Na hotelaria, o momento de planejar o ano seguinte é um dos mais importantes e decisivos para o setor. Cada rede ou empreendimento opta pelo tipo de budget que mais se enquadra às suas necessidades. Nesse cenário, os orçamentos dinâmicos são vistos como uma alternativa para muitas empresas. Mas você, hoteleiro, sabe o que eles são e quais seus benefícios?

Guilherme Martini, VP de Operações, Vendas e Marketing da Atlantica, define os orçamentos dinâmicos como uma forma de elaboração da estimativa na qual parte dos custos e investimentos são contingenciados, ou seja, apenas serão executados caso as receitas atinjam determinado patamar pré-estabelecido. “Isso se aplica especialmente a investimentos em Marketing, ações promocionais, projetos, investimentos em renovação do ativo, ou seja, desembolsos que sejam discricionários”, explica em entrevista ao Hotelier News.

“Essa metodologia permite a preservação da rentabilidade dos nossos investidores, evitando o ‘descasamento da realidade’, entre receitas e custos/despesas. Um efeito deste método é a possibilidade de trabalharmos com metas de receitas mais agressivas, sem colocar em risco a lucratividade do negócio”, afirma o executivo.

Complementando o raciocínio, Dariane Fraga, professora e consultora de Finanças na FIA Business School, diz que a principal diferença entre os orçamentos dinâmicos e os tradicionais é que, no dinâmico, as informações giram mais rapidamente e os gestores podem fazer alterações com maior agilidade. “Os orçamentos dinâmicos possuem um processo de aprovação mais rápido entre os gestores”, analisa.

Principais vantagens

“Precisamos estar prontos para imprevistos”, diz Dariane

Dariane destaca que todo o planejamento precisa ser dinâmico, porque permite não só aos hoteleiros, mas gestores de outros segmentos, lidar de forma mais ágil com flutuações econômicas, como aumentos na inflação ou na taxa Selic. “Tudo pode mudar muito rápido e tem reflexo direto no planejamento das empresas, e elas precisam ter em mente as ações que serão feitas. Assim, é preciso analisar o planejamento mês a mês e fazer as alterações necessárias, e esse modelo dinâmico permite isso”, acrescenta.

A professora destaca que essa forma de planejamento possibilita maior previsibilidade a diversos fatores, como troca de governo, cenário internacional, mudanças no dólar, entre outros. “Na pandemia, por exemplo, houve o esvaziamento dos hotéis, e os orçamentos precisaram ser revistos de forma rápida e efetiva, para estimular a recuperação o mais rapidamente possível”, avalia.

Além disso, Dariane diz que esse é um processo que começa com decisões estratégicas, analisando o produto, comportamento do cliente, olhando para dentro e fora da empresa e traçando um panorama macro do setor. “Muitos fatores precisam ser avaliados do lado de fora, não só as metas financeiras e investimentos”, reforça.

Aplicação na prática

Martini diz que a evolução da metodologia orçamentária ocorreu não só na indústria hoteleira, mas no mercado como um todo. O executivo afirma que a pandemia foi uma grande impulsionadora dessa mudança, devido à imprevisibilidade sobre as receitas ao longo dos anos de recuperação, o que naturalmente forçou as empresas a adotarem formas de dosar seus gastos de acordo com a entrada de recursos.

Martini explica benefícios do modelo dinâmico

“Na Atlantica, utilizamos os orçamentos dinâmicos como uma forma de assegurar controle mais eficiente para atingir os resultados almejados, permitindo trabalhar com metas de receita mais agressivas. Dentro desse cenário, realizamos revisões trimestrais de resultados, que chamamos de forecasts, para acompanhar o andamento da nossa performance e realizar eventuais mudanças, caso necessário”, pontua.

“Neste momento, reavaliamos a possibilidade de inclusão de novos gastos não contemplados no orçamento original ou, se a demanda não estiver acontecendo na velocidade esperada, realizamos novos esforços de contingenciamento de custos”, completa.

Ilustrando ainda mais a aplicação dos orçamentos dinâmicos, Martini menciona as recentes enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. “Claramente não tínhamos como prever no orçamento e nem no forecast de abril toda essa tragédia. Todas as previsões que tínhamos para nossos quatro hotéis desta região perderam completamente o sentido, impactando no restante do ano. Nesse caso, não aguardamos o exercício de forecast de julho para tomar as medidas, já refizemos a projeção de resultados para os empreendimentos, baseados em um cenário provável de demanda (com as informações, até então, disponíveis sobre a volta da malha aérea da praça) e, consequentemente, ajustamos os custos e despesas dos hotéis para a realidade”, comenta.

“Nesse exercício, temos mapeados quais são os custos e projetos que retomaremos, de forma gradual, caso tenhamos surpresas positivas em termos de receitas para os próximos meses. Com essa metodologia, conseguimos um grau muito maior de assertividade das nossas projeções e, como resultado, a manutenção da confiança de nossos investidores em nossa atuação”, finaliza.

No dia 2 de setembro, o Hotelier News promove a 3ª edição do Hotel Trends Orçamentos. Parceria com a Noctua Advisory, o evento será realizado de forma híbrida, com toda a parte presencial sendo realizada no Novotel Morumbi, em São Paulo. Algumas das principais lideranças da indústria de hospitalidade estão confirmadas como painelistas, entre elas Alexandre Gehlen (Intercity), Ulisses Marreiros (Belmond), Guilherme Martini (Atlantica Hospitality International), entre outros. Garanta seu ingresso no link.

O Hotel Trends Orçamentos 2025 é uma realização do Hotelier News, em parceria com a Noctua Advisory. Em sua 3ª edição, o encontro tem como patrocinadores o Grupo R1, Accor, APP Sistemas, Atlantica Hospitality International, B&B Hotels, Bebook, Booking.com, BWH Hotels, Climber RMS, Plusgrade, Atrio Hotel Management, EXAM Assessoria Contábil, Hotéis Deville, Hot Beach Parques & Resorts, Lighhouse, STR, Realgem’s e Wyndham Hotels & Resorts.

(*) Crédito da capa: Freepik

(**) Crédito das fotos: Arquivo Pessoal