O futuro das viagens vem sendo tema de diversos debates no setor turístico. E o tema chegou às rodas de conversas de CEOs de grandes redes hoteleiras. É claro que a IA (Inteligência Artificial), avanços tecnológicos e ESG estão em destaque na discussão, todavia, os executivos apostam em outro fator: a demografia.
Uma classe média crescente, uma população envelhecida e uma mudança global para o leste estão entre as forças mais poderosas do setor, de acordo com comentários recentes de CEOs globais de hotéis, como IHG, Accor, Hilton e Marriott.
Segundo divulgado pelo Skift, Chris Nassetta, CEO da Hilton, em uma conferência na Arábia Saudita na semana passada, disse que responder às mudanças demográficas ajudaria a inaugurar uma nova era de crescimento. “Minha opinião é que estamos no início de uma era de ouro das viagens”, comentou. “Três coisas estão impulsionando isso. Uma é a demografia: teremos mais de cinco bilhões na classe média até 2030”, completou.
“Quando você acordar em 20 anos e olhar para o crescimento da indústria, a maior parte do crescimento será no mercado médio. Por quê? Demografia. A classe média é a faixa de protuberância que impulsionará a demanda por viagens”, analisou Nassetta.
A Hilton, assim como todos os seus concorrentes, tem marcas que vão desde hotéis econômicos, como Garden Inn e a recém-chegada Spark , até empreendimentos de luxo, como Waldorf Astoria e Conrad.
A fala de Nassetta vai de encontro com os insights compartilhados peo Google sobre o futuro das viagens até 2040. A empresa aponta que o número de viajantes internacionais deve crescer 60%, chegando a quase 2,4 bilhões de turistas.
Foco na classe média
Anthony Capuano, CEO da Marriott, concordou que os operadores hoteleiros devem se concentrar em viajantes de todos os níveis de renda.“Todos nós estamos vendo a bifurcação do consumidor. Estamos vendo famílias de alta renda viajando no segmento de luxo, e as famílias de baixa renda também têm apetite para viajar. É por isso que todos nós construímos portfólios em várias faixas de preço. A pandemia criou uma pequena pausa, mas estamos todos falando sobre uma explosão da classe média.”
Capuano disse que esse foco na classe média não é apenas “intuição”, mas é impulsionado por pilhas de dados de consumidores que a Marriott e outras operadoras coletam de usuários que gastam com seus cartões de crédito.
“Essa não é nossa intuição, todos nós temos grandes plataformas de cartão de crédito de marca, então temos dados excelentes sobre gastos do consumidor em tempo real. Esse apetite para priorizar viagens e experiências está presente em todos os grupos demográficos”, disse Capuano.
Demografia x marcas
Sébastien Bazin, presidente e CEO da Accor, afirmou que os hotéis de luxo devem ser os últimos a entrar em novos destinos, enquanto marcas econômicas e midscale abrem caminhos para os negócios. “Temos que entender que as viagens começam domesticamente. Todos nós ficamos confusos pensando em [viajar para] outros continentes. Mas 70% das viagens em termos de volume são domésticas”.
Bazin ainda deu exemplos de expansão global. “Começou com a América há 50 anos, depois a Europa há 40 anos, depois a China pelos últimos 25 anos. Depois a Índia pelos próximos 20 anos. É tudo sobre demografia, classe média emergente e populações locais.”
População envelhecida e gerações mais jovens
Elie Maalouf, CEO do IHG, tem uma visão diferente da demografia, principalmente sobre a faixa etária das pessoas. “É predominante na América do Norte, Europa e China o envelhecimento da população. Há uma onda de aposentados que são mais saudáveis e ricos do que qualquer geração anterior. Uma das principais coisas que eles querem fazer é viajar.”
A geração mais jovem também é crucial. Bazin disse que esses viajantes devem ser ouvidos. Ele acrescentou que seus hábitos de viagem exigirão que os desenvolvedores lidem melhor com o overtourism. “A nova geração pode ir para lugares remotos muito antes de ir para lugares como Veneza e Barcelona”.
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