Com uma expertise robusta no mercado internacional, o carioca Eduardo Carvalheda é um grande entusiasta da vida ao ar livre, esportes e viagens. Sua carreira se consolidou com uma intensa vontade de trabalhar no exterior e conhecer diferentes países e culturas.
Dividido entre os cursos de Direito e Administração, optou pelo segundo, que dá maior flexibilidade de trabalho. “Com esse perfil, cai muito rápido nos braços da hotelaria, ainda com 20 anos e na faculdade. Comecei como GO Mini Club no Club Med e acabei ficando quase 17 anos na empresa, onde cheguei a gerente geral em 2006”, conta.
O grupo francês, que tem como política oferecer experiências profissionais e culturais por meio de equipes rotativas em suas unidades pelo mundo, deu a chance de Carvalheda morar e trabalhar em 15 países, incluindo todos os continentes do globo.
Em 2014, o executivo tirou um ano sabático e retornou ao Brasil para estar mais perto da família. “Em 2016, recebi uma proposta bastante interessante da rede espanhola Bahia Príncipe para comandar um hotel na Riviera Maia, no México, de 1.080 quartos dentro de um complexo hoteleiro de 3.500 UHs, incluindo quatro hotéis, campo de golf e residenciais”, relembra.
Do México, Carvalheda mudou-se para Cuba com a missão de liderar o Paradisus Varadero. O desafio, infelizmente, foi interrompido pela pandemia. “Tivemos que voltar ao Brasil em um voo de resgate enviado pelo governo brasileiro”, salienta.
Hoje, aos 46 anos, Eduardo Carvalheda está à frente do Insólito Hotel Boutique & Spa em Búzios, onde tem feito um amplo trabalho para agregar valor à experiência do hóspede, o que tem gerado bons resultados ao empreendimento.
Três perguntas para: Eduardo Carvalheda
Hotelier News: De acordo com as suas experiências no mercado internacional, quais as principais diferenças entre a retomada no Brasil e demais países?
Eduardo Carvalheda: Esta retomada teve diferentes características dependendo do perfil do destino. No exterior, principalmente na Europa, houve medidas governamentais generalizadas muito mais rígidas e que privaram a opção de turismo por muito mais tempo e abrangência do que no Brasil. Além disso, aqui em Búzios, temos uma realidade oposta da de São Paulo, por exemplo. Nossa procura é pelo lazer, em hotéis boutique de pequeno porte, com lugares abertos, sem elevadores e de fácil acesso de carro ou helicóptero. Por essas características, tivemos um aumento de ocupação durante a semana de pessoas que decidiram vir fazer hotel office em uma cidade onde houve um baixo índice de contágio pelas particularidades do destino.
HN: O Insólito Boutique Hotel vem se recuperando bem em diária média, indo na contramão de grande parte do mercado hoteleiro. Quais dicas você daria para empreendimentos que ainda sofrem com tarifas abaixo do esperado?
EC: No luxo não se briga pelo preço. Oferece-se mais. Mais serviço, mais qualidade, mais atendimento, mais exclusividade. Quando cheguei aqui há 16 meses, tínhamos uma tarifa média bem mais baixa, mas também um hotel com muitas oportunidades de desenvolvimento. Junto com os proprietários decidimos investir alto em treinamento no serviço, uma culinária diferenciada, espaços exclusivos, opção de entretenimento com o mais novo e elegante lounge de Búzios, tudo isso para apenas 24 quartos. Com as fronteiras ainda fechadas, o público brasileiro com o perfil do Insólito buscava cada vez mais opções do mesmo nível do exterior, no Brasil. Estávamos prontos e alinhados com o que o nosso cliente buscava no momento certo.
HN: Pensando nos próximos anos, para além de 2022, em um cenário pós-pandêmico, como você enxerga o mercado de luxo nacional? E como manter a hotelaria competitiva frente aos destinos internacionais?
EC: A melhor descrição que tenho sobre o cenário de 2022 para o luxo veio da reflexão de um hóspede do Insólito. Há uns cinco meses, ele estava tomando champanhe no alto da piscina privativa da suíte em que estava hospedado. Suíte esta que fica de frente para o mar da Ferradura com uma vista exuberante. Ele me disse: “Eduardo, estou me sentindo um tonto.” Eu perguntei o motivo. Ele respondeu: “Há anos que eu não passava férias no Brasil. Eu pegava o nosso avião, fazia 14 horas de viagem para ir a Capri, Turquia ou Grécia, para ter exatamente o que eu estou tendo aqui neste momento. É até a mesma champanhe que eu tomo lá, com a mesma qualidade de serviço”.
Ou seja, obviamente que o nosso cliente vai voltar a viajar ao exterior, como o estrangeiro também voltará a vir ao Brasil, mas o maior legado que esta pandemia deixará acredito que seja a redescoberta do serviço de luxo no Brasil pelos brasileiros. Com alta qualidade, tanto de produtos, quanto estruturas e, principalmente no serviço, que é o grande destaque do Insólito hoje em dia.
Costumava dizer que, em muitos casos, o Brasil explora o turista ao invés de explorar o turismo. Que cobrávamos um alto valor por alguns produtos/serviços sem ter o valor agregado. Enquanto no exterior, podia-se observar muito mais fácil um padrão onde uma montanha-russa vira uma experiência completa e inesquecível. Já entendemos o poder desse valor agregado e muitos segmentos já se alinharam com sucesso a esta tendência.
Acredito que o turismo no Brasil sai mais forte dessa pandemia. Os que sobreviveram, pelo bem ou pelo mal, estão melhores.
(*) Crédito da foto: arquivo pessoal