segmento moteleiro- crise- internaSetor tem hoje de 70% a 80% da receita do período pré-pandemia

Não é novidade que o coronavírus paralisou, e muito, o fluxo de negócios no setor turístico, derrubando metas e perspectivas para 2020. Não grandes redes hoteleiras, mas outras gigantes como Airbnb e Booking.com se viram obrigados a reorganizar o time para adequá-lo ao novo padrão de receitas. Entra para essa conta também o segmento moteleiro, que, diante da pandemia, busca alternativas para driblar a crise. 

Segundo Felipe Martinez, presidente da ABMotéis (Associação Brasileira de Motéis), o impacto da pandemia no setor se deu, principalment,e nos meses de março e abril. Isso porque, quando as medidas de restrição e isolamento nas cidades estavam mais rígidas, os casais, como boa parte da população, ficaram mais receosos de sair de casa. “Nesse período, nossa estimativa é que o faturamento tenha caído  aproximadamente 50%”, aponta.

Entretanto, o movimento atual, que casa com o relaxamento das medidas de isolamento em todo país, já traz uma perspectiva mais otimista. Com aumento gradativo nos últimos meses, o setor já atinge de 70% a 80% do que faturava no período pré-pandemia. “A retomada foi puxada pelo Dia dos Namorados, data mais importante para o setor em volume de vendas e, principalmente, pela percepção dos casais de relacionamento estável (casados ou namorados)”, pontua Martinez.

Logo no início da pandemia, a ABMotéis iniciou uma pesquisa entre os empresários associados. A entidade constatou que mais de 42% dos motéis permaneceram abertos durante todo esse período. Outros 21% fecharam por menos de uma semana e apenas 4,6% paralisaram suas operações por mais de dois meses.

segmento moteleiro- crise- felipe martinezMartinez: Dia dos Namorados marcou início da retomada do setor

Setor moteleiro: perfil do consumidor

Quanto ao perfil do consumidor, ao contrário do que indica o senso comum, 71% dos frequentadores assíduos de motéis no Brasil são pessoas em relacionamento estável. Ou seja, pessoas casadas ou namorando. Os dados são da pesquisa Hábitos de Lazer, realizada em 2018 sob encomenda do Guia de Motéis pelo instituto de pesquisa Hello Research. O estudo contou com mais de 2,1 mil respondentes e revela que o motel é um ambiente preferido de casais fixos.

Dito isso, Martinez analisa que, para o momento atual, os casais têm optado por períodos mais longos de permanência e pela modalidade de pernoite. “Esse aumento também reflete uma mudança proporcional no consumo de alimentos e bebidas durante a estadia. Aproximadamente 54% dos motéis tiveram crescimento no indicador. Fator este que corrobora a ideia de que as pessoas estão substituindo locais públicos, que apresentam maior risco de contaminação, pelos motéis e seus ambientes privativos para jantar”.

Considerando esse cenário e respeitando os decretos vigentes das diferentes esferas governamentais, os motéis ganham fôlego na corrida para a recuperação. “O setor vê de maneira positiva a perspectiva de aumento orgânico da procura dos casais pelos motéis nos próximos meses. Afinal, nosso negócio sempre foi e continuará sendo uma boa opção de entretenimento a dois. Não acredito em um novo normal, no qual o consumidor mudaria radicalmente seus hábitos, cultura e valores”, analisa Martinez.

Perspectivas e novos protocolos

Em relação ao novo normal, assim como o setor hoteleiro, o segmento trabalha em protocolos de segurança. Recentemente, a associação publicou uma cartilha com orientações sobre o funcionamento dos motéis no período, abrangendo aspectos de higiene e proteção de clientes e colaboradores. 

“A ABMotéis também firmou uma parceria com uma empresa de certificação reconhecida internacionalmente e com grande atuação no setor hoteleiro, a Bureau Veritas, para promover a certificação profissional de higiene e limpeza dos motéis. Esse também é um importante passo em termos de segurança e tranquilidade para clientes e colaboradores”, conta.

Quanto às perspectivas para o setor,  o segmento hoje assiste à formação de novos hábitos de consumo, decorrentes da pandemia. Martinez defende que, para este momento, o cliente que busca uma opção de entretenimento e lazer, faz o cálculo do ‘’risco x benefício’’, no lugar do antigo ‘’custo x benefício’’. 

“O motel é um lugar projetado para ser totalmente privativo, onde o hóspede não tem nenhum contato com os nossos colaboradores e nem com outros clientes, naturalmente correndo menos riscos se comparado a lugares de entretenimento coletivo”, defende. “Desde o check-in até o check-out, o único contato humano que os hóspedes têm são com seus respectivos parceiros”, realça. Assim, o segmento ganha vantagens aos serviços mais tradicionais.

Outro ramo que cresce é a gastronomia, que já era uma tendência do setor e, agora ganha ainda mais força. “Os motéis oferecem uma opção de uma '’mesa para dois'’ de verdade, um jantar totalmente privativo e sem nenhum contato humano, onde a refeição é servida por meio de 'passa-pratos' para dentro da suíte”, destaca o presidente da ABMotéis.

Ainda sem estabelecer números concretos, Martinez acredita que, em primeiro lugar, a meta do setor é garantir a segurança e a saúde dos clientes e colaboradores. “Fazendo isso, e nos organizando e nos capacitando para garantir a sustentabilidade de nossos negócios, estaremos nos preparando para projetar metas de crescimento para os próximos anos considerando eventuais mudanças de hábitos da sociedade”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Foundry/Pixabay

(**) Crédito da foto: whale/Unpslash

(***) Crédito da foto Felipe: Divulgação/ABMotéis