segunda-feira, 23/setembro
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Destaque no PIB, setor de serviços reage à reabertura e estímulos

O crescimento de 1,2% no PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre surpreendeu positivamente o mercado, que esperava avanço de 0,9% em relação ao trimestre anterior. De acordo com os dados apontados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor de serviços foi a estrela da economia no período em uma reação clara à reabertura do comércio, flexibilização das restrições e estímulos fiscais.

No trimestre encerrado em junho, o setor cresceu 1,3% na mesma base de comparação. Segmento de maior expressividade econômica pela ótica de oferta, os serviços respondem por cerca de 70% do indicador. De pequenos negócios, bares, restaurantes, hotéis, instituições financeiras, de ensino entre outros, essa fatia é também a que mais emprega no país.

Segundo informado pela Folha de São Paulo, os bons resultados são reflexos da retomada dos serviços presenciais, aquecimento do mercado de trabalho, além de medidas de estímulo do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço), antecipação do INSS e crescimento do crédito.


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Apesar do bom desempenho, a alta da inflação e o aumento dos juros ainda são os algozes do setor— afetando diretamente a capacidade de consumo da população e promovendo a escalada de preços.

No segmento, os grupos que puxaram a alta foram: atividades de serviços (3,3%), transportes (3,0%) e informação e comunicação (2,9%). Serviços presenciais, como é o caso da hotelaria, estão inseridos no primeiro segmento. Com o avanço, as atividades de serviços chegaram a um patamar 4,4% acima dos níveis pré-pandêmicos.

O setor hoteleiro tem sinalizado uma retomada mais consistente em 2022, com empresas recontratando equipes e resultados ultrapassando os números de 2019. A recuperação simboliza a subida de um novo degrau, onde os empreendimentos precisam voltar a se atentar aos dados macroeconômicos como fatores relevantes para as tomadas de decisão, uma vez que os períodos mais agudos da pandemia foram superados.

De acordo com as análises da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), no acumulado do ano, a alta dos serviços foi de 4,1%, equanto a economia avança 2,5%.  Com os resultados, a entidade projeta o crescimento do PIB para este ano em 2,4% no comparativo com 2021.

Segundo a Confederação, o pequeno ajuste na perspectiva de crescimento do PIB deve-se à possível perda de força das medidas de estímulo à economia em decorrência dos efeitos do aperto monetário previstos para o quarto trimestre de 2022 e de uma inflação ainda elevada.

“Indicadores conjunturais desse setor já sinalizavam um maior dinamismo das atividades terciárias que, ao fim de junho, estavam 7% acima do período pré-pandemia”, analisa José Roberto Tadros, presidente da CNC. Ele observa que o comércio, que também integra o setor terciário no âmbito das contas nacionais, apresentava volume de vendas 2% acima daquele observado em fevereiro de 2020, enquanto o resultado da indústria ainda era 2% negativo. No segundo trimestre, o PIB do comércio subiu 1,7%.

Emprego e consumo

O desempenho do mercado de trabalho formal evidenciou uma discrepância intersetorial. Ao passo que o estoque de trabalhadores celetistas avançou 7,9% nos serviços, na agropecuária e na indústria as taxas foram mais modestas (crescimento de 4,8%, em ambos os casos).

“A aceleração dos serviços perante os demais setores da economia se justifica primeiramente pelo efeito da normalização da circulação de consumidores, alcançada ao fim do segundo trimestre deste ano”, explica Fabio Bentes, economista da CNC. Conforme Bentes, há ainda o comportamento dos preços relativos, pois, ao fim do trimestre, a inflação de serviços acumulada em 12 meses, de 8,7%, ainda estava abaixo do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), cuja alta foi de 11,9%.

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias avançou, pelo quarto trimestre consecutivo, na casa dos 2,6%. “Além da continuação dos pagamentos do Auxílio Brasil, o segundo trimestre contou com a disponibilização de recursos provenientes da antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas e liberação de recursos das contas do FGTS”, observa o economista.

Segundo Bentes, com o reforço do Auxílio Brasil, a criação do voucher caminhoneiro, a retomada do valor total do vale-gás e o auxílio pago a taxistas, espera-se que o consumo se mantenha aquecido ao longo do terceiro trimestre de 2022, a partir do processo de desinflação proveniente, sobretudo, dos impactos decorrentes dos cortes do ICMS dos combustíveis. “Contudo, os efeitos do aperto monetário devem estar mais evidentes a partir do quarto trimestre deste ano”, alerta.

(*) Crédito da foto: alirgton_research/Unsplash