O turismo nacional alcançou um resultado histórico nos primeiros seis meses do ano. Segundo levantamento da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), o setor faturou R$ 108 bilhões, alta de 6,9% em relação ao mesmo período de 2024. O crescimento de R$ 7 bilhões foi puxado principalmente pelos segmentos de alojamento e transporte aéreo.
“Mesmo que algum item específico pese mais no bolso do consumidor, o turismo oferece diversas alternativas. Se a viagem de avião fica cara, opta-se pelo ônibus; se o hotel está caro, escolhe-se uma pousada ou reduz-se o tempo de estadia, mas, normalmente, não se deixa de viajar”, afirma Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, em entrevista à Veja. Segundo ele, o mercado está aquecido. “É um momento espetacular do turismo”, acrescenta.
Celso Sabino, ministro do Turismo, destaca que os números refletem a força do setor. “Os recordes de faturamento não são apenas números isolados: eles representam, também, mais empregos, geração de renda e um mundo de oportunidades e possibilidades para o setor turístico brasileiro”, diz.
Apesar de sinais de desaquecimento da economia, provocados pela política monetária restritiva e pela perda de ritmo do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre, o turismo mantém seu próprio ritmo. “Apesar da desaceleração da economia, o que a gente tem visto é que o turismo segue, de certa forma, descolado disso. Quer dizer que ele não vai ser afetado? Nesse momento está sendo pouco, até mesmo porque é um setor relativamente pequeno, fatura R$ 200 bilhões por ano, se a gente comparar com o comércio, que fatura R$ 3 trilhões”, explica Dietze.
Eventuais perdas são rapidamente compensadas, segundo o presidente do Conselho de Turismo. “Sai uma pessoa e entra outra. Por isso a gente vê os aeroportos lotados, a hotelaria tendo recorde de resultados também, tanto de faturamento quanto de taxa de ocupação”, afirma.
Destaques
Todos os segmentos analisados apresentaram crescimento. O alojamento liderou a expansão, com alta de 12,7% e faturamento de R$ 13,6 bilhões, mesmo com a taxa de ocupação recuando para 53,5%, de acordo com o FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). O transporte aéreo avançou 10,6%, chegando a R$ 27,3 bilhões, impulsionado pela maior oferta de voos e pela queda nos preços médios das passagens.
Em junho, o faturamento total chegou a R$ 17 bilhões, avanço de 5,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, o maior já registrado para o mês. O transporte aéreo destacou-se novamente, com aumento de 12% e receita de R$ 4,45 bilhões.
Dietze projeta que a tendência positiva deve se manter, apoiada em novos investimentos e na ampliação da malha de transportes. “Está havendo mais investimento na hotelaria, ampliação da malha aérea, no rodoviário. Isso fará com que o setor siga num cenário positivo para o segundo semestre e para os próximos anos”, ressalta.
O executivo alerta, porém, para possíveis desafios regulatórios. “Tem reforma tributária que pode impactar o setor. Nós temos projetos de lei que acabam tendo interferência no dia a dia das empresas, como a própria questão da diária de 24 horas, que está sendo discutida agora no Congresso”.
Um projeto de lei aprovado na Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados propõe a adoção da chamada diária de 24 horas, que mudaria a forma de cobrança nos hotéis: em vez de horários fixos de check-in e check-out, a estadia passaria a valer por 24 horas a partir da entrada do hóspede. Mesmo com esses desafios, o diagnóstico segue otimista. “Os desafios não inibem todo o cenário positivo que a gente está vendo para o turismo nacional”, conclui Dietze.
Turismo internacional ganha força
Entre janeiro e agosto de 2025, o país recebeu 6,5 milhões de visitantes internacionais, crescimento de 46,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O número já ultrapassa o total de turistas que alguns países vizinhos receberam em todo o ano de 2024: Chile (5,2 milhões), Uruguai e Peru (3,3 milhões cada), segundo dados da ONU Turismo.
Esse desempenho marca o maior acumulado para os oito primeiros meses de um ano e deixa o Brasil muito próximo de atingir a meta anual de 6,9 milhões de turistas prevista pelo Plano Nacional de Turismo 2024-2027. Até agora, 94,6% do objetivo já foi alcançado.
Para Sabino, os números mostram a consolidação do país como destino global em crescimento. “O Brasil está mais aberto e conectado ao mundo do que nunca. Esses números mostram que nosso esforço em qualificação, promoção e estruturação do turismo está dando resultados concretos. Estamos não apenas alcançando, mas superando metas e colocando o Brasil no patamar que ele merece: o de potência turística mundial”, afirma.
O mês de agosto também registrou recorde histórico: 576 mil chegadas internacionais, alta de 37,8% sobre agosto de 2024, superando inclusive o recorde de 2016, ano dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, quando o país recebeu 537 mil visitantes no mês.
“Em apenas oito meses, nós já estamos muito próximos do recorde histórico de 6,77 milhões de turistas que chegaram ao Brasil em 2024. Nos próximos meses, todos os visitantes somam para batermos a marca de 8 milhões. Mudamos de patamar: o turismo hoje é uma indústria sustentável que gera empregos em todo o país”, comemora Marcelo Freixo, presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
O desempenho de 2025 também supera os números de 2016 a 2018, quando o Brasil recebeu entre 4,4 e 4,6 milhões de turistas nos primeiros oito meses do ano. O crescimento reflete ações do governo federal, por meio do Ministério do Turismo e da Embratur, voltadas à ampliação da conectividade aérea, diversificação da oferta turística e promoção internacional do país.
A Argentina segue como maior emissor de turistas, com mais de 2,6 milhões de argentinos visitando o Brasil até agosto. Chile (539 mil) e Estados Unidos (516 mil) vêm em seguida. Os europeus — França, Portugal, Alemanha, Itália e Reino Unido — somam juntos mais de 740 mil visitantes.
Entre os estados, São Paulo lidera a chegada de turistas internacionais, com mais de 1,8 milhão desembarcando pelos aeroportos do estado. Em segundo lugar, está o Rio de Janeiro, com 1,4 milhão de visitantes, seguido pelo Rio Grande do Sul, que já contabiliza mais de 1,2 milhão.
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