segunda-feira, 11/novembro
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Plastic Free: a conta fecha?

Na teoria, é bonito e sustentável, mas fazer a transição ao Plastic free não é algo simples. Há diversos desafios e pontos de atenção que o hoteleiro precisa estar ciente e preparado para implementar uma mudança de verdade. Visando facilitar esse processo, o Hotelier News consultou Luiz Roberto Magrin Filho, diretor da Harus Amenities, e Mark Campbell, diretor executivo de Produtos e Serviços Técnicos da Atlantica, para entender quais são os melhores caminhos. 

Primeiramente, Campbell destaca a necessidade de definir um ponto de partida e a área responsável por essa questão. “Na nossa visão, o programa precisa ser estabelecido pela alta direção. É imprescindível a disseminação cultural, partindo do interesse dos investidores e stakeholders para que isso aconteça”, afirma.

“Ainda que a área de Operações seja dominante na hotelaria, ela rapidamente desfoca da questão diante de suas inúmeras atividades. É um esforço inicial que depende muito de uma puxada, e que nem sempre a equipe, dependendo do tamanho da companhia ou da maturidade, vai conseguir lidar com isso”, pontua Campbell. “Portanto, criar uma área dedicada é um passo muito importante, nem que seja de projetos iniciais, sustentabilidade ou um conselho”, completa.


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Práticas

Recentemente, muitos hotéis têm começado a implementar o uso de dispensers no lugar das pequenas embalagens de shampoo e condicionador. “O dispenser é um vetor, é um elemento muito importante, pois ajuda a contar a história. Os antigos frascos são marcantes na hotelaria, então é uma mudança muito emblemática. Quase 80% dos hotéis na Atlantica já fizeram essa transição, sendo que o objetivo deste ano é completar esse ciclo e virar a página”, comenta Campbell.

Magrin, no entanto, apresenta um ponto diferente sobre a prática. “Ainda existem muitas resistências, mas acredito que serão diminuídas conforme novos produtos são desenvolvidos, pois existe a necessidade de manipulação de gastos no refil dos dispensers”, cita o executivo da Harus. “É necessário, por exemplo, esconder o produto, tapar ou deixar o frasco opaco para não passar a impressão que foi utilizado pelo hóspede anterior. Em função disso, apenas 30% do mercado aderiu completamente”, acrescenta.

No entanto, o Plastic Free é muito mais do que isso. “É tirar o plástico do mercado”, infere Magrin. “Só na Atlantica, tiramos oito toneladas de plástico do mercado no movimento dispensers. Além de evoluir esses, precisamos ir além do que já está implantado e o que já está sendo feito no mercado. É fácil? Não é. É muito desenvolvimento, com testes que custam bastante tempo e dinheiro, mas vamos chegar lá”, garante.

Objetivo é tirar o plástico do mercado, diz Magrin

Magrin conta que sua equipe está desenvolvendo itens totalmente vegetais. “Agora temos tudo vegetal, incluindo produtos líquidos sem parabenos e conservantes. Quanto aos plásticos, estamos trabalhando somente com materiais verdes quando se trata de polietileno e quando se trata de pet, só plástico reciclável. É o ideal? Não”, brinca o diretor. “Mas estamos trabalhando no desenvolvimento de tudo em papel certificado e ecologicamente correto. Não só na linha seca, que já está completa, mas também na linha líquida, que está em desenvolvimento”, complementa.

“Nessa questão, estamos trabalhando na evolução desses produtos, que será um mega lançamento na Equipotel. Esperamos que a criação desse item revolucionário no quesito sustentabilidade seja dentro do prazo”, conta Magrin. “Fora isso, estamos com diversos lançamentos bem significativos, todos em fase final de teste”, acrescenta o diretor, que cita barbeadores com cabo de bambu, pentes de madeira de produção indígena, cotonete de papelão, touca de banho biodegradável, entre outros.

Desafios

Para implementar essas mudanças, é necessário a atenção a diversos desafios, desde custos e fornecedores até conscientização dos colaboradores e adaptação dos hóspedes. “O maior desafio para mim é achar um custo viável para o mercado achar aceitável a implantação. Há um tempo, criamos uma embalagem de sabonete que se dissolve, mas não tivemos adesão, pois o mercado não arcaria com os custos extras”, revela Magrin.

Mark Campbell
Comunicação adequada é fundamental, diz Campbell

Do seu ponto de vista de fornecedor, Magrin cita ainda a questão de adaptação de maquinário. “É muito fácil falar que vai passar tudo para papel, mas as máquinas não embalam nesse material. O papel não é selável e o que solda não é sustentável. Que tecnologia precisamos? Existe no mercado? São muitos desafios, pois precisamos entregar qualidade, preço viável e ecologia, tudo em um único produto”, compartilha o diretor.

Já da perspectiva hoteleira, Campbell destaca a questão dos fornecedores de serviços sustentáveis. “Não há fornecedores estruturados para programas de reciclagem. Esses programas demandam, além de bastante treinamento, uma cadeia de empresas de suporte para, por exemplo, coleta de óleo, pilhas, entre outros resíduos. Infelizmente em algumas regiões isso não é uma realidade”, salienta o executivo.

Para completar, existe a questão das pessoas, tanto dos colaboradores quanto dos hóspedes. “Se as pessoas não compreenderem o porquê de você estar realizando o programa, não haverá engajamento. Se o colaborador não foi sensibilizado, por exemplo, para a importância de separar os lixos, não vai funcionar. É necessário entender que sem separar, o resíduo vira lixão, separando, vira renda e proteção ao meio ambiente”, explica Magrin. “É necessário conscientizar, treinar as equipes, estabelecer e comemorar metas”, recomenda.

“Isso também vale para os hóspedes, que precisam entender o motivo de estarmos trocando os frascos por dispensers, por exemplo. O que isso significa para o meio ambiente? Qual o impacto dos plásticos de uso único?”, exemplifica Campbell. “Quando essa história é bem contada – quando está escolhendo a reserva e durante a jornada dele dentro do hotel, enxergando a conexão do discurso com a prática – isso pode influenciar bastante na fidelização  com os valores da sua empresa”, completa.

“O importante é uma comunicação adequada. Nos hotéis que trocamos, o nível de reclamação é baixíssimo, pois eles entendem o que é esse movimento”, revela Campbell. “Entretanto, é importante preservar os mimos, manter o cuidado com o hóspede e continuar a encantá-lo. Ainda que no início tenha existido uma percepção de ameaça, essa relação com o cliente não deve ser alterada só pela mudança de um frasco”, finaliza.

(*) Crédito da foto: congerdesign/Pixabay