FHAN: o que esperar da hotelaria em 2025?
Para encerrar o primeiro dia da programação FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste 2024), Henrique Campolina, sócio da Noctua Advisory, apresentou os resultados da Pesquisa Orçamentos Hoteleiros 2025, divulgados no Hotel Trends Orçamentos, no dia 2 de setembro, em São Paulo.
Com foco em tendências e desafios para o próximo ano, Campolina começou dando um panorama da hotelaria no Brasil. “O mercado de aviação teve uma queda brusca no final de 2019 e início de 2020 devido à pandemia. Agora, está próximo de voltar ao contexto antes desse período. Os preços dos bilhetes aéreos devem normalizar. Há uma diminuição de gastos dos brasileiros no exterior e há uma tendência de evolução do mercado interno no ponto de vista de viagens, especialmente se tratando do turismo de lazer”, relatou.
Dentre os números apresentados por Campolina, existem pontos de atenção para oportunidades. “Há uma recuperação de preços e de mercado hoteleiro em 2024 em relação a 2023, no entanto, a diária média real está abaixo do pico histórico, que foi em 2013, segundo dados do FOHB. Isso quer dizer que é possível obter mais valor de diária média e aumentar o preço”, afirmou.
Perspectivas
Sobre a percepção do mercado hoteleiro para o próximo ano, o especialista demonstrou otimismo. “As diárias seguem em crescimento, cruzeiros voltaram a índices maiores do que nos últimos anos, no entanto, há espaço para o setor hoteleiro de luxo, que está aquecido, além de uma grande procura por eventos, entretenimento e atrações”, destacou.
A pesquisa, que contou com a colaboração de 500 hotéis brasileiros, aponta que mais da metade dos empreendimentos acha os orçamentos consistentes (53%), apesar do mercado ser considerado conservador. “Acesso e análise de dados são os principais gargalos para a elaboração desses orçamentos”, avaliou o especialista.
“Ao menos 50% dos hotéis pretendem investir em 2025. E quanto mais novo o seu hotel, mais se pode cobrar por ele”, destacou Campolina. Mas nem tudo se resume a boas notícias. O grau de confiança na demanda de lazer é menor no próximo ano, o que significa menos expectativa de crescimento nesse segmento.
Dentre os desafios apontados pela pesquisa estão: menor confiança em lazer e eventos; expectativa de aumento de tarifas negociadas modesta; custos hoteleiros crescendo acima da inflação; ambiente econômico na demanda corporativa incerto. “Quanto mais dados o hoteleiro tiver, melhor pode se preparar para as dificuldades e influências do negócio”, concluiu Campolina.
Estratégia multicanais é debatida no FHAN
Dando continuidade à programação do FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste 2024), o painel Distribuição: como montar uma boa estratégia omnichannel? abordou estratégias multicanais no setor hoteleiro. O bate-papo, mediado por Henrique Campolina, sócio da Noctua Advisory, contou com a presença de César Nunes, vice-presidente de Marketing e Vendas da Atrio Hotel Management, e Eduy Azevedo, CEO da Upsell.
Em sua fala, Nunes citou os diversos desafios na conexão dos canais de vendas dos hotéis, que vão desde a área de conectividade a paridade tarifária. “O maior desafio é dar rentabilidade desde o início na distribuição, pensando na receita e no lucro”, afirmou.
Sobre os o mix de canais Eduy Azevedo é categórico: distribuição, venda e operação devem andar de mãos dadas. Com vasta experiência em operadoras, o executivo alertou sobre o dinamismo do mercado.“As mudanças ocorrem diariamente e se faz necessário que os hoteleiros fiquem atentos e entendam todo o universo de OTAs”, disse.
“A melhor estratégia é vender mais e melhor em todos os canais, além de ter capilaridade para não depender de ninguém”, continuou Azevedo.
Estratégias e investimentos
Nunes revelou que a Atrio tem investido, além de soluções de mercado voltadas para a gestão de canais, na estratégia que destina um número limitado de UHs por meio de venda. “Para melhorar a rentabilidade, temos limitado a quantidade de apartamentos disponíveis em cada canal”, contou. “Vender apartamento abaixo da margem é um erro que não se pode cometer, o foco tem que ser na rentabilidade. O hoteleiro precisa estar capacitado em como o mercado está girando, mesmo se tratando de hotéis menores e familiares”, aconselhou.
Azevedo complementou com uma série de investimentos que precisam ser feitos para facilitar a venda sem intermediários. “A venda direta é o sonho do hoteleiro, sem precisar pagar comissão. Falando de hotelaria de lazer, o site precisa ser bem feito, mas também estar presente nas redes sociais investir em tráfego pago. É um conjunto de ações que precisam ser feitas para gerar a venda direta para o consumidor”, defendeu.
Sobre a jornada do cliente focada em qualidade, Nunes alertou sobre a preocupação com meios de avaliação online, como a Booking, TripAdvisor, Google e Reclame Aqui. “A recepção precisa ficar atenta para estimular o hóspede a avaliar, além disso é preciso personalizar as respostas nas reclamações e se preocupar em comentar os elogios. Isso afeta a sua rentabilidade, pois os clientes estão atentos a essas questões e podem definir a compra pelas avaliações”, declarou.
FHAN inicia edição 2024 com debate sobre ESG
Dando início ao FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste) 2024 que segue até amanhã (3), e acontece dentro da HFN (Hotel & Food Nordeste), no Pernambuco Centro de Convenções, o primeiro tema debatido foi ESG. A palestra Como iniciar o processo de ESG em seu hotel? abriu a programação, que tem curadoria do Hotelier News. e organização da ABIH-PE (Associação da Indústria de Hotéis de Pernambuco). A discussão foi comandada por Juliana Mesquita e Luciana Raposo, arquitetas especializadas em sustentabilidade.
Com mais de 25 anos de atuação no mercado de desenvolvimento de negócios hoteleiros, Juliana, que é consultora e CEO da Koncept Life, elencou as vantagens de se investir em ESG: reduzir o impacto ambiental, melhorar a imagem do empreendimento, atrair clientes engajados e minimizar custos operacionais.
A especialista destacou no FHAN que o ESG representa impacto ambiental positivo, contribuição social e transparência no dia a dia. Para começar os trabalhos, Juliana esclareceu a diferença entre sustentabilidade e a sigla. “Sustentabilidade é o macro, uma empresa que desenvolveu essa estratégia tem uma ampla caminhada, visto que é um processo de longo prazo, que demanda melhorias contínuas. Já o ESG é uma orientação para que as companhias comecem o processo de sustentabilidade”, explicou.
Seguindo com sua fala, Juliana salientou que, para começar processo, é preciso realizar uma avaliação inicial e planejamento de práticas ambientais, sociais e de governança. “Para, então, definir metas alinhadas à missão e valores do hotel”, reforçou. “É preciso entender a situação de cada empreendimento hoteleiro independente do porte”, complementou.
Para promover a mudança de comportamento dos colaboradores e hóspedes, Juliana enfatizou que é preciso engajamento da gerência, diretoria e todos os funcionários no desenvolvimento de ações de sensibilização. “Existem pesquisas que afirmam que um terço de toda alimentação de hotel vai para o lixo. É essencial evitar esse desperdício e já existem soluções para reduzir esse problema”.
Consumo consciente
A redução do consumo de energia e água, assim como o uso de fontes renováveis também foram abordados pela palestrante no FHAN. “Dentro do processo de eficiência, é preciso saber se o hotel está consumindo a energia da forma certa, se a iluminação está dimensionada corretamente, se os ar condicionado e equipamentos têm manutenção constante. Tudo que tem um gasto maior é um desperdício, e é muito importante gerenciar despesas desnecessárias dentro desse contexto”, aconselhou.
Questões de responsabilidade social, como apoio às comunidades locais, incentivo da compra de pequenos produtores e voluntariado foram apontados como tópicos relevantes. Mas além das práticas, Juliana salientou que é preciso avaliação e melhorias contínuas. “É preciso estabelecer KPIs com métricas para quantificar, monitorar o desempenho e o progresso das ações do hotel, além de criar relatórios regulares para documentar e comunicar o processo e os resultados alcançados para melhorar as práticas adotadas”.
A especialista ainda pontuou a importância das certificações. “Certificação gera valor e promove melhoria nos preços das diárias, reconhecimento midiático, público e dos clientes”, avaliou. “Implementar práticas sustentáveis e ESG é uma jornada contínua que requer compromisso e adaptação às mudanças nas expectativas do mercado e nas regulamentações”, conclui.
Assinando por quatro anos o projeto Hotel Cor dentro da HFN, Luciana lembrou diversos hotéis assinados por ela com foco sustentável. Especialista em gestão de políticas ambientais, a arquiteta reforçou que independente do porte do empreendimento, o projeto pode ser pensando tanto na parte funcional como na sustentabilidade, com atenção para o reuso da água, energia elétrica, reciclagem de resíduos sólidos e governança.
“É preciso conhecer bem o terreno e a população do entorno. O bom uso da orientação solar torna o projeto bem iluminado e bem ventilado, assim como considerar a eficiência energética e o uso de mão de obra local na contratação já são bons parâmetros para a implementação do ESG. Uma boa arquitetura é necessariamente sustentável”, finalizou Luciana.
*Por Marília Gilka
(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian/Hotelier News