sábado, 21/setembro
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Hubber Clemente: investimentos na diversidade e inclusão: potencial solução para “apagão de mão de obra” na hotelaria

Como profissional da hotelaria , hospitalidade há mais de 20 anos, vejo atualmente os debates sobre a falta de profissionais interessados em trabalhar no setor evasivo, de certo modo ultrapassado e com poucas reflexões verdadeiramente inovadoras sobre o tema. As gestões dos principais setores corporativos evoluíram muito na mentalidade das gestões, porém na hotelaria, principalmente para seus trabalhadores, o formato das gestões internas dos hotéis é praticamente igual ao início da minha carreira no setor. E se não existe mudança, inovação, qual seria o atrativo para bons ou promissores profissionais se interessarem em retornar ou ingressar no setor ? Acho que esta é principal pergunta que os gestores hoteleiros precisam fazer quando for refletir sobre a questão. Inclusive, aqui no Hotelier News encontramos ótimas matérias sobre o tema.

A hotelaria e turismo em geral foram duramente afetados pela pandemia e a crise apresentou a possibilidade de os setores se reinventarem, porém infelizmente não aconteceram grandes transformações e inovações e pior, muitos discursos pré-retomada praticamente afastaram os bons profissionais do setor. Ouvi parte dos gestores dizendo que os salários seriam menores, que teriam que ser profissionais “multifunções” e que trabalhariam mais. Traduzindo, fazer mais por menos. Se já existia pressão antes, imagine o que passa na cabeça do profissional quando pensa nestas condições de trabalho, fora que os ambientes em muitos hotéis eram e continuam sendo “tóxicos”, devido a gestores que continuando atuando no setor com mentalidades ultrapassadas quando se trata de gestão de pessoas.

As críticas e observações que faço acima são para lidarmos com muita transparência e clareza sobre diversidade e principalmente inclusão. Na hotelaria, ainda temos “confusão” ao lidar com esses temas, pois sim, trabalham vários perfis de pessoas no setor, mas geralmente os grupos que precisam da inclusão estão na base da hierarquia, em cargos iniciais, sem representatividade em funções de atendimento, nas gestões de departamentos ou cargos de alta liderança.


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Ao ver este cenário atual, em que uma pessoa NEGRA, LGBTQIAPN+, PCD , INDÍGENA, não se vê nestes cargos, nem ambientes inclusivos e acolhedores, dificilmente vai se interessar pela carreira na hotelaria, pois em outros setores esta inclusão profissional é uma realidade avançada, com empresas que até possuem o cargo de Chief Happiness Officer (Gestor Executivo de Felicidade Corporativa). Outro erro constante que a hotelaria vem cometendo ao falar de ESG (Environmental, Social and Governance)nos eventos do setor é não ter pessoas destes grupos nos painéis. Sem representatividade, as falas e reflexões continuam estagnadas, pois serão falas de visão teórica e não de pertencimento por meio de vivência e conhecimento.

Diversos estudos mostram que equipes mais diversas performam melhor, são mais produtivas e criam ambientes mais acolhedores, além de reduzirem a rotatividade de profissionais e ainda melhorar o atendimento ao cliente, já que eles valorizam empresas que praticam diversidade e inclusão. Existem profissionais excelentes e talentosos nos grupos de minorias, que precisam apenas de uma oportunidade para demonstrar seu valor. Ao apresentar estes fatos, a solução parece simples, certo? Infelizmente não. O problema é  que o setor ainda é resistente na mudança da mentalidade de gestão para que ela se torne verdadeiramente humana, com foco inovador em pessoas. Se a maioria dos processos continua igual, a gestão da sua rede, hotel ou meio de hospedagem será rejeitada por bons profissionais, porque a sua tentativa para recrutá-los será, na maioria das vezes, o valor do salário mensal. Remuneração justa e compatível deveria ser o básico, não diferencial como muitos tentam ” vender “.

Recrutamento inclusivo é mostrar benefícios que focam em pessoas,  é evidenciar que a empresa se preocupa verdadeiramente com o bem-estar do profissional desde o ambiente à execução das suas funções. É entender que quem precisa se adaptar para ter o profissional é a empresa, não o contrário. Treinamentos periódicos para gestores, principalmente de grandes departamentos como governança, alimentos e bebidas, recepção, eventos, sobre gestão inclusiva e humana, pois geralmente eles são os mais pressionados sem o devido preparo. Mostrar que existem metas e objetivos de ter gestores NEGROS, MULHERES (e aqui a hotelaria precisa estar atenta, pois ter mulheres na liderança não necessariamente torna a empresa inclusiva para elas) LGBTQIAPN+ , PCD’s , INDÍGENAS, pois se o profissional vê pessoas iguais a ele nestes cargos, maior será a possibilidade de fazer carreira na empresa. Com devidos investimentos em diversidade e inclusão, existe grande potencial para a hotelaria solucionar o problema do “apagão de mão de obra” no setor.

Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal