segunda-feira, 23/setembro
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Após desaceleração, mercado hoteleiro sul-americano observa horizonte para novos investimentos

Estudo divulgado hoje (4) mostra tendência de investimentos nno setor hoteleiro da região
(foto: pixabay/Kerckx)
 

Envolto numa realidade de incertezas econômicas e políticas desde o ano passado, quando verificou seu PIB recuar e os escândalos de corrupção proliferarem, o Brasil – maior país de seu continente, vale lembrar – exemplifica o cenário de instabilidades vividas pela América do Sul. A inconstância financeira na região atingiu também o desempenho do mercado hoteleiro, que testemunha, nessa conjuntura, um paradoxo revendo resultados amargos e ao mesmo tempo ponderando expectativas otimistas da retomada do crescimento em médio prazo. Pelo menos é isso que aponta o mais recente estudo Panorama da Hotelaria Sul-Americana – publicação anual da HVS/HotelInvest (em associação com a STR). De acordo com a pesquisa, o histórico de crescimento econômico da maior parte dos países analisados continua atraindo a atenção de investidores que buscam oportunidades em mercados em desenvolvimento.

Analisando a perfomance de 76.296 unidades habitacionais no Brasil e em países vizinhos, o levantamento reforça sua tese de provável crescimento apontando a desvalorização das moedas locais em relação ao dólar, em especial. Esse fenômeno faz com que ativos na América do Sul estejam mais acessíveis para os investidores. Outro efeito do aumento do dólar tem sido o crescimento da demanda de lazer em diversos destinos.    


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"No geral, as perspectivas do setor hoteleiro na América do Sul são positivas. A região está barata para investidores internacionais e novas alternativas de funding para o desenvolvimento de hotéis estão sendo estruturadas. A vinda de investidores mais qualificados para a região passa a ser mais provável", afirma Diogo Canteras, diretor da HVS South America e sócio-diretor da HotelInvest.

Em suma, para os responsáveis pela elaboração da pesquisa, as oportunidades atuais estão evidentes numa lista com, pelo menos, cinco grandes razões. Captação de investidores internacionais; compra de ativos em mercados com desempenho modesto; novos desenvolvimentos em cidades com pessão por demanda; melhoria da eficiência operacional para hotéis em operação; estruturação de novas alternativas de funding; e fortaleciomento na tendência de esforços que as grandes redes têm feito para concretizar conversões hoteleiras.

Tais tendências não são nenhuma novidade dentro desse mercado, tampouco na região, mas são variações importantes dado o contexto atual. 

O cenário de desvalorização das moedas locais favorece a compra de ativos hoteleiros em toda a América do Sul. Além disso, questões de ajuste econômico como as tomadas em nações como Chile, Peru e Colômbia – que tem iniciativas incentivando o desenvolvimento de novos processos produtivos e o crescimento das exportações – podem gerar reflexos positivos para o setor hoteleiro. Outro cenário que merece atenção é o vivido na Argentina, com a famigerada eleição de Mauricio Macri que sinaliza  mudança de postura. 

Já no Brasil, a circunstância política ainda é incerta, o que faz do momento hoteleiro desafiador, conforme comentam os pesquisadores. Observando o ano de 2015, todas as capitais pesquisadas sofreram com a diminuição na demanda corporativa, o que resultou em menos taxas de ocupação, diárias médias mais baratas e retração na receita.

O encolhimento nos índices operacionais das cidades pesquisadas no levantamento tem maior impacto quando medido pelo prisma do RevPar – receita por apartamento disponível. Nesse quesito, a capital mineira teve a queda mais acentuada ficando com 35% abaixo do número anotado no ano anterior. Todos os outros municípios verificados também apontaram desempenho ruim, com queda de 27% no Rio de Jeneiro e 16% em Salvador.

A taxa de ocupação variou, sempre em queda, de 1% (Curitiba) a 19,3% (Belo Horizonte). A diária média, também com índices de diminuição, esteve entre 0,4% (São Paulo) e 20,3% (mais uma vez na capital dos mineiros).


(imagem: HotelInvest / Panorama da Hotelaria)

A principal cidade de Minas Gerais mostra, de maneira amplificada, o momento pouco favorável flagrado durante o ano passado no País. Belo Horizonte viu crescer sua oferta em 33,5%  em dois anos e isso contribuiu para o impacto negativo. Para além dos resultados ruins analisados no estudo, a previsão é que, em curto prazo, o descompasso entre oferta e demanda continue existindo. 

No Rio de Janeiro, famoso destino turístio brasileiro no ano, em virtude da realização dos Jogos Olímpicos, os hotéis estão sendo afetados pela crise na cadeia de petróleo e gás, mas devem apresentar resultados positivos durantes a competição esportiva. Vale ressaltar também que houve aumento expressivo da oferta de unidades habitacionais na cidade, especialmente no Centro e na Barra da Tijuca, totalizando 4.277 novos quartos em 2015. Isso fez com que a taxa de ocupação, a diária média e, consequentemente, o RevPAR caíssem. O Rio, porém, continua mantendo a maior receita por apartamento disponível do País. 

O estudo mostra ainda que os mercados de São Paulo e Curitiba mantiveram os valores de diárias praticamente estáveis. Isso pode ser explicado, sobretudo, pela ausência de superoferta, já que nenhum empreendimento foi inaugurado na capital paulista e foi aberto apenas um novo empreendimento em Curitiba.

A Terra da Garoa apresentou a menor queda de diária entre as capitais analisadas, resultado da estabilidade de oferta. Na cidade foi observado impacto moderado por conta da queda de demanda corporativa e de eventos. "Com a retomada do crescimento do país, São Paulo deverá ser uma das cidades com melhor perspectiva de desenvolvimento do setor no Brasil, podendo atrair investimentos estrangeiros para a compra de ativos e para o desenvolvimento de novos empreendimentos hoteleiros", conclui o estudo. 

Na capital paranaense houve o benefício de uma leve queda na oferta de unidades habitacionais (em razão da saída de um hotel em operação), apresentando a menor queda na taxa de ocupação e receita por apartamento disponível (RevPAR) dentre as cidades avaliadas.


Belo Horizonte mostra, de maneira amplificada, o momento pouco favorável flagrado durante o ano passado
(foto: arquivo HN / Camila Oliveira)

Salvador e Porto Alegre foram os outros destinos pontuados no levantamento. E o município nordestino viu o fechamento do CBB (Centro de Convenções da Bahia) impactando seu setor hoteleiro além da verificada queda de rendimento. O mercado mostrou crescimento na competitividade entre os meios de hospedagem disponíveis e testemunhou o fechamento de alguns hotéis, dentre eles o Pestana Bahia e o Tulip Inn Centro de Convenções. A HVS estima que, com a recuperação da economia, os empreendimentos que permanecerem abertos devão ser beneficiados. 

No Rio Grande do Sul a perfomance de sua capital foi orientada diretamente pelo atípico ano de 2014, por conta da Copa do Mundo. Devido aos fatos decorrentes desse evento, em 2015 houve uma expressiva 
renegociação de tarifas por parte da demanda, o que fez com que a diária média da cidade ressucitasse patamares vistos em 2013, segundo aponta o estudo. Os hotéis inaugurados no ano da Copa, no entanto, tiveram seu primeiro ano completo de operação no ano passado.

Tudo isso somado à retração de demanda, levou a uma queda na taxa de ocupação. O RevPar apresentado também ficou abaixo do ano anterior. Estima-se que, em curto prazo, não haverá aberturas de novos hotéis na cidade, com exceção do Intercity Duo. Essa realidade sinaliza que o desafio agora é manter as tarifas em um patamar estável.

Vizinhos sul-americanos
Os fatores adversos não são ou foram privilégios brasileiros no horizonte analisado pelo Panorama da Hotelaria. A situação dos nossos vizinhos também merece atenção e pode ser fator contribuitivo para o crescimento – ou não – do mercado nacional. Argentina, Chile, Colôbia e Peru foram os países analisados também pela pesquisa.


A eleição argentina é motivo de otiimismo para os pesquisadores do setor
(foto: divulgação / Pixabay)

Em solo argentino a eleição presidencial do final do ano passado, segundo o estudo, foi bem vista pelo mercado e traz perspectivas positivas para a retomada do desenvolvimento hoteleiro naquele país, no médio prazo. Apesar da queda de 2,7% na taxa de ocupação em 2015, o setor em Buenos Aires apresentou aumento de 6,1% no RevPar e 9% no preço da diária média. Os estudiosos alegam que o mercado argentino ainda exige atenção em razão dos ajustes e reformas necessárias na economia, mas o ano de 2016 já deverá ter crescimento de diária média e de ocupação.

Também alvo de análises, a chilena Santiago apresenta expectativas otimistas. A atração de investimentos externos, a realização da Copa América (em 20105) e o maior número de turistas estrangeiros, impactaram positivamente o segmento. A hotelaria da capital chilena manteve índices de ocupação, diária média e RevPar bem parecidos com o visto em 2014 e viu sua oferta de hospedagem crescer com algumas inaugurações.

Na Colômbia a perspectiva no médio prazo é positiva para o setor hoteleiro em Bogotá. Apesar de uma leve desaceleração da economia, a desvalorização da moeda local em relação ao dólar tem beneficiado o turismo estrangeiro. Outro fator que deverá influenciar positivamente o desenvolvimento do setor é o término da política de benefícios fiscais para a construção de novos hotéis, o que deverá restringir a nova oferta futura no médio prazo. 

O crescimento da economia peruana nos últimos anos tem gerado uma forte pressão de demanda nos hotéis de Lima, alavancado os indicadores de desempenho. A inauguração do Centro de Convenções na cidade e o aumento do fluxo de turistas estrangeiros também são fatores que favorecem o setor. Em Lima, o setor apresentou aumento de 11% na diária média e de 4,6% no RevPar. 

Serviço
hotelinvest.com.br