Um dos pontos altos de todas as edições do Hotel Trends Orçamentos é o compartilhamento dos resultados da pesquisa Orçamentos Hoteleiros — que norteia os desafios e oportunidades de construção orçamentária para o ano vindouro. Desenvolvido pela Noctua Advisory em parceria com o Hotelier News, o estudo destaca o papel das diárias em 2025, além de reforçar a importância de buscar novas fontes de receita dentro dos próprios hotéis.

O levantamento contou com a participação de 500 propriedades e 40 executivos do alto escalão hoteleiro, visando compreender o cenário que pavimentou o mercado atual, o que esperar para 2025 e como o setor pode se preparar para captar oportunidades e mitigar possíveis desafios.

Pedro Cypriano, uma das cabeças pensantes à frente da pesquisa, ressalta a representatividade do estudo, que abrange todos os segmentos de mercado: lazer, corporativo e eventos.

“Hoje, a hotelaria se encontra em um bom momento em termos de resultado ou algo próximo a isso. Olhando para o top line, estamos perto do cenário ideal em muitos mercados, como resorts e hotelaria de luxo. Até agora, o único setor que não chegou lá é o corporativo”, comenta o managing director da Noctua em entrevista à reportagem do Hotelier News. “Todos os nichos estão crescendo, com uma performance próxima perto do pico histórico de 2019”, complementa.

De acordo com o estudo, a demanda doméstica seria maior se os preços das passagens aéreas não continuassem como um grande empecilho para um panorama mais otimista. Outro fator de atenção são os gastos dos brasileiros no exterior. No acumulado de 2024, esse número está 1,8% abaixo do observado em 2023 em valores reais corrigidos pela inflação.

Diárias como vetor de crescimento

Calcanhar de Aquiles no pós-pandemia, as diárias hoteleiras seguem em crescimento real. Em valores nominais, essa alta é de dois dígitos em diversas praças (veja o gráfico abaixo). Por outro lado, a ocupação permanece estável, como já era esperado pelo setor, no comparativo entre 2024 e 2023.

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Em RevPar, este ano supera em 30% o indicador de 2019, em valores reais. Quando comparado com 2013, período de referência de bons resultados, a receita por quarto ainda é 11% inferior. Ou seja, ainda há espaço para melhorar o desempenho e elevar a rentabilidade dos empreendimentos.

revpar

São Paulo segue a tendência do mercado em termos tarifários, mas com demanda aquém do esperado. Hotéis midscale apresentaram melhor recuperação, enquanto o short-term rental, segmento com grande oferta na capital paulista, se mantém como uma constante dúvida sobre seu real impacto na precificação de propriedades econômicas.

A hotelaria urbana da cidade, em julho de 2024, teve queda de -4,5% em ocupação e alta de 14% em diária média para empreendimentos econômicos. Hotéis midscale viveram um cenário semelhante, com recuo de -5,9% em demanda e crescimento de 29,3% em tarifas.

Top performers

Cypriano destacou os setores de resorts, hotelaria de luxo e eventos como os principais engajadores de resultados. No lazer, o segmento atingiu um pico histórico, ainda que a projeção seja de desaceleração da demanda.

Até 2023, o RevPar dos hotéis de luxo estava 30% acima do observado em 2019 em números reais. Este ano, impulsionar o indicador já não parece tão fácil. “Essa é uma história que conhecemos. Tanto o lazer quanto o setor de eventos estão em um momento especial no país. Isso justifica esse aquecimento, enquanto o corporativo ainda é mais dependente dos negócios em uma economia com crescimento modesto”, analisa Cypriano.

O que vem pela frente?

Ok. O cenário é de crescimento, mesmo com todos os desafios impostos ao setor. Mas o principal motivador da pesquisa de orçamentos hoteleiros é um só: entender como o mercado vai se comportar adiante.

Para Cypriano, algumas mensagens-chave devem ser pontuadas. “Continuar crescendo dois dígitos em receita requer mais criatividade e um olhar especial para melhorias internas. Existem duas formas de avançar: orgânica, quando a economia vai bem e não há tantos projetos em desenvolvimento. Desta forma, a maré está favorável e todos vão em frente”.

A segunda, de acordo com o executivo da Noctua, vem de investimentos. “Quando olhamos para a performance de ocupação, seja no lazer ou no corporativo, o mercado não mostra mais altas. O motor de crescimento são as diárias médias e a geração de novas receitas”.

Em linhas gerais, não há novidade: o mercado brasileiro voltará a acompanhar um avanço expressivo de demanda quando o ambiente macroeconômico permitir. O avanço de 1,4% no PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre pode apontar para um futuro mais otimista.

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“Isso significa maior crescimento do PIB, taxa de juros mais baixa e um ambiente de negócios que estimule novos investimentos. Ainda há espaço para avançar aproveitando as oportunidades internas, focado em ganho de eficiência”, acrescenta Cypriano.

No processo de elaboração de orçamentos hoteleiros para 2025, 46,5% dos respondentes afirmam que contam com recursos necessários, outros 47,5% apontam potencial de melhoria e 6% alegam fragilidade e falta de suporte para a construção orçamentária. Neste sentido, histórico de análise de dados está no topo da lista de lacunas.

Para elevar suas receitas auxiliares, a maior parte dos hoteleiros afirma que a clareza sobre o perfil do cliente e seus hábitos é o fator que faz mais sentido. De acordo com a pesquisa, 50% dos hotéis pretendem investir em 2025. Já a perspectiva de crescimento para o próximo ano está concentrada na diária média para todos os segmentos.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Hotelier News

(**) Crédito da foto: Bruno Churuska/Hotelier News