Na hotelaria, os orçamentos são parte fundamental na operação de redes e empreendimentos. Agora, no papel tudo cabe, como se costuma falar. Por isso, muitos hoteleiros não acreditam e não executam essa importante prática de gestão. Para além dessa questão, qual a verdadeira importância de desenvolver essa cultura? É o que vamos descobrir na reportagem abaixo.

Vale destacar que, no dia 2 de setembro, o Hotelier News promove a 3ª edição do Hotel Trends Orçamentos. Parceria com a Noctua Advisory, o evento será realizado no modelo híbrido, com toda parte presencial sendo no Novotel Morumbi, em São Paulo. Algumas das principais lideranças da indústria de hospitalidade estão confirmadas como painelistas do evento, entre eles Alexandre Gehlen (Intercity), Patricia Boo (STR), Ulisses Marreiros (Belmond), Allan Sztokfisz (Charlie), Guilherme Martini (Atlantica) e Lizete Ribeiro (Grupo Tauá). Garanta o quanto antes seu ingresso no link.

De volta ao conteúdo, Ricardo Manarini diz que orçamentos bem desenvolvidos oferecem uma série de vantagens a todo tipo de empresa. Na hotelaria, em especial, o country manager da BWH Hotels no Brasil acredita que essa ferramenta de gestão pode ser muito útil, sobretudo para empreendimentos independentes. Entre as principais razões apontadas pelo executivo estão:

• Controle financeiro: permite uma gestão mais eficaz dos recursos financeiros
• Tomada de decisão informada: base para decisões estratégicas, como investimentos em marketing ou melhorias na infraestrutura
• Previsibilidade: ajuda os hotéis a preverem fluxos de caixa e se prepararem para períodos de baixa ocupação
• Alocação eficiente de recursos: garante que os fundos sejam direcionados para áreas de maior retorno ou maior deficiência do hotel
• Monitoramento do desempenho: facilita a comparação entre o desempenho real e o planejado, permitindo ajustes rápidos quando necessário

Manarini elenca vantagens dos orçamentos

“Ao adotar uma cultura de gestão baseada em orçamentos, os hotéis, principalmente os independentes, podem melhorar sua competitividade e resiliência no mercado. Na BWH, por exemplo, já estamos desenvolvendo o orçamento para o próximo ano, com uma abordagem realista e levando em consideração as tendências atuais do mercado, as previsões econômicas e os dados histórico de desempenho dos nossos hotéis”, reforça.

O executivo destaca que, diferentemente dos últimos dois anos, em que o otimismo com a recuperação com a recuperação pós-pandemia e o aumento das viagens estava mais latente, neste ano e no próximo a companhia está ciente dos desafios com a inflação e possíveis flutuações econômicas.

“Por outro lado, alguns dos nossos hotéis têm passado por um processo de renovação das propriedades, e isso por si só aumenta o potencial de acréscimo das receitas. Nosso orçamento reflete equilíbrio entre o otimismo cauteloso e preparação para incertezas, garantindo que estamos prontos para aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios, que é certo que virão”, acrescenta.

Benefícios

Professor de Finanças da Fundação Vanzolini, Marcos Crivelaro pontua que, na hotelaria, a construção de orçamentos para o ano seguinte é crucial não apenas para prever gastos e receitas, mas também para definir estratégias de crescimento e sustentabilidade do empreendimento. Dessa forma, esses planejamentos permitem uma análise detalhada das operações, ajudando os gestores a identificar áreas de melhoria e alocar os recursos de maneira eficiente.

“Além disso, a elaboração de um orçamento bem estruturado possibilita a definição de metas claras e objetivas, alinhando toda a equipe em torno dos objetivos financeiros e operacionais do hotel. Outro ponto fundamental na construção desses orçamentos é a análise de tendências de mercado e o planejamento de investimentos. A indústria hoteleira é altamente influenciada por flutuações econômicas, mudanças no comportamento do consumidor e avanços tecnológicos”, afirma Crivelaro.

“Portanto, ao construir o orçamento, é essencial considerar investimentos em infraestrutura, marketing e tecnologia para permanecer competitivo. Essa previsão de investimentos permite que os hotéis se adaptem rapidamente às mudanças do mercado e aproveitem novas oportunidades, garantindo um crescimento sustentável a longo prazo”, continua o professor.

Entre as vantagens elencadas pelo professor, o desenvolvimento dos orçamentos também auxilia na gestão de riscos e preparação para imprevistos. A indústria da hospitalidade, aponta ele, enfrenta uma série de riscos, como desastres naturais e crises econômicas. Ter um planejamento detalhado permite a criação de reservas financeiras e implementação de estratégias de mitigação de riscos. Dessa forma, o empreendimento pode responder de maneira eficaz a situações adversas, minimizando impactos negativos e garantindo a continuidade das operações.

Crivelaro: orçamento permite enxergar à frente

Complementando o raciocínio, Marina Prieto, professora e coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Estácio, afirma que essa cultura de desenvolver orçamentos permite que os hotéis alinhem suas metas financeiras com seus objetivos estratégicos, facilitando o planejamento a longo prazo e ajudando a definir prioridades.

“Com um orçamento, os empreendimentos podem alocar seus recursos de maneira mais eficiente, garantindo que áreas críticas, como manutenção, marketing e treinamento de funcionários, recebam o financiamento adequado. Além disso, ele também auxilia na identificação de áreas nas quais é possível reduzir custos e melhorar a eficiência operacional, contribuindo para a maximização dos lucros”, comenta.

Adicionalmente, um planejamento orçamentário detalhado e realista é essencial para atrair investidores e obter financiamentos, mostrando que o hotel é financeiramente sólido e bem administrado. “A competitividade no mercado também é um fator relevante, pois um orçamento bem elaborado permite que os hotéis planejem suas estratégias de maneira mais eficaz e assertiva. Dessa forma, envolver toda a equipe nesse processo pode aumentar o engajamento e motivação, já que todos terão compreensão clara das metas financeiras e dos recursos disponíveis para alcançá-las”, diz.

Sobre o tema, Crivelaro e Marina elencaram outras vantagens, como antecipação a desafios, busca contínua por melhorias, avaliação constante de processos, melhoria na tomada de decisões, economia de custos, além de constante inovação e adaptabilidade. “No setor hoteleiro, onde as demandas e expectativas dos clientes estão em constante evolução, a capacidade de inovar e adaptar-se rapidamente é crucial. Um ambiente de gestão bem estruturado encoraja a criatividade e a implementação de novas tecnologias e práticas”, ressalta Crivelaro.

O que considerar?

À reportagem do Hotelier News, os entrevistados elencaram alguns pontos importantes a serem considerados na construção de um orçamento realista e bem estruturado. Entre eles, estão os desafios que farão parte do ano seguinte. Manarini explica que, na BWH alguns fatores importantes já estão sendo levados em consideração, como inflação, escassez de mão de obra, mudanças no perfil dos clientes, flutuações econômicas globais e competição crescente.

“Prevendo esses desafios, podemos desenvolver estratégias de mitigação, como controle de custos, investimento em treinamento de funcionários e adoção de novas tecnologias para aumentar a eficiência operacional”, afirma.

Crivelaro, por sua vez, pontua que, ao desenhar um orçamento bem estruturado e atrelado à realidade econômica, vários pontos cruciais devem ser considerados. Primeiramente, ele observa que é essencial realizar um análise detalhada do histórico financeiro da empresa, o que inclui a revisão de receitas, despesas, lucros e perdas dos anos anteriores, ajudando a identificar padrões e tendências.

Outro ponto vital, analisa o professor, é a inclusão de cenários diferentes. “No setor hoteleiro, onde as demandas e expectativas dos clientes estão em constante evolução, a capacidade de inovar e adaptar-se rapidamente é crucial. Um ambiente de gestão bem estruturado encoraja a criatividade e a implementação de novas tecnologias e práticas”, explica.

Marina também traz fatores importantes para a discussão. Segundo ela, é fundamental realizar uma boa análise da concorrência, considerando pontos como novas tecnologias, mudanças nos padrões de consumo e preferências dos hóspedes. “Os custos operacionais devem ser minuciosamente detalhados e classificados em fixos e variáveis. Considerar possíveis aumentos nos custos de insumos, salários e serviços terceirizados é crucial para evitar surpresas desagradáveis”, complementa.

Sobre os desafios, os entrevistados apontam que a inflação continua a ser uma preocupação no Brasil, além de possíveis variações na política monetária, que refletem diretamente na taxa Selic, e a volatilidade cambial.

“A flutuação do real frente ao dólar e outras moedas podem impactar nos custos das matérias-primas e a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. As empresas precisam ser realistas em relação às expectativas de crescimento apresentadas nos orçamentos, e planejar de acordo com um cenário de recuperação econômica lenta”, diz Marina.

“A pressão por práticas empresariais sustentáveis e socialmente responsáveis está aumentando. As empresas precisam incorporar práticas de sustentabilidade em suas operações e comunicação, além de atender às expectativas dos consumidores e reguladores, entre outros pontos. Por isso, é preciso um planejamento robusto, que inclua a análise de cenários, flexibilidade operacional e capacidade de adaptação rápida a mudanças”, finaliza a professora.

O Hotel Trends Orçamentos 2025 é uma realização do Hotelier News, em parceria com a Noctua Advisory. Em sua 3ª edição, o encontro tem como patrocinadores o Grupo R1, Accor, APP Sistemas, Atlantica Hospitality International, B&B Hotels, Bebook, Booking.com, BWH Hotels, Climber RMS, Plusgrade, Atrio Hotel Management, EXAM Assessoria Contábil, Hotéis Deville, Hot Beach Parques & Resorts, Lighhouse, STR, Realgem’s e Wyndham Hotels & Resorts.

(*) Crédito da capa: stevepb/Pixabay

(**) Crédito das fotos: Arquivo Pessoal