sábado, 21/setembro
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RiiseXP traz protagonismo feminino ao centro do debate

Diversidade, inclusão, equidade de gênero e empoderamento feminino foram alguns dos assuntos destacados no RiiseXP — evento promovido pela Accor na tarde de hoje (25). O Riise é o programa mundial de gênero da rede francesa, que traz à mesa o debate sobre os desafios da igualdade de oportunidades para todos os perfis de pessoas no setor.

A iniciativa é fruto do comitê de Diversidade e Equidade de Gênero do grupo hoteleiro. O evento, realizado no Novotel São Paulo Jaraguá, na capital paulista, celebra os quatro anos do Riise, além de promover reflexões importantes em relação aos temas abordados.

Palestras, demonstrações artísticas e painéis enalteceram o protagonismo feminino no turismo e no setor hoteleiro. Para dar as boas-vindas ao público composto majoritariamente por mulheres, Magda Kiehl, líder do Riise na América do Sul, destacou os pilares do programa da Accor. “Empoderamento, transmissão de conhecimento e proteção às mulheres são as nossas bases. É sempre um prazer falar sobre diversidade e inclusão, pois é um tema muito caro para a Accor e para a sociedade como um todo”.


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Thomas Dubaere, CEO da Accor para a América do Sul, disse estar orgulhoso dos projetos desenvolvidos pelo Riise. “Quero agradecer e parabenizar vocês pelo compromisso, empenho e inspiração. Estou na Accor há 34 anos e posso dizer que esta não é uma empresa que apenas traz lucro, mas é, acima de tudo, humana. Sempre vamos investir em nossas pessoas, equipes e talentos”.

Magda apresentou algumas das iniciativas do grupo em prol do bem-estar e proteção da mulher. Recentemente, a rede anunciou um programa de acolhimento às mulheres, colocando seus hotéis à disposição de vítimas de abuso e violência.

RiiseXP - thomas dubaere
Accor é, antes de tudo, uma empresa humana, diz Dubaere

Onde estão as mulheres no mercado de trabalho?

Questionamentos relevantes foram levantados por Arlane Gonçalves, consultora de diversidade na Integra Diversidade e especialista em Interseccionalidade. À frente da palestra Um futuro protagonizado pelas Mulheres: Sororidade e Construção Coletiva, a profissional compartilhou alguns dados que dizem muito sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho.

Após realizar um quiz com a platéia, Arlane destacou informações atualizadas sobre a atuação das mulheres na cadeia produtiva do país. “Dentre 193 países, o Brasil está na posição 145ª em relação a representatividade feminina na política”, inicia.

Para refletir sobre as práticas de equidade de gênero, a speaker salienta que 90% das cadeiras de CEO no Brasil são ocupadas por homens brancos, de acordo com um levantamento da Fundação Dom Cabral. “É um recorte muito específico, pois nosso país é majoritariamente composto por mulheres”.

Segundo a palestrante, 52% da população brasileira é feminina, enquanto 28% são negras. “Estamos falando de posições que exercem influência na economia e nas organizações. Este é o cenário do Brasil em 2022, com essa disparidade. Onde estão as mulheres nessas estatísticas?”, provoca.

arlane gonçalves
Arlane compartilhou dados sobre disparidade de gênero no Brasil

A palestra ainda aponta que, atualmente, 25% das empresas brasileiras não possuem mulheres negras em seu quadro de funcionários. “Apenas 1750 as mulheres brancas começaram a ir à escola. E nem estamos falando de mulheres negras”, acrescenta.

Diante deste cenário, o que as organizações estão fazendo? Arlane explica que empresas vêm buscando adotar ações efetivas para mudar o panorama atual de disparidade de gênero. Dentre elas, podemos destacar: diagnósticos demográficos e culturais; definição de metas e ações afirmativas.

As iniciativas têm como objetivo identificar a densidade de mulheres dentro do quadro de colaboradores, definir metas de prioridades de mudanças organizacionais e implantação de ações focadas na contratação e desenvolvimento de profissionais do sexo feminino.

“Todos temos um papel a cumprir nessa jornada. Sororidade e dororidade são fortalecimentos, com uma união que nos fazer puxarmos umas às outras. Mas só isso será o suficiente para mudar essas estatísticas? Não. Por isso, sempre faço um convite insistente aos homens, pois sem eles, não será possível transformar essa estrutura”, finaliza Arlane.


O novo perfil da mulher viajante

Claudia Valente e Catarina Costa — ambas do Riise — lideraram o painel Mulheres Viajantes, que contou com a presença de Larissa Degon, da Woman Trip; Ana Biselli, presidente da Resorts Brasil e Lucila Quintino, da HotelConsult.

“Cada vez mais agências estão focadas em turismo feminino para experiências seguras e enriquecedoras”, inicia Claudia. Uma pesquisa da Booking aponta que 62% das mulheres já viajaram sozinhas, sendo a segurança sua maior preocupação. Já um levantamento da MaxMilhas revela que 19% das passagens aéreas vendidas pela plataforma foram para turistas do sexo feminino em viagens solo.

painel - mulheres viajantes
Profissionais debatem os desafios da mulher viajante

Em relação às prioriedades das mulheres viajantes, Lucila pontuou como empreendimentos hoteleiros podem se preparar para receber esse público. “Falamos muito de experiência do cliente, que começa antes do check-in. Da mesma forma que hotéis de luxo já fazem um trabalho de conhecer o hóspede, acredito que propriedades de todas as categorias podem fazer o mesmo, entendendo quem são essas mulheres”, avalia. “Os hotéis podem dar dicas de onde não ir, como passear e até mesmo firmar parcerias com estebelecimento em seu entorno”.

A presidente da Resorts Brasil deu seu olhar sobre as certificações de mercado voltadas a esse público, que ela enxerga com bons olhos. “Precisamos entender o nível de maturidade dos hotéis e sua adequação de estrutura para determinados públicos. Sua entrega está de acordo com a expectativa? No fim das contas, essas certificações são interessantes, pois tentam compreender o que essa viajante quer hoje”.

Larissa revela que a maioria das mulheres que viajam pela Woman Trip são independentes financeiramente, sem filhos ou com filhos adultos. A executiva afirma que, mesmo com suas diferenças, as preocupações são as mesmas. “Segurança sempre é prioriedade. Eu mesma, quando viajo, me questino se andar em determinado lugar é seguro. Essa questão é de extrema relevância, pois elas deixam de viajar se não se sentem seguras. Elas deixam de ir e vir e ocupar espaços”.

A fundadora da agência de viagens voltada ao público feminino ainda ressalta que os empreendimentos hoteleiros possuem uma ampla base de informações para entender quais as reais necessidades das viajantes. “Ouvir hóspedes e colaboradoras que viajam sozinhas é uma iniciativa enriquecedora para tornar o serviço de excelência para esse nicho”.

Lucila complementa dizendo que, atualmente, as soft skills são valorizadas pelos gestores, que devem colocar na balança o atendimento personalizado para as viajantes. “É preciso levar em consideração essas características também na hora de contratar”.


Samba e a luta das mulheres

Para finalizar o RiiseXP, a Accor convidou Maíra da Rosa, doutoranda em estudos do Samba, educadora de Artes Visuais e Tecnologias do Sesc-SP, e vocalista do Samba de Dandara. Traçando um paralelo com os dias atuais, a profissional traz uma reflexão sobre movimentos culturais brasileiros, protagonismo feminino e inclusão das mulheres negras no contexto social.

“Não há dúvidas que o samba nasce do terreiro, com valores matriarcais negros. Eu poderia contar muitas histórias de grandes terreiros do Brasil, indo na contramão do momento intolerante que estamos vivendo”, salienta Maíra.

Mulher do Candomblé, a palestrante fez uma viagem no tempo até os primórdios das religiões de matriz africana nascidas em solo brasileiro. Em sua fala, ela enaltece o papel das mulheres no processo de desenvolvimento das doutrinas, que mais tarde seriam o berço do samba que conhecemos hoje.

RiiseXP - Maíra da Rosa
Maíra levou a luta das mulheres do samba ao RiiseXP

Começando pela Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa baiana, a associação é datada de 1800. Constituída apenas por mulheres negras, o agrupamento tinha como objetivo acolher e proteger pessoas negras alforriadas.

“A Boa Morte impulsionou o surgimento do samba de roda baiano, estimulando politicamente mulheres como Tia Ciata de Oxum, semente do samba do Rio de Janeiro, e ialorixá que protegia os sambistas em uma época em que o samba era proibido”, continua Maíra.

Outro exemplo de força feminina citado pela doutoranda é Madrinha Eunice — matriarca do samba paulista — que recentemente ganhou uma estátua em sua homenagem no bairro da Liberdade. Fundadora da Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva da Escola de Samba Lavapés — primeira escola de samba da capital — a sambista é considerada um símbolo do Carnaval de São Paulo.

“Esses são exemplos de mulheres fortes e lutadoras, que transformaram seu tempo, mesmo que a sociedade dissesse que aquilo não era coisa de mulher”, acrescenta Maíra. “Precisamos pensar no que a luta das mulheres do samba tem para ensinar para a sociedade como um todo”.

“Falamos muito de sororidade e dororidade, mas, da minha perspectiva, isso só é possível falando também de interseccionalidade, que é identidade. Como vocês se identificam no mundo e como as outras pessoas identificam vocês”, finaliza a palestrante do RiiseXP.

(*) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News