sábado, 21/setembro
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Pedro Cypriano: aéreo limitará o resultado dos hotéis em 2023?

O impacto do aéreo na hotelaria é um assunto recorrente e ganhou força com o aumento das tarifas no país. Recentemente, contribuí para o debate em uma matéria do Hotelier News.

 

Pedro Cypriano - Tabela
Evolução da tarifa aérea (R$, MM12)

 

Em mercados sensíveis a preço, oscilação de tarifa sempre impactará a demanda. Desde 2002, o número de passageiros no Brasil quadriplicou de volume, de 30 milhões para aproximadamente 120 milhões até 2019. Para tanto, o ticket médio aéreo caiu praticamente pela metade. Hoje, vemos uma tendência inversa, de aumento de preços. No entanto, não significa que todo e qualquer segmento é impactado da mesma forma.

Hotéis mais RESILIENTES ao aumento das tarifas aéreas:

• Destinos regionais, com acesso rodoviário, tanto para os segmentos de lazer como o de eventos e negócios. É o caso dos resorts regionais e o de hotéis urbanos com acesso predominante de carro. Para os resorts, haverá até uma demanda adicional em razão do aéreo mais caro.


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• Produtos de lazer nacional de classe média-alta, em que a alternativa de viagem mais clara é o internacional. Apesar do aumento das tarifas aéreas nacionais, enquanto o dólar estiver valorizado parte das viagens de brasileiros ao exterior continuará sendo redirecionada ao mercado doméstico.

Na contramão, aéreo caro sinaliza uma bandeira amarela para alguns destinos com alta dependência deste modal de transporte:

Hotéis mais SENSÍVEIS ao aumento das tarifas aéreas:

• Corporativo de grandes cidades, especialmente o turismo executivo, de viagens rápidas, muitas vezes para uma ou duas reuniões.

• Destinos de lazer mais sensíveis a preço e com perfil de demanda essencialmente doméstica, que não viaja ao exterior.

2023, um ano de oportunidades e desafios

Em resumo, vejo ainda boas perspectivas para o lazer em produtos com valor agregado e para o corporativo regional. E sou um pouco mais cauteloso com destinos urbanos de demanda sensível a preço e mais dependentes do aéreo.

Mas na balança, sou otimista. Em curto prazo, não acredito que o aéreo seja a maior preocupação para a hotelaria no país. Por quê?

1. A oferta aérea nacional superou o pré-pandemia.
2. Apesar do aumento de preços, a demanda já está similar a de 2019.
3. Se a demanda cair muito, as cias aéreas podem rever preços.

E em médio prazo, o que esperar?

Para novos saltos no número de viagens aéreas no Brasil, as tarifas precisam cair. Mas com o aumento do custo de operação em mais de 50% em razão do querosene e do dólar, ainda não é clara nenhuma redução imediata do preço dos voos.

Mas há esperanças em um horizonte estendido:

• Novos voos aumentarão a concorrência no país. Bilhões em investimentos previstos na privatização dos aeroportos e o interesse em novas rotas aéreas podem dinamizar o setor.
• Preço do querosene pode retroceder. Em campanha, o presidente Lula sinalizou possível desoneração tributária ao setor aéreo. Se cumprida a promessa, preços podem cair.

Acompanhemos sim os novos capítulos sobre o mercado aéreo no país. Mas talvez o principal ponto de atenção seja o que vem pela frente na economia. Um tema para outra conversa.

*Pedro Cypriano é especialista em investimentos e estratégia em turismo e hotelaria. Ao longo dos últimos 18 anos, liderou centenas de projetos junto a consultorias hoteleiras globais, na Europa, no Oriente Médio, na África e na América Latina. Autor do livro Desenvolvimento Hoteleiro no Brasil, pela editora SENAC, e professor em cursos de pós-graduação em investimentos hoteleiros no país e no exterior.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal