Quando a VOA Hotéis surgiu no mercado, em 2019, a proposta era elevar os resultados de empreendimentos independentes de pequeno e médio porte. Dois anos depois, com 85 hotéis em sua base, a startup fundada por José Eduardo Mendes muda sua estratégia de crescimento e se prepara para sua primeira rodada de investimentos da série A.
Ao longo do caminho, a VOA passou a abraçar propriedades maiores — como é o caso do Hotel Nacional, no Rio de Janeiro, com 413 apartamentos. Com a absorção de hotéis neste perfil, a startup de hospitalidade passa a mirar seus planos de expansão no segmento.
“Começamos a VOA com a ideia de sermos atrativos e mudar a vida de hoteleiros pequenos e médios. Até então, essa era a nossa estratégia de crescimento. Quando passamos a abraçar hotéis maiores, percebemos que os mesmos têm mais dificuldades, pois os custos são mais altos. Logo, o segmento entrou no radar da empresa, o que mudou nossos planos”, explica Karol Garrett, head Comercial, Performance e Distribuição da startup. “Mas seguimos atuando com pequenos e médios e estamos abertos a eles”, acrescenta.
Para alcançar os novos objetivos, a VOA mira seus esforços em praças com empreendimentos de porte grande e médio que necessitam de força comercial, distribuição e tecnologia. Desta forma, os times da rede estão em fase de prospecção em mercados como Natal, Fortaleza e Bahia.
“Vamos voltar nossa atenção ao Nordeste para abrir novas frentes e incorporar mais hotéis da região. No Sudeste, já temos um portfólio considerável, mas também queremos expandir, assim como no Sul, em praças como Curitiba, Foz do Iguaçu e Florianópolis”, revela a executiva.
Além do time comercial e do trabalho de gerentes regionais, a VOA aposta em parcerias com entidades, como as ABIHs estaduais e secretarias de Turismo. “As ABIHs de Goiás, São Paulo e Rio têm nos ajudado em âmbito institucional, pois acreditam em nosso modelo de negócio. Também estamos trabalhando com a Secretaria de Turismo de Minas Gerais”, afirma Karol.
No dia 22 de março, a rede promoverá um evento em Goiânia, a convite da ABIH-GO. O objetivo é levar capacitação aos hoteleiros da região, exaltando os potenciais de distribuição para o faturamento dos hotéis, trazendo cases da VOA. “Vamos levar informações de mercado e dicas para expandir o campo de visão sobre distribuição. Os eventos nos ajudam a ter maior alcance de parceiros e elevar nossa visibilidade”, salienta a head da empresa.
Metas e flexibilizações
Priorizando o crescimento sustentável de sua base, a startup hoteleira analisa a fundo os empreendimentos antes de integrá-los. Segundo Karol, o hotel precisa ter potencial de rentabilidade para aumento de, pelo menos, 40% de faturamento. “Avaliamos o ativo, pois nossa estrutura envolve pessoas, tecnologia e serviços. É necessário o potencial de rentabilidade para que tudo isso se pague e, ao mesmo tempo, conseguirmos uma evolução constante”.
Para 2022, os planos são de chegar a 250 empreendimentos sob gestão da rede. Sabendo das mudanças de mercado, a VOA optou por realizar flexibilizações em seus modelos de negócio. Por exemplo, a startup retirou a multa para rescisão de contrato, buscando atuar de forma mais leve com seus parceiros.
“Muitos hotéis que nos conheceram em 2020 não sabem o quanto mudamos. Queremos que os parceiros fiquem com a gente porque estão felizes e não por penalidades. Também trabalhávamos com remuneração sobre faturamento de hospedagem e hoje criamos um modelo de taxa de incremento de vendas que os empreendimentos têm gostado muito, em especial os maiores”, conta a executiva.
A mudança de mindset veio com os hotéis de grande porte, que procuram modelos voltados à performance. “Percentual de faturamento é algo que as grandes redes fazem. Agora, comissionamos o que trazemos de excedentes, além da mensalidade para custear nossa tecnologia”, acrescenta. A VOA também retirou a obrigatoriedade da padronização das propriedades, que passa a ser opcional.
Balanço
Passado o clímax da crise, a rede espera um 2022 promissor. No ano passado, a maior parte de sua fase ultrapassou os resultados de 2019, salvo algumas exceções. “Estamos com a mesma sensação do início de 2020, quando tivemos janeiro e fevereiro com ótimos resultados. Conseguimos igualar a taxa de defasagem dos hotéis frente aos níveis pré-pandêmicos”.
Sem abrir nomes, Karol afirma que um hotel de Bonito (MS) chegou a crescer 226% em faturamento entre janeiro de 2021 e 2022. E resultados parecidos foram registrados em outras localidades como interior paulista e Região dos Lagos, no Rio. “Temos cases de propriedades com perfis diferentes com bons resultados. Este ano, vamos trabalhar forte distribuição, desenvolvendo estratégias para a baixa temporada ainda na alta, estabelecendo ações de curto, médio e longo prazo”.
Entre janeiro de 2021 e 2022, a VOA Hotéis elevou sua capacidade de distribuição em 100% em canais que convertem vendas — o que ajudou a empresa a alcançar bons resultados. No início do ano passado, a startup atuava com 135 canais com vendas, número que subiu para 280.
Ainda sem dados concretos do Carnaval, Karol adianta que a rede gerou R$ 15 milhões em vendas em janeiro de 2022. “Tivemos um excelente pickup com vendas para os meses seguintes, totalizando 40 mil room nights. Cerca de 70% das reservas foram para datas em fevereiro, março e abril, enquanto os 30% restantes para mais de 90 dias”, comemora Karol.
Dentre as praças em destaque estão Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Maceió, Bonito e Fernando de Noronha. O ranking de hotéis mais vendidos é um espelho da mudança de cenário do setor, que começa a se equilibrar entre lazer e corporativo. “Não são apenas hotéis de lazer que estão em nosso top de performances em janeiro. Nosso trabalho B2B fez um trabalho incessante atrás de empresas e operadoras. Para a nossa surpresa, o segmento tem se movimentado mais do que o esperado”.
Quanto às diárias médias, a VOA Hotéis utiliza tecnologia para ganhar escala e velocidade. E a estratégia vem dando certo. A head da empresa ressalta que houve aumento de 18% em janeiro de 2022 frente ao mesmo período em 2020. “É possível fazer a tarifa subir investindo em time especializado, análise de dados e tecnologias certas de flutuação. Trabalhamos precificação, pois é um dos diferenciais para o crescimento”, salienta a executiva.
E, sem em 2021 a startup recuperou os danos causados pela pandemia com recursos próprios, agora a empresa se encontra pronta para subir mais um degrau. Prestes a participar de uma rodada de investimentos de série A, a estimativa é crescer 10 vezes, assegurando seus principais pilares: tecnologia e inovação.
“Ao contrário de muitas startups, ainda não entramos em rodadas de captação, mas estamos iniciando este processo para chegar a um novo patamar. Nestes dois anos, recuperamos os prejuízos e estamos gerando caixa, com uma operação sustentável que traz valor aos hotéis”, finaliza Karol.
(*) Crédito das fotos: Divulgação/VOA Hotéis