Aos poucos, futuro hotel ganha forma em meio à selva de pedra paulistana
Duas associações de moradores entraram na Justiça contra a empresa que constrói o complexo Cidade Matarazzo, onde ficará o futuro Rosewood São Paulo. O motivo da briga é a construção de um túnel que conectará o empreendimento diretamente à Avenida Paulista. A informação é a Folha de São Paulo.
Anunciado em 2016, o Rosewood São Paulo ficará dentro do complexo mixed use, que terá unidades residenciais e corporativas, além de shopping center. Orçado em cerca de R$ 2 bilhões, o Cidade Matarazzo é um projeto do Grupo Allard e está sendo erguido em um terreno de quase 30 mil metros quadrado. O hotel, por exemplo, ficará em uma torre assinada por Jean Nouvel, com design de interiores feito por Phillipe Starck.
Rosewood São Paulo: a pendenga
A obra vai enterrar um trecho de 100 metros da rua São Carlos do Pinhal, permitindo a criação de um boulevard conectado à Paulista. Orçada em R$ 130 milhões, a intervenção foi aprovada pela prefeitura de São Paulo durante a gestão Bruno Covas (PSDB). O projeto será pago pela Associação São Paulo Capital da Diversidade, entidade fundada pelo empresário Alexandre Allard, do grupo Allard.
A Amacon (Associação dos Moradores da Consolação e adjacências) e a Amorbela (Bela Vista e Bexiga) são as autoras da ação contra o Grupo Allard. As duas entidades alegam que o túnel favorece um empreendimento privado, mas prejudicará os imóveis vizinhos. Entre as reclamações estão alterações no sistema viário da região. A alameda Rio Claro, por exemplo, passará a ser uma rua sem saída.
Para embasar seu pedido, as associações citam um parecer técnico da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de 2017, feito na gestão João Doria (PSDB), segundo o qual o projeto do túnel não trará “reais benefícios” para a região “do ponto de vista da acessibilidade e da mobilidade”. No documento, os técnicos afirmam que o túnel cria uma barreira física e que os empreendimentos lindeiros teriam seus acessos dificultados.
Procurada pela reportagem da Folha de São Paulo, a gestão Bruno Covas disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que a “proposta passou por intensa e transparente análise de todos os órgãos e departamentos competentes”. Argumento também que todo procedimento seguiu rigorosamente a lei e que a prefeitura concluiu haver interesse público.
Já o Grupo Allard, também por meio de sua assessoria, disse que a CET mudou seu entendimento sobre o projeto após alterações no projeto. “Uma série de solicitações de caráter geométrico e dimensional foram exigidos pelo órgão público, resultando em adequações no projeto da passagem inferior.” A empresa diz também que “uma série de estudos foram realizados, principalmente do ponto de vista construtivo, para garantir a manutenção da faixa carroçável durante as obras.”
O juiz Evandro Carlos de Oliveira, da 7ª Vara da Fazenda Pública, ainda não analisou o pedido de liminar feito pelas entidades para suspender o projeto. Aguarda a manifestação da prefeitura sobre o assunto, que tem 30 dias para responder.
(*) Crédito da capa: Divulgação/Ateliers Jean Nouvel
(**) Crédito da foto: Gabriel Cabral/Folhapress