Durante uma entrevista no palco da Conferência de Investimentos em Hospitalidade Europeia da Alvarez & Marsal (Alvarez & Marsal’s European Hospitality Investment Conference, em inglês) em Londres, o presidente e CEO da Marriott International, Anthony Capuano, afirmou estar “muito otimista” em relação ao futuro da companhia e da indústria hoteleira em geral. A empresa conquistou ótimos números no terceiro trimestre deste ano e, apesar disso, o executivo falou sobre a existência de obstáculos a curto prazo.
“Existem desafios hoje. Não há construção no mercado de dívida, especialmente em locais completamente novos”, comentou Capuano. O executivo afirmou, ainda, que a previsão comum era que os anos da pandemia inevitavelmente criariam uma nuvem tempestuosa, e acredita que esse cenário está acontecendo agora, referindo-se a custos excessivos, falta de negócios, perda de mão de obra e empréstimos bancários tradicionais, conforme aponta artigo do CoStar.
Além disso, a mais recente guerra no Oriente Médio vem preocupando a todos. “Há enormes oportunidades em certos mercados, mas Israel-Gaza é perturbador, extraordinariamente desafiador. Pensávamos que o terrorismo havia diminuído um pouco, mas aparentemente não”, disse Capuano.
A demanda por hotéis mudou, talvez permanentemente, já que as noites tradicionais de meio de semana, como quinta-feira e domingo, estão se preenchendo como os fins de semana. Capuano disse que os hoteleiros terão que determinar se o modelo de precificação de tarifas precisa ser alterado levando em consideração essas alterações. “A viagem combinada vai persistir. O ponto de dados mais interessante que vimos está relacionado à recuperação por dia da semana, e são os domingos e quintas-feiras. Não é fácil mudar isso, mas tivemos que pensar de maneira diferente sobre as ofertas que fornecemos e em quais dias”.
Capuano salientou que o termo bleisure – quando os hóspedes de hotel estendem viagens a trabalho por um ou dois dias para fins de lazer – pode estar desatualizado, já que a demanda mudou significativamente. Ele acrescentou que o programa de fidelidade da rede, o Marriott Bonvoy, foi uma ferramenta crítica quando os consumidores se sentiram seguros para viajar novamente. “Houve um envolvimento profundo com nossos hóspedes, e não posso subestimar a importância [do nosso programa de fidelidade] quando ninguém estava viajando. Nossos hóspedes veem sua relação com o Bonvoy como sendo transacional”.
Quanto ao que o entusiasma no horizonte, Capuano enfatizou que está intrigado com a forma como a indústria hoteleira pode se beneficiar das ferramentas de inteligência artificial.
“Eu tinha 30 graduados do MIT em nosso escritório central em Bethesda, Maryland, e um aluno brilhante disse: ‘Com todos esses grandes avanços, você receberia seu primeiro hotel sem funcionários?’ E eu disse: ‘Oh, meu Deus, espero que não.’ Mas se libertarmos os funcionários de tarefas como check-in, isso dará a eles alguns minutos a mais para olhar nos olhos do hóspede e descobrir o motivo da viagem e por que eles estão lá”, comentou o executivo.
“E se alguém ligar dizendo que precisa de um hotel no Brasil com uma suíte e quartos conectados, um spa com uma piscina olímpica e um restaurante italiano e japonês, a IA encontrará isso instantaneamente”, acrescentou.
Estratégias da Marriott International
A Marriott está fora do jogo de propriedade de hotéis há um tempo, e Capuano disse que essa é a estratégia que a empresa seguirá. “De nossos quase 9 mil hotéis, possuímos apenas 20, e ficarei feliz em vender qualquer um desses. Historicamente, fomos disciplinados em nosso uso do balanço, e você não verá a Marriott se afastar do nosso modelo de ativos leves. Não haverá outro Host Marriott”, explicou, referindo-se ao truste de investimento imobiliário Host Hotels & Resorts, que foi desmembrado da Marriott como uma empresa de propriedade de hotéis em 1993.
Capuano pontuou, ainda, que deseja que a Marriott continue dominando o segmento de luxo. “Cerca de 10% de nossos 1,5 milhão de quartos estão no segmento de luxo, mas representam 25% de nossa receita. Para nós, luxo significa foco e fluência, e faremos tudo o que pudermos para estender a liderança que criamos nesse segmento”.
Ele acrescentou que a Marriott vai alocar recursos para expandir sua presença no segmento de hotéis de categoria intermediária. “É interessante ver o futuro, que é menos uma curva de sino. Sinto que o segmento de categoria superior ainda está tentando encontrar seu caminho”.
Em geral, Capuano afirmou estar otimista em relação ao panorama geral da demanda por viagens. “As gerações mais jovens mudaram e deixaram de querer tantos bens materiais. Muitos ativos independentes viram os benefícios da marca e dos motores de fidelidade, e outra coisa bastante encorajadora é que, mesmo que uma grande porcentagem do capital humano tenha deixado a indústria, estamos vendo o retorno dos nossos níveis tradicionais de mão de obra, e com boas pessoas”, finalizou.
(*) Crédito da foto: Terence Baker/CoStar