Diante das incertezas tanto no horizonte internacional, quanto no doméstico, bancos, corretoras e casas de análise estão em processo de revisão de suas projeções para a Selic. No mercado financeiro, já reina a impressão de que o BC (Banco Central) deve iniciar um período de elevação da taxa básica de juros já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Levantamento realizado pela Folha de São Paulo com 24 instituições aponta que seis delas já esperam uma primeira alta da Selic em setembro. Na avaliação das empresas consultadas, a expectativa é de crescimento de 0,5 ponto percentual, levando a taxa de juros para 11% ao ano.

Embora essa avaliação ainda não seja maioria entre os analistas consultados, muitos deles disseram que suas instituições estão em processo de reavaliação das projeções. Neste momento, as instituições ainda falam oficialmente em manutenção da Selic em 10,50% até o fim do ano. Ainda segundo a Folha de São Paulo, houve quem preferiu não participar da estatística neste momento.

Um início de ciclo de alta nos juros seria muito ruim para o mercado hoteleiro – e para toda economia brasileira. De um lado, dificulta o acesso ao crédito em um setor que historicamente não conta com financiamento de prateleira em grandes bancos. De outro, pode impactar o consumo de viagens, seja de lazer ou corporativo, já que impacta a renda da população e o nível de atividade econômica do país.

Apreensão

Hoje, pesa na avaliação do mercado financeiro a deterioração nas projeções para a inflação, bem como a percepção de risco para as contas públicas e alta do dólar. Para piorar, falas de Roberto Campos Neto, presidente do BC, apimentaram ainda mais o debate. Em entrevista à jornalista Míriam Leitão ontem (20), o executivo disse que a decisão do próximo encontro do Copom está indefinida e que o comitê ainda não sabe ao certo se o risco de alta ou queda da inflação são equivalentes.

“Há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos, se são simétricos ou não. A gente vai decidir no próximo Copom”, disse Campos Neto à jornalista do O Globo.

Vale destacar que a ata da última reunião do BC apontou a possibilidade de uma nova elevação da Selic, em uma decisão unânime da diretoria. Ou seja, há de fato uma revisão das expectativas no radar da instituição. E, neste cenário, a inflação é, talvez, o maior vilão.

Os dados fortes de atividade econômica e de mercado de trabalho no Brasil, além da resiliência do consumo pela população, têm sido citados pelo Copom para justificar o distanciamento entre as expectativas de inflação e a meta (fixada em 3% ao ano, com teto de 4,5%).

Apesar de a inflação corrente ter apresentado melhoras em meses passados, o índice oficial de preços está batendo no teto estabelecido no acumulado dos últimos 12 meses. O IPCA em um ano acelerou a 4,5% até julho, após registrar 4,23% até junho.

(*) Crédito da foto: Pedro Ladeira/Folhapress