refinery02 Fábrica de chapéu virou hotel estiloso no Garment district de Nova York
(fotos: Christiane Kokubo)

Foi ali, bem ao lado, que nasceu a primeira semana organizada de moda do mundo. A Press Week, que mais tarde viria a ser renomeada New York Fashion Week, surgiu em 1943 das ideias e ações de Eleanor Lambert, jornalista do ramo. A ideia era chamar a atenção de colegas de ofício compatriotas que, por conta da Segunda Guerra Mundial, estavam impedidos de voar a Paris para checar as novidades da moda europeia. No chamado 'Garment District', o distrito do vestuário, era no Bryant Park que as passarelas eram montadas até o evento mudar de localidade, em 2010. O bairro começou a concentrar pequenas confecções ainda em meados do século 18, quando passou a ser mais produtivo, do ponto de vista dos donos de escravos, comprar vestuário do que disponibilizar tempo para que os trabalhadores confeccionassem suas próprias roupas. Depois, com a Guerra Civil Americana, também conhecida como Guerra da Secessão, uniformes de soldados expandiram a importância econômica do Garment District. Durante o século 20, o bairro chegou a ser responsável pela produção de 90% das roupas comercializadas nos Estados Unidos. Depois de alguns anos com manufatura em queda, em época de difícil competição com os custos d’além-mar (vide etiquetas 'Made in' países da Ásia em peças de marcas americanas), o bairro vem há algum tempo vivendo uma onda de revitalização. Prova disso é a abertura do Refinery Hotel, vizinho ao Bryant Park, em junho do ano passado. Por Christiane Kokubo*

refinery03 Fachada do Colony Arcade Building, que abrigou confecções de chapéus no passado

O tapete que leva o hóspede da porta de vidro ao balcão da recepção traz imagens de instrumentos de costura. De suspensórios, camisa xadrez, calça preta e gravata slim – para eles e para elas –, os recepcionistas carregam na lapela um broche de metal com penduricalhos em formato de tesoura, agulha, dedal, carretel e a fita métrica. Na parede ao fundo, instrumentos que um dia moldaram chapéus nova-iorquinos. O Refinery é um hotel butique independente que oferece 197 apartamentos. Para a inauguração, em maio de 2013, contou com consultoria da Highgate Hotels. Em uma das paredes, pinturas que expressam a criatividade de estilistas. Luminárias de grande porte e estilo no canto, sofás espaçosos, poltronas, móveis em madeira rústica. Partes do encanamento do antigo edifício viraram moldura na cabeceira da cama. A mesa de trabalho remete ao tempo em que o prédio abrigava a fábrica de chapéus, com o suporte de ferro como os de máquina de costura Singer. Da construção original, de 1912, restou o pé-direito alto nos apartamentos e a fachada, bonitona. À época de sua construção, o Colony Arcade Building, com seus 12 andares, foi considerado arranha-céu.  Sobre a mesa, as informações sobre serviços, horários e história do hotel estão impressos e formato de jornal, o Refinery Times, que traz ainda um mapa de Manhattan com pontos turísticos e anúncios da época da fábrica de chapéus. No texto sobre a história do bairro, o leitor aprende que a chegada da linha de metrô próxima ao hotel em 1918, na 7a Avenida e Broadway, ajudou a atrair para a região gente que vivia nos bairros do Bronx e Brooklyn, proporcionando mão-de-obra para plena capacidade de produção do distrito. O diretório oferece informações e opções que variam de serviços de babá a correio. Para receber pacotes direcionados a hóspedes, por exemplo, o Refinery cobra uma taxa que varia de R$ 5 a 20 dólares. A internet Wi-Fi, no entanto, é gratuita. Espalhadas pelas áreas comuns do hotel, obras de artistas locais. No andar térreo, o cliente encontra o Winnie’s Refined Spirits Lobby Bar – cujo espaço, no passado, serviu como salão de chá de madames –, e o restaurante Parker & Quinn, que tem acesso tanto pelo interior do hotel quanto por uma entrada independente pela rua 39. O café da manhã, não incluso na diária – como na maioria dos hotéis em Nova York –, é servido das 6h às 10h da manhã, e o restaurante fica aberto até as 23h. É da cozinha do Parker & Quinn que saem os pratos do room service do hotel, também até as 23h. A nova coqueluche do hotel, no entanto, está no topo. O Refinery Rooftop é o bar que fica na cobertura, inaugurado no ano passado no dia da independência dos Estados Unidos, 4 de julho. A vista privilegia o Empire State Building, um dos vizinhos do hotel. Segundo um estudo divulgado pela Jones Lang La Salle em 2011, 12% de todas as UHs de NY estão em um hotel com um bar no topo. “Bares em coberturas têm se provado altamente lucrativos em uma área que, tipicamente, era um espaço que não trazia receita”, diz a pesquisa. O do Refinery abre diariamente às 17h e, como é de praxe em estabelecimentos similares na cidade, está à disposição para passantes que querem tomar um drinque apreciando a vista do alto.  Para se hospedar no Refinery, a tarifa média está por volta dos US$ 339. Aos finais de semana, predominam turistas a lazer, enquanto em dias de semana homens e mulheres de negócio são os hóspedes majoritários. Setembro, outubro e maio são os meses de alta temporada na cidade e, mesmo com pouco tempo de abertura, o Refinery já chega a picos de 80% de ocupação média, segundo Laura Bombardi, diretora de Revenue Management do hotel. Ela atribui os bons números ao clima que o meio de hospedagem proporciona: "É um lugar diferente, com detalhes vintage e serviço para proporcionar uma estada relaxante, sem ser pretensioso". Na cartela de clientes, norte-americanos, britânicos, canadenses e australianos lideram. Entre os que mais acessam o site, os brasileiros já estão entre os cinco maiores mercados. Arredores O Refinery Hotel está a poucas quadras de duas estações de metrô, na rua 34 e na 42. Nova York é 55 anos mais nova que São Paulo – o britânico Henry Hudson aportou pela primeira vez na ilha de Manhattan em 12 de setembro de 1609 –, e conta com 468 estações. Caminhando, em menos de cinco minutos, o hóspede chega ao Bryant Park, que oferece dezenas de mesinhas disputadas por engravatados no horário de almoço – ao menos nos meses quentes. O parque divide o quarteirão com a imponente Biblioteca Pública de Nova York.

refinery59 Do topo do Rockfeller Center, a tentação para registrar a cidade por cima é alta

refinery60 O Estado de NY é conhecido como "The Empire State"

refinery61 Banksy, artista plástico inglês, fez circular pela cidade o Sirens of the lambs para questionar a indústria de carne

No Midtown, onde está o hotel, as opções são inúmeras. Madison Square Garden, com jogos esportivos, shows, concertos e peças de teatro, a história e o observatório do Empire State Building, além das atrações ligadas ao mundo da moda. Oficialmente, o Garment District se espalha entre as ruas 34 e 42 e entre a 5a e a 9a avenidas, ou seja, são 24 quarteirões de história ligada à evolução da indústria do vestuário norte-americano. Carolina Herrera, Oscar de La Renta, Calvin Klein, Donna Karan e Nicole Miller são alguns dos estilistas que mantêm showrooms pelo bairro. Caminhar pelo Garment District, seja apressadamente, somente de passagem, ou com calma observando os detalhes que remetem à época dos inúmeros ateliês e confecções de moda – ainda há cerca de 270 pequenas fábricas, que empregam 7 mil pessoas – pode ser sinônimo de apreciar, mais do que o terno bem riscado ou o corte perfeito do vestido, uma época e um estilo que valorizam o cuidado do cozer com tempo e capricho, seja para pregar o botão da camisa, fazer a barra da calça ou, como muito se fez no endereço do Refinery Hotel no início do século 20, dar forma a chapéus. Saem os artesãos das linhas e agulhas e entram os da acolhida. Seja para medir o contorno da cabeça ou providenciar o conforto da cama e do chuveiro, continua-se recebendo bem no Colony Arcade Building. Serviço Refinery Hotel 63 W 38th Street Nova York, NY 10018 Estados Unidos Tel.: +1 646 664-0310 [email protected] www.refineryhotelnewyork.com * A repórter do Hôtelier News hospedou-se no Refinery a convite do hotel.