.
Diretora da STR para a América Latina, Patricia Boo afirma que os forecasts são uma ferramenta crucial para os hoteleiros que procuram maximizar a procura e o crescimento das receitas. “Essas previsões ajudam tanto na definição, quanto no cumprimento dos orçamentos, pois dão uma ideia do que os hoteleiros podem esperar em termos de procura e crescimento das taxas nos próximos meses e anos, e porque podem esperar que esses movimentos ocorram”, diz.
Dessa forma, segundo ela, as melhores previsões utilizam uma combinação de dados qualitativos, incluindo pesquisas de eventos e conhecimento do mercado local, além de dados quantitativos, incluindo desempenho histórico do hotel e tendências macroeconômicas. “Warren Buffett disse uma vez: ‘no mundo dos negócios, o espelho retrovisor é sempre mais nítido que o para-brisa’. Isso significa que a única verdade está no passado. E é por isso que a informação histórica, juntamente com os dados ao nível do mercado, são a base para uma boa previsão para a definição do orçamento certo”, finaliza.
O tema será discutido na 3ª edição do Hotel Trends Orçamentos. Parceria com a Noctua Advisory, o evento será realizado de forma híbrida, com toda a parte presencial sendo realizada no Novotel Morumbi, em São Paulo. Algumas das principais lideranças da indústria de hospitalidade estão confirmadas como painelistas, entre elas Alexandre Gehlen (Intercity), Ulisses Marreiros (Belmond), Guilherme Martini (Atlantica Hospitality International), entre outros. Garanta seu ingresso no link.
O Hotel Trends Orçamentos 2025 é uma realização do Hotelier News, em parceria com a Noctua Advisory. Em sua 3ª edição, o encontro tem como patrocinadores o Grupo R1, Accor, APP Sistemas, Bebook, BWH Hotels, Climber RMS, Plusgrade, EXAM Assessoria Contábil, Hotéis Deville, Hot Beach Parques & Resorts, Lighhouse, STR e Wyndham Hotels & Resorts.
(*) Crédito da capa: Freepik
(**) Crédito das fotos: Divulgação
